Há alguns meses encontrei a Sônia Regina no supermercado.
Olhou-me como quem me achou gorda. Ultimamente tem sido assim, cismo de um modo
quase psicopata com o olhar alheio. Creio, a dieta da lua, aliada à dieta da
sopa, somada à dieta de líquidos, mais as escapadinhas “engordiet”
de final de semana, os banquetes divinamente preparados por Divo Latívio, tudo
isso me levou à tal da gastrite. Ite, esse tal de ite tem me perseguido:
gastrite, otite, sinusite, bronquite.
Cismei com o olhar da Sônia Regina! Engordar enlouquece
qualquer mulher diante do espelho! Louca ao tentar vestir, em vão, aquela calça
jeans entalada na altura dos meus quadris. Danada da vida ao tentar,
inutilmente, fechar o botão da blusa. E aquela jaqueta de couro caríssima pude
esquecer pendurada no guarda-roupa, quem sabe para o final do inverno, ou para
nunca mais?
E foi assim que decidi: dieta urgente! Li em uma dessas
revistas dirigidas ao público feminino que suco de couve é ótimo para
desintoxicar o fígado e um poderoso ajudante na missão quase impossível:
emagrecer! Limão, adoro isso! Dois limões espremidos e meia folha de couve, em
jejum. Depois, com o estômago queimando, caminhar duas voltas me arrastando pelo parque. Voltas lentas,
ultrapassada por senhoras idosas ligeirinhas, senhoras com idade para ser minha
avó. Não envelheci, creio que eu apodreci! Tudo emperrado, o que não arde, dói.
Como diria meu pai: estou no bico do urubu.
Sônia Regina, que deve viver internada em alguma clínica de
estética, não tem uma só ruguinha de expressão, os peitos são de silicone,
passou por mais de uma lipoaspiração. Aliás, ela não tem expressão facial, sorri
patética, parece a Barbie. No velório da Tia Madalena ela parecia sorrir, um
sorriso congelado, plastificado. Botóx,, muito botóx!
- E aí, querida, como está, Diva?
- Bem, obrigada e você, Sônia Regina?
- Casei, querida! E
você, ainda solteira?
- Eu nunca fui solteira, Sônia.
- Ah, é? Eu esqueci. Mas, quem é o...O...Felizardo?
- Divo.
- Que bom, na sua idade é uma bênção encontrar um chinelo
velho.
- Que idade, porra? (Desculpe o leitor, mas eu falei porra
pra Sônia Regina).
- Calma, querida! É que você é mais velha que eu... E
engordou um pouquinho, não é meu bem?
- Dois meses, cacete! Sou dois meses mais velha que você! E se
engordei isso é problema meu, porra ( de novo)!
- Nossa, seu palavreado mudou tanto...
- Mudou mesmo e dá licença que eu tenho que fazer minhas
compras.
Larguei a Sônia Regina com aquele sorriso congelado, ali,
entre as gôndolas de granola e iogurte natural zero. Fui resmungando outros palavrões, que prefiro não publicar aqui.
Cheguei em casa e fiquei pensando: "tenho que emagrecer"! E
foi assim que parei no suco de limão com meia folha de couve, seguido da
caminhada lenta, aos trancos e barrancos, lá no parque do Tereré.
Moral da história? Caro leitor, cara leitora, tive diarreia súbita
e fulminante na segunda volta no parque, isso outro dia. Vim pra casa, podia
escutar o som da coisa a escorrer pelo meu par de tênis novinho: shuépt ,slépt.
Algo constrangedor. Dois quarteirões infinitos até minha casa.
Fui ao médico e tudo o mais culminou na endoscopia. Já fez
endoscopia? Quem fez sabe como é, quem não fez... Ah, deixe isso pra lá.
Amanheci como quem engoliu um guarda-chuva que abriu dentro do estômago. Algo
mais ou menos assim.
Evidente que agora emagreci! E eis, ao mesmo tempo, a
explicação para o meu sumiço. Diva Latívia, com uns quilinhos a mais e os
nervos à flor da pele, andava por aí se arrastando em parques e brigando em supermercados.
Li um dia desses que há exatos cem anos o modelo de mulher
ideal era a dona com 1,70 de altura e 77 quilos. Isso mesmo, uma cheinha com
sobrepeso era ícone de formosura. Essa era a gostosa dos sonhos masculinos e femininos há um século. Creio, daqui a cem anos, uma
mulher com 1,80 de altura e 55 quilos estará completamente fora dos padrões de
beleza. Sinto que cheguei ao mundo
atrasada, eu seria modelo sexy de fotos em preto-e-branco, daquelas câmeras
fotográficas que pareciam explodir a cada clic, com direito a estouro e fumaça. Talvez, meio magrinha para os padrões. Eu, magrinha... Ai, ai!
Termino a prosa aqui, com a certeza de que, aos poucos,
retomarei o antigo ritmo de publicações neste blog. Sem muitas dietas malucas,
nem muitas endoscopias. Aos poucos, menos quilos,mais textos, assim manda o meu
novo figurino.Sem tantas ites, especialmente a malvada celulite. Até breve!