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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







27 de mai. de 2013

LUA DE OUTONO


A noite de outono estava fria. A serra, em noites de lua cheia, faz graça e desenha um dos mais belos espetáculos da natureza.  O brilho das estrelas contrasta com o negro do infinito. A lua cheia desponta entre nuvens e parece tocar o topo das montanhas. Cor cintilante enluarada.
Naquela noite o vento soprava friozinho, respirei fundo e mergulhei nas minhas lembranças, flutuei em músicas que adoçaram momentos inesquecíveis, em todo o romantismo que então me faltava. Um cenário perfeito para um beijo perfeito, assim imaginei. A lua poderia ser uma discreta testemunha. Viajei nas lembranças, senti em meu peito todo o querer bem aprisionado, contido.
Decidi me aquecer perto da lareira, eu e uma taça de vinho tinto. A beleza do fogo a consumir a lenha,  por fim esqueci do tempo, das horas e antes de adormecer nos braços da saudade pedi à lua que levasse um sinal, um sentido, um toque que o fizesse de mim recordar. Lua cheia redondinha,  naquela noite eu o encontrei em sonhos e dançamos ao luar. Lua cúmplice faceira, lua confidente mensageira.

20 de mai. de 2013

CORAÇÃO PARTIDO


A penumbra do ambiente, a luz da luminária antiga. Sua cabeça doía e parecia brincar de roda, um gira-gira de lembranças que iam e vinham e a assombravam. A janela do terraço restava aberta, o vento espantava a cortina de renda, que rodopiava assanhada a derrubar os enfeites de cristal sobre a mesa lateral. Cristal quebrado, admirou impassível os minúsculos pedacinhos coloridos espalhados sobre o tapete. Assim era a sua história, a sua vida, assim estava o seu coração: partido!
Todos os amores deveriam nascer com um certificado de garantia eterna. Amores deveriam ser infinitos e intensos, mais e mais, a cada dia. Suspirou e enxugou outra lágrima. Olhou para o relógio e percebeu que ali estava, praticamente jogada sobre o sofá, desde as cinco horas da tarde. O tempo parecia paralisado, ela não notou o caminhar das horas. Tratou de enxugar as lágrimas, recolher os minúsculos pedacinhos de cristal, fechar a janela. Antes de chegar ao quarto, escutou o som da chave a rodar na porta de entrada. Era ele!
Amores deveriam morrer silenciosamente e à seco. Sem choro, sem lágrimas, sem gritos, sem apelos patéticos. Amores deveriam morrer dignamente. Seu coração acelerou, sua cabeça parecia querer explodir. Perdeu o controle de si. Seus gritos foram escutados em outros apartamentos, em outros andares. Enfurecida, magoada, ensandecida. Havia ainda um sentimento qualquer dentro de si, algo que implorava: “ por favor me ame, não me deixe! “. Amores deveriam ser recíprocos!
A dor do adeus, para vida, ou para a morte, é lancinante. Dizer adeus, nunca mais saber se aquele alguém está feliz, ou triste. Se está resfriado, ou se viajou novamente. Se ainda bebe café com cinco gotas de adoçante, ou se continua escutando as mesmas músicas. Perder alguém, perder-se de alguém para a vida! Adeus...
Ele passou ligeiro pela sala, atravessou o corredor e fechou-se no quarto.  Não mais que meia hora e saiu de lá carregando duas malas e uma sacola. Falou qualquer coisa sobre o advogado, a separação. Teimosas lágrimas, outra e outra a escorrer por seu rosto. Olhos inchados, mãos trêmulas. Quis dizer alguma coisa, balbuciou seu nome. Ele saiu pela porta sem olhar na sua direção. Foi embora sem dó e rapidamente. Pelo terraço do apartamento ela conseguiu vê-lo entrar no carro, lá embaixo, na calçada do lado oposto da rua. Acenou, ele não a viu. Adeus... Todo adeus deveria durar apenas uma fração de segundo e ser sucedido por uma reconciliação calorosa e feliz.
Amor, feito rosa, desabrocha lindamente e, um dia, se esvai. Pra onde irão os amores desfeitos, cujos laços se desmancharam pela vida, ou pela morte? O sol voltou a brilhar no dia em que derramou o olhar sobre um outro alguém. Feito roseira, uma nova flor despontou em botão, um recomeço, o papel do amor a se executar outra vez. O perfume das rosas é eterno, as flores são mortais. Que pena, os amores bailam na vida em um vem e vai, brotam no olhar, na voz, nas palavras todas e morrem no adeus, a esperar uma nova primavera em flor. Adeus...

17 de mai. de 2013

O ÚLTIMO CAPÍTULO DA NOVELA SALVE JORGE


O dia amanheceu friozinho e chuvoso na cidade de São Paulo. Sexta-feira que convida a um final de dia em casa, enroladinha no abraço de alguém querido, ou sozinha, mas bem acompanhada da novela Salve Jorge, em seu último capítulo.
Sei que muita gente se recusa a assistir às telenovelas, não apreciam essas tramas e declaram que telenovela “emburrece” e não é arte. Discussão a respeito desse tema à parte, eu assisto às telenovelas sempre que encontro um tempinho. Difícil deparar-me alguém que não oculte sua espiadinha nas novelas, tem gente que age como fosse candidato à Academia Brasileira de Letras, cultíssimo e avesso à estória que rolou na Turquia. No salão da minha cabeleireira posso revelar esse meu prazer televisivo e descobrir o que aconteceu no capítulo de ontem, que não pude assistir. O povo gosta da novela e eu também!
Salve Jorge não é minha novela preferida, mas o tema da novela é excelente. Tantos jovens caem na armadilha de criminosos ligados ao tráfico humano! Todo alerta, toda denúncia salva vidas. Tenho a personagem que mais gosto na novela, interpretada pela atriz Giovanna Antonelli,  a delegada Helô, com quem me identifiquei, quem me conhece sabe o porquê. Dizem que, parece, copiaram meu jeito, meu estilo e criaram a Helô. Acho divertido e, lá no fundo, me identifiquei com a tal delegada e seu jeito firme e desajeitado, tudo ao mesmo tempo.
Hoje a noite friazinha paulistana promete vinho, queijo e Salve Jorge. A novela imita a vida, a arte imita a vida e eu, com uma tacinha de vinho e uma mantinha de lã não perderei esse último capítulo por nada. Salve Jorge!

9 de mai. de 2013

MÃE ( Dia das Mães)


Quando escutei o chorinho daquele que tinha acabado de sair do melhor lugarzinho do mundo ( o meu útero), eu me senti gigante! Eu, mãe!  Grandiosa sensação! Eu, mãe de um sujeitinho que pesava 3,100kg e que parecia impaciente, parecia querer depressa conhecer aquela que tanto o mimou e ninou durante a gestação, ao acariciar a barriga e a chamá-lo por seu futuro nome: Gabriel. Longos nove meses de espera e ali estava ele, em meus braços. Parecia me reconhecer, tocou meu rosto, segurou meus lábios e olhou fixo dentro dos meus olhos. Ficou ali selado o mais puro, perfeito e infinito de todos os amores que vivenciei neste mundo: eu, mãe do Gabriel.
A vida passa, o mundo dá suas voltas. Impossível controlar o destino, impossível deter o crescimento de uma criança. De garotinho a adolescente, de adolescente a adulto. O tempo correu ligeiro, virou suas páginas. Meu menino é um belo homem. Menino, pra mim sempre um menino que tento proteger com o mesmo calor que o  embalou ainda recém-nascido, protegido junto ao meu peito. Mãe, eu mãe!
A vida é uma espiral sem fim. Eu, mãe e filha. Eu, mãe e neta. A saudade sem alívio, a ausência de minha mãe, de minha avó. O céu estrelado e meu olhar a buscá-las no firmamento. Missão sublime, a maior honra que um ser pode receber nesta existência: ser mãe! E eu, mãe, tudo o que peço neste dia é que meu menino sempre volte pros meus braços e que no meu abraço ele, um homem dono de seu nariz,  volte a ser criança. Saudade dos abraços de minha mãe, de minha avó, saudade de ser menina. Mãe!

Desejo a todas as Mães a alegria de ter seus meninos  e meninas em seus abraços: MÃES! Parabéns pelo seu dia!


1 de mai. de 2013

DIA DO TRABALHO: O AMOR À PROFISSÃO


Dia do trabalho, ou dia da preguiça? A maioria das pessoas não trabalha neste dia, feriado celebrado com horas a mais de sono, passeios pela cidade, viagens, idas a restaurantes, almoços em casa, ou visitas a amigos e parentes.  Como diria a Nona: “il dolce far niente”, traduzindo: curta seu feriado, divirta-se!
Trabalhar, eu escutava esse verbo aos catorze, quinze anos de idade, como quem escutava falar do resto de toda minha vida. O que eu seria um dia? Vocação é algo sagrado, quem exerce seu ofício com dom apaixonado e apaixonante  simplesmente não trabalha, vive! E eu, ainda que em tão tenra idade, tinha essa noção da diferença que existia e sempre existirá entre realizar um ofício para ganhar o pão de cada dia e realizar o mesmo ofício com a habilidade e o amor de quem nasceu para exercê-lo.
Desde criança eu fui levada pelas mãos de meu avô, um renomado advogado da época, a fóruns, adentrava em salas de audiência puxada por suas mãos rechonchudas, era apresentada aos magistrados, que deixavam de lado suas expressões sisudas e sorriam simpáticos pra mim.  Jamais esquecerei uma cena: eu miudinha, com não mais que quatro anos de idade, sentada sobre uma mesa do Fórum João Mendes, atual Foro Central de São Paulo, caixa de bombons que ganhei em mãos e feliz a beber guaraná. Some-se a isso que eu dizia que, quando crescesse, seria médica pediatra, o que acalentava o sonho irrealizado de minha mãe e minha avó, donas de casa de meados do século 20, que se dedicaram ao lar, doce lar, enquanto suas verdadeiras vocações foram deixadas pra lá. Talvez, isso explique o motivo de algumas mulheres do passado terem se tornado amarguradas.
O tempo passou, saí de cima da mesa onde bebia guaraná e fui para detrás do balcão, sem mais observar sorrisos simpáticos. Ganha pão! São agora quase trinta e três anos de profissão, todos esses anos no mesmo emprego. A aposentadoria aponta no horizonte a acenar pra mim. Dezembro de 2013, dentro de sete meses poderei mudar para o lado de fora do balcão e, quiçá, levar meus futuros netos a passeios divertidos pelos corredores da Justiça de nosso país. A vida se repete.
O que farei depois da aposentadoria? Essa pergunta passou a atormentar meus pensamentos todos. Ficar em casa é ótimo, mas apenas por algumas horas. O mundo ferve e eu sou borbulha a mais de mil graus de temperatura. Um dia desses deparei-me com um teste vocacional on-line, em um desses sites destinados a estudantes prestes a ingressar nas universidades. Há mais de quarenta anos eu fiz um teste vocacional, isso no colégio de freiras onde eu estudava. O resultado foi medicina, ou jornalismo. Azeite, ou vinagre? Par, ou ímpar? Não pude levar a sério o resultado, tamanha diferença que imaginei entre as duas profissões. Deixei de lado o resultado e tratei de seguir o meu caminho: Direito, mundo das leis, dos parágrafos, artigos, códigos, decretos, mundo perfeito em letrinhas e imperfeito em ações. Mundo que eu conheci a saborear guaraná e que avistei  aos quatro anos de idade,sentada sobre mesas onde ninguém ousaria jamais recostar-se. Desiludida, afinal de guaraná a fel a vida mudou muito com o passar dos anos, agora eu me pergunto:  o que será que eu vou ser quando me aposentar? O quê? Veja bem, caro leitor, cara leitora, essa é a pergunta que eu faço e que muitos se fazem neste momento da aposentadoria. O que fazer com o resto da vida, que ainda haverá de durar no mínimo três, quatro décadas?
Fiz o teste vocacional on-line. Tratei de ser sincera ao responder todos os itens, um a um, inclusive algo sobre preferir morar sozinha a morar com meus pais ( a esta altura dos fatos, morar com meus pais significaria morar na terra dos pés juntos). Quando vi o resultado, tentei imaginar o que teria sido de mim, de minha história, se desde a época em que eu fazia meu número das perninhas cruzadas a beber guaraná nas salas de audiência,  eu soubesse que nasci para ser atriz, cineasta, ou escritora. E encontrei a explicação para a minha teimosa mania de escrever neste blog: vocação! Escreverei  meu ganha pão, essa será a minha profissão!

Hoje, Dia do Trabalho. Dedico este texto a meu avô, José, que me ensinou o valor do exercício apaixonado e honesto da profissão.