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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







25 de out. de 2015

A FOTO DE NÓS DOIS ( O AMOR E O FIM DO AMOR)

Veja este retrato. Nós dois na foto desbotada pelas décadas. Invulneráveis, pensávamos assim. Amor eterno, paixão renovada pela esperança de um futuro planejado entre risos e beijos. 
A foto do primeiro Natal, lembra desse dia? O dinheiro contado. Presentes tão simples, mas havia amor. Amor... Quando paramos de nos amar? Eternidade, a vida se exibia eterna. Quando começou o nosso fim?
Olho para esta foto e o meu coração aperta. Sonhos findos, planos interrompidos. Fomos derrotados por nós mesmos. Mas o amor segue em versos, mundo afora pelo Universo. Para quem? Para onde foi o nosso amor?
Amor que vai além de mim e ecoa aqui, sem ti. Consegue ver? Está aí? Aqui está a foto de nós dois.

9 de out. de 2015

JÁ QUE É DIA DAS CRIANÇAS...

Parei em frente ao notebook, a digitar e depois deletar palavras que não alcançavam a dimensão do que eu gostaria de escrever sobre ser criança.
Quase todas as conversas atuais que tenho com meus irmãos desemboca na seguinte conclusão: sentimos saudade de nossa infância.
Acho que a vida nunca foi fácil, se hoje é complicada eu creio que para nossos pais e avós não foi diferente. No entanto, esses personagens de minha família deixaram muita saudade, fizeram o papel de super-heróis, às vezes vilões incompreensíveis com suas “adultices” esquisitas.
A infância tão distante, mas tão presente.  Cresci entre gente, bichos, árvores e histórias sem mais fim.  Uma casa cor-de-rosa, com a qual sonho de modo reiterado. Nesses sonhos, meus irmãos e eu somos imortais e nossos finais são sempre felizes.
Meus dedos hesitam sobre o teclado do notebook. Um dos meus irmãos faleceu recentemente. Bebo um copo d´água, respiro fundo, tento afastar a tristeza das palavras que parecem fugir, todas elas enlutadas.
Rio sozinha, estou velha. Sim, velha! As fotos do passado são em preto-e-branco e os adultos ali fotografados, quase todos eles, já se foram para o outro mundo.  Ainda não sei o que farei com tantos objetos antigos que herdei, os apartamentos modernos são minúsculos e eu não tenho espaço disponível para guardar as lembranças, senão dentro de mim.
Se fecho os olhos consigo sentir o aroma dos livros do meu avô, no escritório de advocacia enorme instalado na parte de trás de nossa casa. Dez mil livros e eu sentia algo que hoje posso definir como “um grande barato” em meio a prateleiras altíssimas lotadas de volumes e mais volumes de códigos, leis, tratados, pareceres jurídicos. Tanto tempo, tantos anos, resta o sabor do suco de frutas batido no liquidificador, oferecido às crianças pontualmente às dez horas da manhã. Afasto-me do computador, ajeito-me na cadeira. Uma confusão que envolve  os livros, o suco de frutas, as árvores, a casa cor-de-rosa, os adultos, meus irmãos, eu criança. Às vezes eu tentava imaginar como eu seria quando crescesse. Escolho os sonhos, neles os finais são felizes, nos sonhos há a imortalidade, a viagem ao passado sem qualquer explicação lógica. 
Palavras não traduzem a ausência de todos nós, uma família que sorri inocente nas fotos em preto-e-branco. Melhor guardar novamente essas fotos. Melhor! Que ser criança seja uma escolha atemporal. Todas as vezes que vou à livraria me perco entre as prateleiras, esqueço as horas e o aroma dos livros me leva de volta ao passado. A ideia deste texto brotou na livraria, acho que falei sozinha quando a inspiração me atiçou sem piedade: - Sou o que aprendi a ser. 
No moderno notebook termino o texto e me apresso em publicá-lo no blog, antes que eu o delete novamente.