É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.

Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







7 de jan. de 2016

NO TÁXI ( Eu, senhorita)

O táxi dirigido por um senhor de cabelos brancos. Calculei que, possivelmente, tinha idade para ser meu pai. Talvez, setenta e cinco anos. Simpático, tom de voz de barítono. Olhou-me pelo espelhinho retrovisor. 
- Farei uma corridinha curta, espero que não se incomode.
- Se pagar, não importa a distância.
Fez-se longo silêncio. Abri a bolsa, peguei o iPhone para checar as mensagens.
- A senhorita trabalha na Avenida Paulista?
Apreciei o tratamento recebido. Eu, senhorita...
- Não, senhor.
Voltou a olhar-me pelo espelho retrovistor. 
- A senhorita é médica?
Achei graça. Dizem que de médicos e de doidos todos temos um pouco. Quase respondi que sou doida.
- Não, eu sou escritora.
Não sei por qual motivo disse isso. Minha profissão é outra, mas de vez em quando eu escrevo. Não é que o motorista levou isso muito a sério?
- A senhorita escreve para qual jornal?
- Escrevo para o meu blog.
- Blog? A senhorita é jornalista?
Quanta vontade de inventar uma estória. Mas, sou mais dedicada às histórias, então disse a verdade: não, senhor. 
-Vou adivinhar: a senhorita é atriz? Balancei a cabeça no sentido horizontal, pra lá, pra cá.
Muito arrependida da minha sinceridade, abri meu melhor sorriso e disse: estou aposentada.
- Tão jovem, tão bonita. Aposentada tão cedo, que pena! Mas, namora? A senhorita sai para dançar?
Namorar e sair para dançar. Realmente, estou aposentada. Tão casada e tão sem dançar, acho que perdi o rumo da prosa com o meu interlocutor.
- Afinal, a senhorita deve fazer sucesso por onde vai. Jovem e bonita.
E foi então, como diziam os antigos ( tão antigos quanto eu), que a minha ficha caiu. O motorista da terceira idade estava me paquerando.
- Não senhor, eu não tenho tempo.
- Uma pena, uma moça tão jovem e tão linda deveria dançar em Paris, com champagne e caviar. 
Meu ego, pobre coitado, até acordou e, de tão saltitante e feliz, precisei segurá-lo para não sair voando pela Avenida Paulista.
Cheguei ao meu destino, como se pesasse cinco quilos a menos, tivesse dez anos a menos. Pensando bem, cheguei ao meu destino a própria Senhorita Diva Latívia. Poderosa, em cima do salto. Escritora deste blog, estilo comigo ninguém pode.  Para dizer a verdade, esse motorista salvou meu dia! Dançar em Paris com champagne e caviar. Ideia um tanto "brega", mas gostei!

5 de jan. de 2016

AVENTURA NA LIVRARIA ( Eu, pessoalmente)

E eu na livraria, que pra mim é uma espécie de ilha no Pacífico, com direito a muita diversão e bendita abstração de todos os demais seres humanos do planeta.  Não sei há quantas horas eu perambulava por ali, no delicioso mundinho das letras. Acomodei-me em uma poltrona e estava lendo ( relendo) Oliver Twist, de Charles Dickens. Justamente naquele trecho em que o leitor abomina do fundo da alma o vilão Fagin, fui cutucada no antebraço por alguém desconhecida: - Oieeeee.
Caro leitor, cara leitora, ela não disse "oi", mas sim "oieeeeee" com vários eeee, infindáveis eeeee que me trouxeram de Londres ao Brasil,  do passado ao presente, do mundo de Oliver para o mundo de Cláudia em uma fração de segundo. Pulei de susto.
Ela disparou em alto volume:  -  Te conheço!
Abriu um sorriso imenso. Tentei recompor-me, ajeitei-me na poltrona, fechei o livro sem marcar a página. Fiz o possível para disfarçar o espanto. Não a reconheci, não sabia quem era a moça sorridente.
- Você é a Diva!
Ouvir isso foi como levar um tranco, meu estômago gelou. Como alguém estranha sabia que sou a Diva? Creio que apertei fortemente o exemplar de Oliver Twist contra meu coração. - Socorro, Oliver!
- Que legal! Prazer, sou a Marina. Sou sua fã! Eu leio tudo o que você escreve. Gosto daquela sua história no acampamento. Pô, esses seus sobrinhos são sem noção, né?  - Poxa, você é bem jovem, né? Pensei que fosse mais velha. - É mais bonita pessoalmente!
Ela parecia uma metralhadora de palavras. E eu estava surpresa, jamais alguém havia me reconhecido a partir do blog.  Levantei-me, convidei-a para um café. Com os olhos de minha leitora grudados em mim, como se eu fosse um alienígena, tomamos o café praticamente em silêncio. Eis que ela começou a fazer muitas perguntas.
- É verdade que você teve dor de barriga na rua?
- Sim, algumas vezes.
Feliz, ela pareceu feliz com a confirmação.
- E é verdade que você ficou presa no banheiro feminino? 
Sim, fiquei.
- Diva, você é doida, minha "ídola", eu te amo!
Comecei a me preocupar, ela realmente havia lido alguns textos antigos que escrevi, mas parecia muito esfuziante. Olhei para os lados, seria aquilo uma espécie de "pegadinha"?
- Marina, vamos fazer o seguinte. Vou comprar pra você, de presente, este livro que eu estava lendo. Já leu Oliver Twist?
Silêncio.
- Prefiro um livro seu, tem algum livro seu aqui?
Infelizmente, não terminei meu primeiro romance, como dizer pra garota que tudo o que escrevo não está publicado de modo tradicional e que metade do que escrevo está publicado no blog?
- Posso fazer uma dedicatória pra você neste livro, o que acha?
Não ficou exatamente satisfeita, mas gostou da dedicatória: 'Para Marina, com meus votos de boa leitura. Um abraço, Diva Latívia".
Marina, quando meu primeiro livro for publicado você receberá um exemplar com minha dedicatória. Naquele dia eu tinha escolhido a livraria para me esconder do mundo. Você ali chegou para me fazer pensar no quanto é popular meu blog e o quanto minhas palavras influenciam as emoções de pessoas anônimas. 
Este texto escrevi pra você, mas pertence a todos os leitores. Mande lembranças minhas para Oliver Twist.

Diva Latívia ( Cláudia)