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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







6 de dez. de 2017

O CAMINHO DAS LÁGRIMAS



Para onde irão as lágrimas quando elas evaporam?
As mãos úmidas a tentar contê-las...
Para onde irão nossos sentimentos incompreendidos?
Nossas lágrimas contidas, soluços sem voz. 
Cada pranto, cada instante, para onde irão nossos momentos?

25 de jul. de 2017

DIA DO ESCRITOR: EU PROTESTO!

Hoje é o dia do escritor. Autora do blog Diva Latívia, autora do antigo blog Janela das Loucas, tenho publicações em três coletâneas de contos e crônicas. Escrevi um romance não publicado. E esse fato, a não publicação do romance, passa pela indecorosa proposta de editoras, das menos conhecidas às famosas, com editores carniceiros, que apenas visam o lucro e nada mais. Desisti de publicar o livro, que cá entre nós, é bem melhor que as novelas da Globo, ou poderia ser uma ótima novela das 18 horas da Globo. 
Mas, o que faz essa gente que alcança um lugar estreito ao sol, que faz parte de um rol tão asfixiado e miúdo, com acadêmicos e autores que jogam confetes nas próprias cabeças e nas cabeças uns dos outros? Quais são os critérios para que uma obra seja publicada? 
Ser prostituta, com todo respeito à dita, mas ser Bruna Surfistinha e publicar um livro, isso é um caminho rápido para ter um livro publicado e se tornar campeão de vendas. 
No Brasil não existe uma faculdade de Criação Literária, apenas cursos de extensão, breves. Não há a formação universitária de escritores, como existe em países considerados de primeiro mundo. O que temos aqui é a faculdade de Letras, para a formação de professores, tradutores. E os escritores? Ah, os escritores... Nada para eles, nada para mim!
Abílio Manoel, falecido e querido amigo, abriu para mim o caminho, quando com seu talento e enorme generosidade me fez Diva Latívia, que fazia o público, cada dia maior, rir das desventuras de uma solteira à caça de um grande amor. Uma personagem, que deu origem ao meu blog.
O meu livro se tornou um projeto guardado. No Brasil não temos espaço para crescer. Não temos incentivo paras as artes e, quando há esse incentivo, é para alguns e, dificilmente, para a literatura. Ainda bem, cursei Direito. Ainda bem, tive outra profissão. Senão, quem sabe, estaria eu agora debaixo de alguma ponte, escrevendo poesias anônimas. Essa é a vida do escritor brasileiro. Vida de fome de reconhecimento. 
Este é o meu protesto, neste dia triste para meia dúzia de gatos pingados que podem comemorar!

Cláudia Cavalcanti ( Diva Latívia)



3 de jun. de 2017

DIA DOS NAMORADOS, SÓ QUE NÃO...

Dia dos namorados chegando. A pergunta que aqui chegou foi a seguinte: Diva, gente casada também comemora o dia dos namorados?

Caros leitores,

A imensa maioria das respostas para as suas indagações é por mim buscada no imenso arquivo de minhas próprias experiências. Aventuras, desventuras. Algumas antigas, outras recentes.
O último dia dos namorados, desse dia jamais esquecerei. Casada, enrolada e complicada, imaginei comemorar a data de um jeito econômico, porém romântico. Preparei um jantarzinho, acendi velas pela casa, ajeitei flores em um vaso de cristal e, para deixar o clima ainda mais festivo, escolhi música romântica, Seal cantando essas canções que a gente está cansado de ouvir.
Coloquei um vestidinho pretinho básico, salto alto, cabelos soltos, caprichei no perfume. Olhei para o relógio, passava das 21 horas e nada do meu marido chegar em casa.
Quase 21:30 achei estranho ele tocar a campainha, afinal tinha a chave da porta. Corri à frente do espelho, para checar o visual. Ele, impaciente, tocou mais duas vezes a campainha e pude ouvi-lo gritar qualquer coisa assim: - Abre logo essa porrr.... Porta ou outra coisa? Preferi entender “porta”.
Fiquei na pontinha dos pés e pude vê-lo pelo olho mágico. Havia algo em suas mãos. Fração de segundo e imaginei o que poderia ser: flores? Talvez, roupa da minha loja preferida? Champanhe?
Respirei fundo com ele chamando a porta de porra. Feio isso, dizer palavrão no corredor do apartamento, vai que as crianças do apartamento vizinho escutassem, não é mesmo?
Finalmente, com o coração aos pulos abri a porta e, antes mesmo de ouvir boa noite, ele me estendeu o que segurava nas mãos.
Sabe aquela sensação de ter tirado nota 5 na prova de matemática, depois de estudar dia e noite? Ou, a sensação de ter chovido no dia da festa preparada no quintal de casa? Foi mais ou menos essa a sensação.
O pacote enorme de rolos de papel higiênico, ele havia comprado em um atacadão, esses que vendem tudo em imensas quantidades. E havia mais: desinfetante, água sanitária, detergente e sabão em pó. Ia me passando a tralha toda, enquanto eu me equilibrava no salto alto.
Conforme ele ia me entregando a mercadoria, eu segurava o riso. Por fim, eu estava gargalhando. Provavelmente, riso nervoso. E ele, com ar indignado a me perguntar se eu estava louca. Demorou uns dez minutos para perceber que eu havia acendido velas. Tudo o mais precisei explicar, praticamente desenhar. Ele nem sabia que era dia dos namorados, aliás, não entendeu por que não o avisei previamente. Como se esse dia fosse algo exclusivo, pouco comemorado por aí.
Apaguei as velas, tirei o salto alto e calcei chinelos, prendi os cabelos e juntos bebemos a garrafa de Malbec por mim escolhida. Não antes de guardarmos toda a compra em prateleiras e armários diversos. Nada melhor que cumplicidade, fala sério, quanta originalidade, quem mais ganhou um fardo de papel higiênico nessa data? 

Casados celebram o dia dos namorados? Sim. Mas, às vezes, é melhor avisar com antecedência. Há exceções, mas só por precaução, fica a dica.

11 de mar. de 2017

SERES DIGITAIS

Meus filhos são seres digitais. Pode escrever sobre isso no Diva?
Confesso que em menos de dois minutos comecei a redigir o texto. A conversa que nós duas tivemos foi digital, não sei se ela percebeu isso. Mãe de jovens, essa amiga queixou-se que as novas gerações substituíram palavras verbalizadas por palavras digitadas.  A situação é a seguinte: você quer saber onde está seu filho? Envie um WhatsApp e espere que ele leia e responda a mensagem. Às vezes, ele está no quarto ao lado, mas você não se atreve a adentrar naquele território onde não será bem-vinda a sua presença. Enviar um WhatsApp e perguntar se está com fome, por exemplo, pode parecer a princípio algo absurdo, mas costuma resolver o problema. Um mundo com sabor de isopor, de plástico, na tela de um celular.  É amargo ter filhos digitais. Onde será que perdemos o fio da meada?
Enquanto digitava este texto chegou uma mensagem para mim. Uma sobrinha no WhatsApp: “Aê, blz? Parabéns, bj”. Li e reli. Parabéns? Não era meu aniversário, nem havia ocorrido algo especial comigo. Respondi: “Oi, querida, quanta saudade. Você está bem? Meu aniversário foi em janeiro, mas muito obrigada. Beijos”. Duas horas depois ela respondeu: “Foi mals, msg errada”. Só isso, mals com S no final, com L pelo meio, mensagem errada, grafia errada e para a destinatária errada. Precisei concordar com minha amiga: seres digitais. Se ao menos a gramática fosse respeitada, isso seria um alento. Melhor seria que não escrevesse nada.
No metrô observei os passageiros, a maioria deles a digitar palavras em seus smartphones. Hipnotizados, dominados pela realidade virtual, dedos ágeis a clicar na tela dos minúsculos aparelhos, expressões faciais congeladas, olhos presos e sentidos alheios. Senti angústia, lembrei do livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.  Será epidemia, será doença, será demência, será sinal do fim dos tempos? Onde está a realidade com olhos nos olhos, sorriso largo, beijo real, abraço gostoso, sem interrupções para mexer no celular, sem aquele sininho irritante e insistente que avisa a chegada de nova mensagem?
Ela só disse ao filho que iria ao pronto-socorro, o pé doía terrivelmente. O garoto não se ofereceu para acompanhá-la, estava ocupado, entretido e batendo um papo com alguém. Digitava ligeiro, de vez em quando ria.  O menino levantou-se do sofá, rumou para a porta da saída de casa, sem tirar os olhos do que lia e respondia.
Não é incomum isso. Parece que um alienígena abduziu pessoas, deixou no lugar androides que são alimentados pela luz dos smartphones. Esses androides só riem para a tela do aparelho, só se comunicam por digitação, eles dão ordens do tipo “quero almoçar”, ou “quero que passe a camisa xadrez”, “compre isso pra mim”. As poucas palavras verbais que proferem são breves, insensíveis e desconectadas da realidade órfã de pais atônitos.
Como disse Raul Seixas: "pare o mundo que eu quero descer!". Quero descer em um mundo que se comunique com palavras ditas por bocas benditas. Um mundo que se enrosque em abraços longos e salvadores. Um mundo com tempo suficiente para conversar sobre tudo e sobre nada, sem pressa, no banco da praça. Quero um mundo de afeto retribuído, com pessoas livres desse cativeiro digital. Um mundo realmente novo.


11 de fev. de 2017

PASSARINHOS NO TELHADO

Clareou o céu na cidade de São Paulo.  Entre cinza e azul nuvens esfiapadas desfilavam sobre os edifícios.
No topo de um prédio vizinho, um passarinho cantava bem-te-vi. Bebi um gole de suco de laranja e continuei a ouvir o chamado insistente: bem-te-vi, bem-te-vi! Vieram mais dois pássaros da mesma espécie. Pareceram confabular sobre um plano de voo. Ajeitaram-se, abriram as asas, remexeram-se. Em sicronia perfeita bailaram em direção a uma árvore no cruzamento das avenidas. Bem-te-vi!
Um após o outro voou sobre o semáforo e rumou para o telhado da padaria. Ciscaram, piaram, esconderam-se atrás do edifício em construção. Meu olhar acinzentou e não mais os viu.

25 de jan. de 2017

CASAMENTO: QUANDO UM QUER, MAS O OUTRO NÃO QUER

O que fazer quando ele não quer casar, quando ela não quer casar? Um namoro deveria rumar pra um compromisso sério, sem passos trôpegos, sem divergências estruturais. Inevitável que, diante dessa divergência de objetivos, aconteça uma cisão, um abalo no relacionamento.
Tenho escutado, feito um mantra em meus ouvidos, a seguinte afirmação: casamento não serve pra nada, pra quê casar? . Quanto mais escuto, mais penso no quanto é importante a comunhão de esforços, o mesmo ritmo, a mesma intenção, para que o relacionamento valha a pena, seja feliz, faça sentido.
Tem que ser bom para os dois. Sem brigas, sem mágoas, sem medos. Tudo claro, simples e conversado. Um não quer casar, o outro quer casar. O que fazer? Há duas alternativas, as mais evidentes: parar ou continuar. Um dos dois vai abrir mão de algo, sacrificar o que deseja pra si, em prol do casal. E quem ama se sacrifica em favor do par. Até que ponto isso é bom? Um casamento que começará assim, com um sacrifício da vontade, abrindo mão do que se quer pra si, poderá ser um casamento feliz?
Dessa falta de união de objetivos, surgem dúvidas que machucam muito aquele que escuta as negativas: será que sou amado? Será que sou amada? O risco, que é natural e sempre existe. Somente o passar do tempo, o enfrentamento das muitas dificuldades da vida, é que fortalecerão a relação. Casando, ou não casando, se vai dar certo ou não, será sabido depois de certo período. Muitos dias de sol, muitos dias de chuva, muita água sob a ponte. O resultado chegará depois de algum tempo.
Acho que a pergunta principal é: quem ama age assim? Quem ama pega trilhas paralelas no caminho da vida? Eu acho que não. Quem ama se transforma em pedra no caminho do par? Claro que não. Quem ama fica ao lado, quem ama quer o bem. Quem ama não se imagina sem o ser amado. E se for preciso casa, não casa, mas faz isso pensando no melhor pra si e pro casal. Sem individualismo, sem egoísmo, sem causar sofrimento, sem sacrifícios que te anulem.
Vale a pena conservar um relacionamento com tamanha divergência de objetivos? Cada um tem que encontrar, por si, essa resposta. Investir em uma relação que causa mágoa, sem harmonia de ideais, isso não vale a pena. Quem ama não solta, não abandona, não machuca, não destrói sonhos, quem ama faz planos bonitos lado a lado. E se não for assim, é um relacionamento oco, sem o ingrediente principal: amor. Tem que fluir com naturalidade, sem fazer muita força, de um jeito gostoso. Não quer casar, mas ele quer. Não quer casar, mas ela quer. Será que o melhor não seja parar tudo e ir procurar alguém que pense parecido com você? A separação dói. Viver em um relacionamento sem ser amado, amada, isso dói muito mais.

Este texto está aqui publicado novamente no blog. A postagem original, a campeã de visualizações e comentários do blog, pode ser encontrada na busca existente no alto da página, no lado direito. Há uma quantidade grande de comentários de leitores e o blog não comporta mais que 200 comentários na mesma publicação. Por isso, abri a nova publicação e se você desejar comentar fique à vontade e publique aqui suas impressões, sua opinião e dúvidas. 

13 de jan. de 2017

AMOR NO PRIMEIRO VERSO



6 de jan. de 2017

FLORES, SONHOS E AMOR SEM FIM

Seis anos. Ela fez as contas e chegou a esse resultado. Todo esse tempo os dois não se encontravam. Cada um com sua vida, cada qual para seu lado. Mas, vez ou outra recebia notícias dele pelas redes sociais, ou e-mails ocasionais.  Ele fazia falta ao seu lado, quando eram sócios o trabalho era dividido, os dias pareciam leves e a vida tinha aroma de jasmins.
Enquanto mergulhava em lembranças dele, distraída e cortando os caules das flores com a tesoura, fez um pequeno corte no dedo.
A floricultura Rosa e Flor prosperava, colorida e tomada pelo aroma das rosas colombianas vermelhas, recém entregues pelo fornecedor.
Buscou um curativo e suspirou mais uma vez. Será que ele também pensava nela? Teria se lembrado que naquele dia, em 2011, os dois se separaram? Voltou ao trabalho, sem permitir que outros pensamentos a distraíssem. Passou a cuidar dos girassóis, depois das dálias e lírios. Às sete da noite, exausta, fechou a loja e caminhou a passos lentos até sua casa, a dois quarteirões de distância.
Parado na porta do prédio, ali estava ele. Sorrindo, vestindo jeans e camiseta branca. Os cabelos um pouco mais grisalhos, a barba por fazer. Seu coração ameaçou sair pela boca. O beijo selou a paz e toda a ausência foi recompensada com o recomeço de uma história de flores, sonhos e amor sem fim.