Onde foi parar o fiozinho da meada, a sequência que me ligava ao melhor da vida, a este instante atual? Loucura, talvez? Deveria eu me embebedar para evitar a lucidez?
A longa noite insone foi povoada de vultos de vivos e mortos. Todos a rodear meu quarto. Febril, gripada, eu tossia. Juro, minha avó me perguntou se eu queria chá preto. Juro! Foi ela, vinda direto da terra dos pés juntos, que puxou a coberta e aqueceu meus pés.
Delirei! Eu estava a nadar na piscina do clube, primos que não vi crescer, que perdi de vista, todos eles a rir naquela algazarra deliciosa e sem fim. Minha tia estava ali. Arrisquei: - Hei, tia, você morreu! Estamos aqui juntas, então eu também morri? Ela sorriu benevolente, como quem dizia: - Chamem depressa um médico, a febre da garota subiu!
Despertei com o ronco amado. Cutuquei a mesma costela de sempre: - Pô, você me acordou! Ele resmungou qualquer coisa, fez alguma referência à minha falecida mãe. Ah, minha mãe... Ela também estava lá, no clube. Corpo de miss. Minha mãe tinha o corpo esguio, longilíneo, algo ao estilo Grace Kelly. Melhor, muito melhor, era perfeita! Pude admirar sua estampa ali, classuda, a tomar o solzinho leve da década de 60. Década de 60? Que idade eu teria? Admirei meus dedos, todos enrugadinhos d´água. Mãos miudinhas, dedinhos bonitinhos. Ah, o maiô laranja. Matei a charada: 1967, algo assim. Pirralha, não mais que seis anos.
Voltei no tempo, sempre desejei voltar no tempo e finalmente tinha conseguido! Poderia ser então jornalista, veterinária, chacrete, atriz da globo, ou simplesmente dizer que a enfadonha canção Ai Se Eu Te Pego era minha composição e ficar rica, muito rica! Onde estariam meus irmãos? Não os vi ali, naquela folia. Vai ver, era uma farra minha só minha, privê! Caminhei na direção da minha tia. Passou as mãos nos meus cabelos e disse: Diva, está na hora de acordar, já são 06h00. Acordei com o despertador.
A garganta ainda dói, o corpo parece que foi atropelado. Estou meio confusa, acho que estive no clube, que voltei à infância que revi minha mãe e minha tia. Não gostei nadica de nada de acordar! No passado com a memória do presente, com a experiência do dia de hoje. Qualquer coisa que poderia ser escrita e dirigida por J. J. Benitez, Operação Diva de Troia! Está feito, vou tratar de dormir mais cedo hoje, quem sabe meus fantasminhas retornem? Se bem que, a febre passou! Direto do túnel do tempo...
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