Os dilemas humanos são tantos! Alguns são dilemas reincidentes,
ideias fixas. Há sonhos pré-fabricados e, vez ou outra, caminhamos feito o
coitado do gado rumo ao matadouro, sem percebermos que apenas cumprimos o
triste papel de entrarmos pelo cano. Digo isso porque na minha publicação Casamento: quando um quer, mas o outro não quer há muitos comentários. Não sei dizer
quem faz os comentários, permito no meu blog comentários anônimos e,
dificilmente, alguém com um “dilema do matadouro” irá se identificar. E quem
sou eu para aconselhar alguém? Mais da metade da vida percorrida e até hoje não
sei exatamente o que fiz com meus sonhos mais bonitos.
Casamento. Quando eu era criança os contos de fadas, aqueles
que terminam sem contar o que vem depois: Cinderela, Branca de Neve, A Bela
Adormecida, isso tudo forjou meu sonho de crescer, casar, ter filhos. E depois?
Isso ninguém explicou. Bastava olhar ao redor: o destino de meus avós, meus
pais, meus tios. Difícil encontrar um casal realmente feliz, a vida nem sempre
é doce, fácil e as dificuldades nem sempre são suportáveis para algumas pessoas.
Casamentos podem durar, mas o voo não é de cruzeiro. Sobrevive quem aprende a
saltar de paraquedas, isso se tudo não explodir em uma fração de segundo.
Domingo é dia de acordar um pouco mais tarde, preparar o
café forte que tanto aprecio, sentar-me à mesa e ligar o notebook. Comecei pelo
blog e lá estava mais um comentário nessa postagem. E eu viajei ao passado, um
tour pouco agradável. Senti vontade de viajar de corpo e alma no tempo e
impedir que a garota bonita que fui sonhasse com finais felizes dos contos de
fadas. Final feliz? Final é fim! Quem deseja um fim, quando o assunto é ser
feliz?
Uma vez alguém me disse uma coisa que serve hoje para mim e,
talvez, quem sabe, também sirva para todo aquele, toda aquela que procura a
resposta para as dificuldades em um relacionamento amoroso. Não se deve sonhar
com o casamento, se não houver reciprocidade do par nesse sonho. Um
relacionamento deve ser vivido como um passeio bonito de trem, um passeio
agradável em uma linda manhã ensolarada. A paisagem é linda. Assim é o namoro.
Um passeio bonito, que poderia durar para sempre. Aproveita quem olha pela
janela, quem se encanta com todos os bons momentos. Aqueles que sentem pressa
de chegar ao destino, que estão tão ansiosos que não olham pela janela, esses
não curtem a viagem: são os que querem se casar a todo custo, cobram isso de
si, do par e não aproveitam o dia de hoje.
Não posso deixar de dizer que, quando um dos dois não quer
se casar, isso é sinal de alerta para reduzir a velocidade do trem. Não
acelere! Apesar de ser uma tremenda frustração alguém não corresponder às
nossas expectativas, apesar do sentimento de rejeição, é necessário respeitar a
vontade alheia, ainda que a nossa frustração seja enorme.
Casamento não deve ser objetivo, mas consequência. Casamento
só tem uma chance de dar certo (apesar das dificuldades naturais da vida): os
dois desejarem a mesma coisa, sem que um magoe o outro, frustre o sonho do
outro. Casamento é isso: união de objetivos em prol de algo positivo e em
comum.
Andaram me perguntando se eu casaria novamente. Claro que
sim. Mas, eu casaria com quem vive um dia de cada vez, sem me colocar em um
altar, afinal não sou santa, não sou princesa e nem sou a resposta para os
sonhos delirantes de ninguém.
Aproveitem a viagem, curtam a paisagem. A vida passa muito depressa
e não é justo perder um só segundo desse passeio, é injusto esperar tanto a
próxima estação sem observar o quanto é bonito e especial este momento de
agora. Quando um não quer, não há casamento. Pode ser tudo, mas não é casamento
e nem é amor. Se insistir, entenderá o que escrevi aqui, letra por letra. Não
vale a pena, então o melhor é seguir aproveitando os momentos, sem forçar a
barra. Um não quer, dois não brigam. É isso.