O burburinho das mulheres de várias gerações da minha
família se misturava ao aroma adocicado que vinha da cozinha. Lembro que, na pontinha dos pés, alcancei um
copo no escorredor de pratos. Minha bisavó correu ao meu auxílio. Entregou-me
um copo d´água com gotinhas poucas de limão. Explicou, com seu gracioso sotaque
germânico, que limão na água era um truque para saciar a sede. O sorriso
emoldurado por olhinhos muito azuis, os cabelos alinhados, grisalhos, presos em
um coque baixo. Nossas palavras, quase todas, eram trocadas no idioma alemão.
Era domingo, era Páscoa. Ela, minha Oma. Eu estava apenas começando a viver.
Páscoa tem sabor de cuca de maçã, do aconchego saboroso e quentinho de um abraço de minha bisavó, de minhas
avós, de minha mãe. Eu, de lacinho nos cabelos e vestidinho rodado, a correr
entre coelhinhos de verdade e patinhos.
As ameixeiras carregadas de frutos e aqueles potes de geleia de amora, doce
agridoce. Páscoa dá uma saudade danada de mim.
Ovinhos de Páscoa coloridos, ovinhos de galinha desenhados
delicadamente, cestinhas coloridas e forradas com palha e papel crepom. E eu,
que vivi o sabor da eternidade, guardei comigo o aroma de baunilha, o sabor do
chocolate. Os beijos estalados de minhas avós, o capricho dos pratos preparados
de geração em geração, da bisavó até minha mãe.
Páscoa tem as cores da saudade, o colorido das lembranças,
tudo tão perfeito, antigo e recente ao mesmo tempo. Páscoa tem o perfume
delicado delas, de todas elas, as mulheres que atravessaram gerações de avental
na cintura, de cabelos amarrados e sorriso no rosto. Mulheres fortes e eternas.
Páscoa é o renascer da força de todas essas guerreiras em mim.