O que você quer ganhar de presente de aniversário?
Essa pergunta chegou de repente. Pensei em coisas simples,
até bobas. Pensei em coisas tão caras que, dificilmente, poderiam ser compradas
agora. E pensei em tudo aquilo o que dinheiro nenhum poderá comprar, jamais.
Escolhi a terceira alternativa e respondi: quero amor, fidelidade, respeito e
paz. Não necessariamente nessa ordem.
Talvez, esse seja o mais difícil de todos os presentes.
De fato, se eu puder escolher um presente material, eu
escolherei mais uma viagem para algum lugar aprazível. A querida Buenos Aires,
Montevidéu, ou arriscarei a deliciosa Paris nesse meu pedido de aniversário. Às
vezes, cola! Pedi. Ele me olhou e olhou, deu um sorriso. Não sei se foi um
sorriso de pena de mim, ou um sorriso de quem conversará hoje com o agente de
viagens. Talvez, eu ganhei uma feliz
passagem somente de ida.
O tempo passa, resta aproveitar a vida de modo harmonioso e
tranquilo. Já que harmonia e tranquilidade, para quem não é adepta da
meditação, depende da paz interior dos semelhantes, prefiro fazer as malas.
Nada melhor do que o embarque na ala
internacional do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Meu coração dispara
quando escuto aquele dim-dom do aviso sonoro do aeroporto e aquela mulher com a
voz melosa que diz: passageiros com destino a Nova Iorque, embarque no portão
seis. Passageiros com destino a Tóquio, embarque no portão nove. E assim por
diante. Não posso embarcar todas as vezes, mas comecei a abrir minhas asas há
algum tempo.
Hoje eu poderia escolher uma dessas viagens que tanto me
agradam. Outro cruzeiro marítimo, talvez. Avessa ao sol em excesso, sou fã dos
cassinos dos navios. Compro vinte dólares em fichinhas e aproveito a viagem
inteirinha sem afetar meu patrimônio. Boa ideia, acho que irei para Las Vegas!
Aposentar-se, antigamente isso parecia repugnante.
Aposentados, quando eu era muito jovem, eram pessoas velhinhas, reumáticas,
caducas. Estou meio caduca, mas ainda não estou reumática, nem velhinha.
Aposentei-me. Ganhei vida nos meus dias e reparei que a falta de tempo e a
correria não se aposentaram comigo. Continuo correndo contra as horas.
Psicológico, talvez. Real, certamente.
Esse é o meu auto-presente de aniversário: deixei uma carreira
longa, cheia de histórias, que exerci durante 60% da minha vida. Praticamente,
nasci em um Tribunal. Minha primeira cartilha, o beabá, aprendi em um Código
Civil. Meu livrinho de colorir era um tratado de Direito Internacional. Cresci,
vivi, amadureci no mundo jurídico. Mas, jamais deixarei de trabalhar, apenas
decidi deixar-me em paz, respeitar-me, amar-me, sem pressa. Não importa quanto
tempo o tempo tem. O que importa é que estou gestando uma nova fase da minha
vida. Uma fase promissora, que depende de cultivo, carinho e serenidade neste
tempo de agora. Até lá, escreverei muito por aqui. Prometo rir de minhas
ruguinhas ao redor dos olhos e, se preciso, chorar também. Tudo sob o seu olhar
atento, querido leitor, querida leitora.
Hoje, meu aniversário. Compartilho com vocês minha alegria
de viver. Celebro a vida com este brinde em letrinhas, ao lado de uma cestinha
de café da manhã ( presente carinhoso
que chegou à minha porta) com itens diversos. A bolachinha de queijo está uma
delícia! Estão servidos?