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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







30 de jan. de 2014

O MEU ANIVERSÁRIO

O que você quer ganhar de presente de aniversário?
Essa pergunta chegou de repente. Pensei em coisas simples, até bobas. Pensei em coisas tão caras que, dificilmente, poderiam ser compradas agora. E pensei em tudo aquilo o que dinheiro nenhum poderá comprar, jamais. Escolhi a terceira alternativa e respondi: quero amor, fidelidade, respeito e paz.  Não necessariamente nessa ordem. Talvez, esse seja o mais difícil de todos os presentes.
De fato, se eu puder escolher um presente material, eu escolherei mais uma viagem para algum lugar aprazível. A querida Buenos Aires, Montevidéu, ou arriscarei a deliciosa Paris nesse meu pedido de aniversário. Às vezes, cola! Pedi. Ele me olhou e olhou, deu um sorriso. Não sei se foi um sorriso de pena de mim, ou um sorriso de quem conversará hoje com o agente de viagens.  Talvez, eu ganhei uma feliz passagem somente de ida.
O tempo passa, resta aproveitar a vida de modo harmonioso e tranquilo. Já que harmonia e tranquilidade, para quem não é adepta da meditação, depende da paz interior dos semelhantes, prefiro fazer as malas. Nada melhor  do que o embarque na ala internacional do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Meu coração dispara quando escuto aquele dim-dom do aviso sonoro do aeroporto e aquela mulher com a voz melosa que diz: passageiros com destino a Nova Iorque, embarque no portão seis. Passageiros com destino a Tóquio, embarque no portão nove. E assim por diante. Não posso embarcar todas as vezes, mas comecei a abrir minhas asas há algum tempo.
Hoje eu poderia escolher uma dessas viagens que tanto me agradam. Outro cruzeiro marítimo, talvez. Avessa ao sol em excesso, sou fã dos cassinos dos navios. Compro vinte dólares em fichinhas e aproveito a viagem inteirinha sem afetar meu patrimônio. Boa ideia, acho que irei para Las Vegas!
Aposentar-se, antigamente isso parecia repugnante. Aposentados, quando eu era muito jovem, eram pessoas velhinhas, reumáticas, caducas. Estou meio caduca, mas ainda não estou reumática, nem velhinha. Aposentei-me. Ganhei vida nos meus dias e reparei que a falta de tempo e a correria não se aposentaram comigo. Continuo correndo contra as horas. Psicológico, talvez. Real, certamente.
Esse é o meu auto-presente de aniversário: deixei uma carreira longa, cheia de histórias, que exerci durante 60% da minha vida. Praticamente, nasci em um Tribunal. Minha primeira cartilha, o beabá, aprendi em um Código Civil. Meu livrinho de colorir era um tratado de Direito Internacional. Cresci, vivi, amadureci no mundo jurídico. Mas, jamais deixarei de trabalhar, apenas decidi deixar-me em paz, respeitar-me, amar-me, sem pressa. Não importa quanto tempo o tempo tem. O que importa é que estou gestando uma nova fase da minha vida. Uma fase promissora, que depende de cultivo, carinho e serenidade neste tempo de agora. Até lá, escreverei muito por aqui. Prometo rir de minhas ruguinhas ao redor dos olhos e, se preciso, chorar também. Tudo sob o seu olhar atento, querido leitor, querida leitora.

Hoje, meu aniversário. Compartilho com vocês minha alegria de viver. Celebro a vida com este brinde em letrinhas, ao lado de uma cestinha de café da manhã  ( presente carinhoso que chegou à minha porta) com itens diversos. A bolachinha de queijo está uma delícia! Estão servidos?

20 de jan. de 2014

O CIÚME QUE TUDO DESTRÓI

Uma leitora enviou uma mensagem pra mim, contou que desconfia que seu amado tem outra mulher. A desconfiança levou ao ciúme e ela me pediu um conselho. Então, segue abaixo o conselho pra essa leitora, ainda que eu me considere péssima conselheira. Espero que sirva pra mais alguém.

Quem ama não pede nada em troca. O amor é dádiva generosa, oferta que nada espera , senão a felicidade do ser amado. Quem ama não sufoca o ser amado com atitudes possessivas, desconfianças infundadas, ciúme mal curado. Quem ama deixa o ser amado livre, para que voe alto e volte para dentro de seu coração. Sentir ciúme é horrível, corrosivo, doentio. Ser alvo do ciúme alheio é asfixiante!
De que adianta ter ao seu lado alguém que não te ama? Alguém que você idealizou, em quem projetou seus anseios de final feliz? Gente não é personagem de contos de fadas. Homens e mulheres têm vontade própria, podem se apaixonar, reapaixonar, também  podem ir embora e nunca mais dar notícias. Monitorar obsessivamente os passos do alvo de seu amor, isso é um dos maiores erros que alguém pode cometer. Mexer no celular, nos e-mails, fuçar seu Facebook. Pergunto-lhe: pra quê? Se você está desconfiado(a)de algum pulinho de cerca do seu par, garanto-lhe que já tem 90% de certeza disso. Pra quê tanto desgaste se já tem 90%? Já ouviu falar que ninguém é a última Coca-Cola do deserto? Pois é.
Tem coisa até pior, tem gente que não consegue conquistar alguém e passa a infernizar a vida da criatura, a importunar toda e qualquer mulher, ou homem de seu círculo de amizades, a agir como louco(a), coisa digna de dó. Repito: amor não se cobra, jamais! Ele não quer? Ela não quer? Desista e vá cuidar de si, de sua vida, porque você é a pessoa mais importante do seu mundo!
Não existe homem insubstituível, nem existe mulher insubstituível. Insubstituíveis são os nossos pais, irmãos, filhos, enfim, nossa família. Tudo o mais a gente manda andar, se não estiver satisfeito. É saudável ter um relacionamento que te deixa tão paranóico(a) assim? Que te leva a suspeitar que pessoas ligadas a ele, ou ela, estão te traindo, estão te passando pra trás? Evidentemente: não, isso não é normal. Isso é sintoma de autoestima detonada, de falta de amor próprio. Pode até ser sintoma de alguma doença  grave.
Quer afugentar o ser amado? Perturbe sua paz, incomode-o com mensagens, com telefonemas, surja em sua frente com sua cobrança, sua choradeira, leve o problema a público, ofenda quem nada tem a ver com isso. É bomba poderosa, que mata qualquer possibilidade de felicidade a dois.
Cuide-se, ame-se, respeite-se e, por falar em respeito, lembre-se que seu direito de desconfiar de outrem termina no momento em que os direitos desse alguém são feridos. Ninguém quer ser incomodado com sua ciumeira. Portanto, não atire pra qualquer lado, o tiro poderá pegar no seu próprio pé e o risco é você terminar falando sozinho(a), ser taxado(a) de louco(a), arrumar inimizades que bem poderiam ser evitadas. Juízo, ok?



MEDIANERAS: ONDE ESTÁ WALLY?

Em plenas férias resolvi assistir a filmes mais ou menos antigos e que passaram por mim inéditos.  Escolhi de modo aleatório o argentino Medianeras. Filme delicioso que conta a história de  duas pessoas que moram pertinho uma da outra, na Avenida Santa Fé, Buenos Aires.  Os dois não se conhecem e , conforme passam um pelo outro sem se notarem, o enredo se torna mais e mais interessante. 
Quem sou eu para criticar cinema? Mas, gostei tanto que passei a imaginar quantas pessoas potencialmente compatíveis se cruzam pelas ruas, esbarram umas nas outras sem se notarem. Como seria se, finalmente, se conhecessem? É tão comum em grandes centros urbanos as pessoas não saberem quem são seus vizinhos, caminharem pelas ruas sem olharem pra ninguém. Medianeras me conduziu a refletir sobre o inverso: atrair gente incompatível a curto, médio ou longo prazo. Tenho uma teoria que explica isso.A sensação de estar sozinho no meio da multidão é uma das maiores vilãs que pode invadir alguém. Sentir-se ímpar, sentir-se mal ao concluir que não tem um par amoroso, ou que seu par não é o ideal, afugenta as chances de encontrar Wally, de enxergar alguém que realmente valha a pena ser conhecido.
Acredito que o amor romântico escolhe aqueles que estão bem consigo mesmos, os que se bastam e são capazes de naturalmente viajar sozinhos, morar sozinhos, até mesmo passar datas especiais sozinhos sem entrar em parafuso. Quem está de bem consigo mesmo torna-se apto para formar um dueto. 
Não adianta procurar o amor, ele é fruto doce que brota inesperadamente e amadurece lentamente. Será que isso depende de sorte?Tudo o que pode ser feito é cuidar bem da árvore da vida, alimentando-a com os melhores nutrientes possíveis: integridade, responsabilidade, bondade, espiritualidade e uma dose extra de paciência. Um dia haverá de frutificar. Tudo o mais é para ser visto na vitrine, coisas que o tempo leva rapidamente. Medianeras me encontrou, como quem encontra Wally: eu, no meio da multidão.

MEDIANERAS








7 de jan. de 2014

BEIJOS E RECORDAÇÕES

Noite adentro, insone. Momentos a cintilar em minhas lembranças, feito estrelas salpicadas no céu. O seu perfume! 
Fechei meus olhos e viajei no tempo. Meu coração acelerado. Ri de mim, meus cabelos desalinhados pelo vento, seu olhar pousou sobre o meu olhar. Era primavera, você lembra? Havia flores nos jardins e o dia estava ensolarado. A praça!  Um laço bonito se fez entre uma frase e outra, um sorriso e outro. 
Depois da primavera chegou o verão, o outono, o inverno. Quantas outras primaveras vieram depois daquele dia? Abri meus olhos e admirei a noite.  A lua crescente. 
Os beijos, todos eles. Beijos embalados para presente, um a um. Doces beijos! Tantas estações... Adormeci entre recordações, sonhei com você! Lembra?

4 de jan. de 2014

VOCÊ, SAUDADE!

Não sei definir com exatidão o que agora sinto. Falta luz, escrevo à luz de velas. A taça de vinho tinto reflete tons luminosos das chamas tímidas que se agitam levemente no ar.  Não há silêncio, senão o calado da noite. Meu coração padece inquieto, preciso escrever, ou meu sentimento inexato transbordará de dentro de mim e se derramará na penumbra da noite.
Tento encontrar em minha arritmia um indício, uma explicação para o meu desassossego: você! Perco-me em lembranças remotas, mas tão recentes, um paradoxo atemporal. Dor, a dor de sua ausência,  a mescla de saudade e impotência. Lacuna!
Você! Seu perfume parece ter invadido cada linha, cada letra, todas as palavras. Você! Tento me agarrar a instantes nossos que pareceram imortais. Você! O amor que tranquei no peito, transformei em versos e exorcizei em textos. Você! Minha alma na sua... Volta... Vem!
Bebi toda garrafa de vinho e li essas anotações. Um texto, um novo texto escrito do jeito mais absurdo possível: sozinha! Chorei, chorei, lembrei de nosso último beijo, a conjunção mais do que perfeita entre duas bocas.
Tento recordar-me à luz do dia, tento renascer de minhas poucas cinzas, tento sobreviver ao seu tácito adeus. Você, saudade!