No aeroporto ela esperou que o avião decolasse e o viu
partir. Namorava o mesmo garoto desde os treze anos de idade, uma história
que começou na rua onde moravam e que durava sete anos.
Aquela era a primeira
vez que se separavam, justamente na época das festas de final de ano.
Olheiras escuras se penduraram sob seu
olhar cor de mel. O ano terminou, outro ano começou, um mês afastados. O tempo pareceu não passar e tudo o que recebeu dele eram foram notícias breves e raras.
Era dia vinte e um de janeiro quando ele voltou das férias
e, ao contrário do que era esperado, não a avisou sobre o dia e horário de chegada.
Ela o descobriu de volta no dia seguinte, em fotos publicadas no Facebook. Um encontro dele com os amigos em um bar, ocorrido na véspera. Em
sua companhia sorria com dentes muito brancos uma garota bronzeada. Mexeu e
remexeu em perfis na internet até descobrir a tal de
Taís.
No mesmo instante atravessou a rua e pisou duro os cem
metros de distância entre sua casa e a casa dele. Tocou a campainha
descontroladamente e ingressou na casa sem fazer cerimônia. Lá estava ele de bermuda, descalço e
sem camisa, sentado à mesa do café. Ao vê-la gaguejou algo inaudível.
A cena do tapa que ela deu no braço do namorado foi
assistida pela plateia composta pelo pai, a mãe e o cachorro barulhento da
família, isso marcou a pele do rapaz e justificou o final do namoro no dia
vinte e dois de janeiro.
O ano passou e seu isolamento social era discreto, mas
perceptível. Conseguiu bolsa de estudos em uma universidade estrangeira, estaria a milhares de quilômetros daquela rua. De malas prontas rumo ao
Canadá, a dois dias da viagem o encontrou no ponto de ônibus, ele de roupa
social, a barba bem feita, os cabelos mais curtos. Seu coração voltou a bater e
desejou que naquele instante parasse o tempo. Contou-lhe que mudaria para o
Canadá, dele ouviu qualquer coisa do tipo: - boa viagem. O ônibus da linha 8769
chegou, ela embarcou e essa foi a última vez que o viu.
Há cinco anos em Toronto ela concluiu a faculdade e foi
convidada para trabalhar em uma indústria farmacêutica. Conheceu Jean Paul, seis anos mais velho. Casou sem festa e
nem papel e quase superou o passado, não fosse a celebração às avessas que
ocorre todo dia vinte e dois de janeiro, quando chora às escondidas e acena
para um avião imaginário. Depois lava o rosto, respira fundo e espera a chegada
do dia vinte e três.
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