E eu na livraria, que pra mim é uma espécie de ilha no Pacífico, com direito a muita diversão e bendita abstração de todos os demais seres humanos do planeta. Não sei há quantas horas eu perambulava por ali, no delicioso mundinho das letras. Acomodei-me em uma poltrona e estava lendo ( relendo) Oliver Twist, de Charles Dickens. Justamente naquele trecho em que o leitor abomina do fundo da alma o vilão Fagin, fui cutucada no antebraço por alguém desconhecida: - Oieeeee.
Caro leitor, cara leitora, ela não disse "oi", mas sim "oieeeeee" com vários eeee, infindáveis eeeee que me trouxeram de Londres ao Brasil, do passado ao presente, do mundo de Oliver para o mundo de Cláudia em uma fração de segundo. Pulei de susto.
Ela disparou em alto volume: - Te conheço!
Abriu um sorriso imenso. Tentei recompor-me, ajeitei-me na poltrona, fechei o livro sem marcar a página. Fiz o possível para disfarçar o espanto. Não a reconheci, não sabia quem era a moça sorridente.
- Você é a Diva!
Ouvir isso foi como levar um tranco, meu estômago gelou. Como alguém estranha sabia que sou a Diva? Creio que apertei fortemente o exemplar de Oliver Twist contra meu coração. - Socorro, Oliver!
- Que legal! Prazer, sou a Marina. Sou sua fã! Eu leio tudo o que você escreve. Gosto daquela sua história no acampamento. Pô, esses seus sobrinhos são sem noção, né? - Poxa, você é bem jovem, né? Pensei que fosse mais velha. - É mais bonita pessoalmente!
Ela parecia uma metralhadora de palavras. E eu estava surpresa, jamais alguém havia me reconhecido a partir do blog. Levantei-me, convidei-a para um café. Com os olhos de minha leitora grudados em mim, como se eu fosse um alienígena, tomamos o café praticamente em silêncio. Eis que ela começou a fazer muitas perguntas.
- É verdade que você teve dor de barriga na rua?
- Sim, algumas vezes.
Feliz, ela pareceu feliz com a confirmação.
- E é verdade que você ficou presa no banheiro feminino?
Sim, fiquei.
- Diva, você é doida, minha "ídola", eu te amo!
Comecei a me preocupar, ela realmente havia lido alguns textos antigos que escrevi, mas parecia muito esfuziante. Olhei para os lados, seria aquilo uma espécie de "pegadinha"?
- Marina, vamos fazer o seguinte. Vou comprar pra você, de presente, este livro que eu estava lendo. Já leu Oliver Twist?
Silêncio.
- Prefiro um livro seu, tem algum livro seu aqui?
Infelizmente, não terminei meu primeiro romance, como dizer pra garota que tudo o que escrevo não está publicado de modo tradicional e que metade do que escrevo está publicado no blog?
- Posso fazer uma dedicatória pra você neste livro, o que acha?
Não ficou exatamente satisfeita, mas gostou da dedicatória: 'Para Marina, com meus votos de boa leitura. Um abraço, Diva Latívia".
Marina, quando meu primeiro livro for publicado você receberá um exemplar com minha dedicatória. Naquele dia eu tinha escolhido a livraria para me esconder do mundo. Você ali chegou para me fazer pensar no quanto é popular meu blog e o quanto minhas palavras influenciam as emoções de pessoas anônimas.
Este texto escrevi pra você, mas pertence a todos os leitores. Mande lembranças minhas para Oliver Twist.
Diva Latívia ( Cláudia)
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