A cidade acordou mais cedo hoje. Choveu cinzas que cobriram as ruas, os edifícios e as roupas no varal.
No horizonte despontou a luz alaranjada, a aurora enlutada. Queimou a floresta, morreram as árvores, os animais silvestres. No vento viajou a fuligem, que se depositou na varanda do meu apartamento. Toquei o que eram folhas, delas restaram cinzas que se desfizeram entre meus dedos.
O fogo consumiu o Parque Estadual do Juquery, a poucos quilômetros de São Paulo. A dor de pesar na atmosfera mistura-se com o odor de fumaça, a névoa que causa ardor nos olhos e rasga o coração de quem tem sensibilidade e amor à vida.
Lancei meu olhar para muito distante, viajei no tempo, quando havia menos incertezas, quando podíamos respirar aliviados, quando acreditávamos no dia de amanhã.
Preparei o café forte, tentei escrever letrinhas que afugentassem a minha tristeza e abraçassem o coração de cada um de vocês. Em vão!
Há de existir um bom futuro! Nascerão novas árvores, brotarão flores, os pássaros voltarão a cantar, os animais povoarão de novo o que foi destruído. Um dia! Porém, haverá cura para a crueldade de quem desmata, para o egoísmo de quem causa tragédias ambientais? Será que o Brasil conseguirá renascer das cinzas?
Não sei vocês, mas amanheço antes do sol. Todos os dias!