Semana mais curta, hoje é segunda, mas na prática hoje é
terça-feira. Duvida? Faça as contas: sexta-feira será feriado nacional. Dia de
Nossa Senhora Aparecida, santinha bonitinha, padroeira do Brasil. Mas, cá entre
nós, bom mesmo é que sexta-feira, além de ser feriado, é o Dia das Crianças.
Antigamente, no Dia das Crianças, as freiras do colégio onde
eu cursava o antigo primário, promoviam uma festinha com a presença dos pais
das alunas. Que horror, lembro que havia um toque militar naquela formação
organizada, as crianças todas enfileiradas. Ai daquela que sentisse vontade de
fazer xixi, espirrasse, ou fizesse tchauzinho pra mãe, pra avó. Linha dura,
criança tinha que obedecer aos adultos e ponto final. Um tormento, no pátio da
escola se formava um imenso círculo, uma roda de alunas que ao som de “criança feliz” giravam cabisbaixas,
mãos para trás, sem noção, sem explicação. Ordens são ordens. Assim foi criada
a minha geração, praticamente batendo continência. Idos anos 60 e 70! “Criança feliz, feliz a cantar. Alegre a
embalar seu sonho infantil”. Se havia
alegria, estava longe de mim tal sensação.
Que Nossa Senhora Aparecida me perdoe, sei que havia
exceções, mas aquela época não me traz boas recordações, lembro da ditadura
militar, da ditadura familiar e da ditadura das freirinhas do colégio, momentos
nada felizes, sonhos infantis controlados, enfileirados, podados. Ser criança
não era tão fácil quanto é agora. Queria ser criança do século 21!
A alegria dessa data ficava por conta da minha família. Lembro
que, certa vez, recebi do meu pai um presente especial, um kit de mágica. Ah, o
papai, ele era brincalhão, quando faltava energia elétrica usava a pouca
iluminação, luz de velas, para ensinar a fazer com as mãos sombras na parede,
em formato de pássaro, macaco, coelho. Ríamos todos, isso se eternizou em meu
coração.
Antigamente um presente do Dia das Crianças era apenas uma
lembrancinha, algo simples, tal como um baralho do jogo do mico, um saquinho
com pinos mágicos, um livro, um saquinho de balas. O consumismo ainda não havia
acometido nossas vidas. Minha geração não ia às lojas de brinquedos e
esperneava histericamente, feito alguns rebentos atuais: - " Compra! Compra! Eu
quero! Me dá! Buáááááááá!". Isso é coisa da geração seguinte à minha. Ah, os
filhos, esses foram criados sem filas, sem linha dura. Outro problema, os
extremos jamais funcionaram a contento. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Regras demais, regras de menos, nada bom isso. Sou da geração salsicha do hot
dog. Minha geração obedecia aos pais e décadas mais tarde obedece aos filhos.
Obediente, portanto, essa minha geração.
Falei do meu pai? Hoje completa treze anos que ele partiu
rumo ao infinito. Espero que tenha se transformado em uma estrela, que brilhe
com jeito divertido no firmamento, que faça as estrelas ao seu redor rir sem
parar. Foi bom ser criança e ter momentos breves, alguns leves, acompanhada
desse alguém, que às vezes fez o bem. Esperar perfeição de nossos pais, isso é exigir demais.
Minha infância transcorreu normalmente, do jeito que a
infância de uma criança deveria transcorrer. Obediente, mas nem tanto, ainda
tenho marcas, cicatrizes de tombos de árvores, quedas de bicicleta, até mesmo
do estouro de bombinhas eu trago cicatrizes. Fui moleca! Naquela época a gente
brincava na rua, esqueçam o que acontece agora com a falta de espaço e crianças
brincando em brinquedotecas de condomínios sofisticados que, de fato, são cortiços
verticais. A gente era feliz, apesar das
ordens, apesar das freiras, apesar dos pais. Ser criança era simples demais!
Quer uma sugestão? Seja criança, não cresça. Ser adulto não
tem graça, a gente para de brincar, ganha rugas de preocupação, se chateia e
chateia quem está ao nosso redor. É muito chato ser adulto! Hoje sinto saudade da infância, sinto saudade
da inocência, da felicidade desinteressada. Hoje, de um modo indulgente, sinto saudade do meu pai!
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