Finados, de coisa finda, finita, findada. Já foi, já era!
Findou!
Há quatro décadas, usando trancinhas e lacinho nos cabelos,
eu acompanhava uma comitiva “sui generis” ao cemitério no Dia de Finados. Minha
avó, acompanhada de sua irmã, uma tia e
uma prima. Na floricultura em frente ao cemitério a vovó comprava palmas
vermelhas, funéreas. E lá íamos nós, pelas alamedas da terra dos pés juntos, o
sol escaldante a nos maltratar. Ano após ano, o ritual se repetia. Ao chegarmos
ao túmulo de nossos falecidos parentes, todas faziam expressão de tristeza
profunda. Silêncio! A vovó, abraçada às flores, mexia os lábios em um quase
filme mudo. Estava rezando em voz baixa, tão baixa que eu tentava inutilmente
ler seus lábios. A seguir, começava a enfeitar o túmulo, de terra, com as
flores funéreas. Formava caprichosamente uma cruz. Mais algumas preces quase
mudas, um sinal da cruz e íamos embora, a observar as esculturas das sepulturas
e as inscrições em suas lápides. Programa fúnebre, pouco indicado para uma
criança de sete, oito anos de idade.
O tempo passou e hoje eu visito o jazigo de minha mãe, no
Cemitério do Morumbi, em São Paulo. Sem túmulos, apenas o gramado e uma placa
com o nome da mamãe. Pra ela eu costumo levar margaridinhas e esqueço o tempo, a
hora. Minhas preces, provavelmente, também se parecem com um filme mudo. Algo
particular, somente nós três sabemos o que rezei: Deus, Mami e eu. E é assim que compreendo o
que ia fazer minha avó naquele cemitério, o que ela rezava, por que insistia em
repetir o mesmo ritual anualmente. Lá no cemitério estava enterrada minha
bisavó Almerinda, a mãe da vovó. Saudade!
Mães, avós, bisavós. Todas deveriam ser imortais!
Às vezes eu evito ir ao cemitério. As flores são entregues
semanalmente por uma florista, um jeito que encontrei de homenagear minha
falecida mãe. De tudo isso restou o pavor que tenho de cemitério, um trauma de
infância. Já decidi que, quando eu partir desta pra seguinte, quero que meu
corpo seja cremado. Nada de enterro, nada de cemitério.
E esse papo funerário, inspirado no Dia de Finados, termina
com um dizer de ninguém menos que minha saudosa avó: “vivam cada dia como se
fosse o último”. É isso aí, Vó, você sabia das coisas!
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