Mosquitos, muriçocas, pernilongo, bichinhos inconvenientes e
invasores de nossos lares! Mosquitos e calor, combinação perfeita para a minha
insônia.
O calor era tanto que foi preciso deixar as janelas de casa
abertas e, mesmo utilizando aqueles repelentes ligados às tomadas, fui banquete
de pernilongos durante a noite. Amanheci com a orelha esquerda imensa, inchada,
algo que me fez lembrar a orelha de Mickey Mouse. A outra picada, que falta de
sorte, aconteceu bem na pontinha do meu nariz. Justamente no dia em que seria madrinha
de um casamento.
Precisava pensar depressa: o que poderia disfarçar as marcas
do mal feito? Pedi socorro ao Google. Pesquisei alguns sites e encontrei uma
receita caseira, natural, que prometia milagres para combater a alergia à
picada de insetos. Ali dizia que o melhor era beber chá de erva do mato misturada
com capim do brejo. Pensei: sensacional, onde encontrarei essas ervas? Decidi,
então, improvisar o chá com ingredientes que eu tinha em casa. Havia um chá que
ganhei de presente de Tia Marieta, um pacotinho com uma etiqueta escrita com
caligrafia trêmula da titia. Ali dizia: chá de ervas.
Titia, sempre tão preocupada com o meu emagrecimento! Nem
lembrei disso. Mas, chá de erva do mato, capim do brejo, isso tudo deveria ser
a mesma coisa que ervas, certo? Não! Errado! Preparei o chá, deixei esfriar um
pouco e bebi dois goles. Amargo, tão amargo que cheguei a dizer uns nomes
impublicáveis. Tratei de beber toda a xícara. Enquanto isso, telefonei para meu
cabeleireiro e avisei: prepare-se, meu penteado terá que cobrir minha orelha e
a maquiagem terá que cobrir meu nariz.
De repente minha barriga roncou. Não era fome, senti algo
semelhante a uma ebulição, bolhas de ar se agitavam em meu intestino grosso, ou
será intestino delgado? Segurar os gases, isso é algo que exige concentração. A
coisa foi piorando mais e mais. Diarreia é uma coisa que ninguém merece. Fui
muitas vezes ao banheiro. Maldito chá de ervas! Praguejei enquanto suava
gelado, enquanto sentia que estava entrando em uma espécie de trabalho de
parto.
A hora de ir ao cabeleireiro estava próxima quando, já
convencida de que eu não conseguiria sair de casa, pedi que Jean Jacques viesse
à minha casa me pentear e maquiar. Eu já tinha ido inúmeras vezes ao banheiro
quando o interfone tocou. Jean, quando me olhou, ficou horrorizado. -Nossa,
você está um lixo! Que cheiro horrível é esse?
Não sei onde eu estava com a cabeça quando imaginei que um
chá do Google pudesse me salvar. Muito menos sei onde estava a minha cabeça
quando imaginei que substituir o chá do Google pelo chá de Tia Marieta seria
uma boa ideia.
Maquiagem feita, entre uma ida e outra ao banheiro. Cabelo
arrumado, entre um punzinho contido e outro. Faltava menos de duas horas para o
casamento e eu já tinha perdido as contas do número de vezes que tinha ido ao
banheiro. Pensei: vou morrer!
Quando me senti um pouquinho melhor, tonta de fraqueza,
vesti minha roupa, um vestido justo, com abertura lateral. Algo digno de uma
Diva, mas difícil de vestir, difícil de tirar. Sabe aquela roupa que a gente
veste e fica segurando a vontade de ir ao banheiro, porque senão vai ter um trabalho
enorme pra se arrumar novamente? Pois é. Eu precisei vestir e tirar o vestido
duas vezes antes de tomar dois copos de água com maisena, um tipo de cola de
balão que costuma conter a tempestade intestinal.
Quarenta minutos antes do horário do casamento, saí de casa.
Fui rezando durante todo o caminho. Pedi a todos os santos, cujos nomes fui
lembrando. Fiz até promessa. Cheguei à igreja tão zoada que, se eu
pudesse, me deitaria no primeiro banco que encontrei livre.
Cerimônias de casamento são muito bonitas. Ser madrinha de
casamento é sempre uma honra. A noiva atrasou absurdamente Conheci o banheiro da
sacristia. Aquele espaço minúsculo, um
cubículo e eu, feito uma contorcionista, a tentar levantar o vestido sem
desfiar a meia fina, nem descer do salto alto. Ali estava, enjoada e
desgraçada, quando escutei os clarins que anunciavam a entrada das damas de
honra. Que desespero! Senti que melhorei, me ajeitei como pude e, quando fui
sair do banheiro, a porta emperrou. Sim, a porta do banheiro da sacristia não
abria. Eu bati, chamei: - Tem alguém aí? Estou presa!
Nada, ninguém. O coral entoava uma música de Bach e eu ali,
prisioneira! Comecei a esmurrar a porta do banheiro: - SOCORRO!!!!
Eis que escutei a marcha nupcial. Como podia uma coisa
dessas? Eu, madrinha, ninguém veio em meu socorro, ninguém sentiu minha falta!
Pensamentos doidos e confusos começaram a invadir minha mente. Estaria eu
morta? Sim, eu talvez tivesse morrido de caganeira e estivesse ali apenas meu
espírito, confuso e assombrando o banheiro da sacristia. Eu, o fantasma loiro
do banheiro da igreja!
Comecei a chorar. Aproveitei para novamente usar o vaso
sanitário, ao menos uma vantagem existia naquela prisão. Enquanto tocava a Ave
Maria, provavelmente durante a troca de alianças, alguém entrou no banheiro,
finalmente.
- Tem alguém aí? Por favor, me ajude, estou presa!
Fui libertada por alguém, não lembro quem. Olhei-me no
espelho, pálida, a picada de mosquito na ponta do nariz pareceu gigante, havia
chorado tanto que o delineador estava borrado, eu parecia com o vocalista da
banda Kiss. Decidi permanecer no banheiro e esperar o final da cerimônia.
Esperei, esperei e quando tudo estava terminado passei pelo altar vazio, vi
algumas pessoas conversando animadamente em rodinhas, todos felizes. Lá fora,
os noivos a receber os cumprimentos. Abracei a noiva, que não demonstrou ter
sentido minha falta. Abracei o noivo, que perguntou que era eu!
Acordei com o telefone tocando, era meu cabeleireiro, eu
estava atrasadíssima, meu horário era 15h00, já passava das 15h30. Ah, aquele
chá de Tia Marieta era tiro e queda para a insônia. Que pesadelo, nossa, eu
sonhei que tinha levado umas picadas de pernilongo no rosto e bebido um chá
laxante. Depois, fiquei presa no banheiro da igreja e não pude assistir ao
casamento de minha prima, a Soninha. Que loucura, melhor jogar fora aquele chá,
ele é meio alucinógeno. Deixe-me ir agora, estou muito atrasada e madrinhas de
casamento precisam ser rigorosamente pontuais.Nossa, que sonho mais esquisito, melhor anotá-lo para contar pra minha terapeuta!