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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







31 de mar. de 2014

QUANDO PERCO O MEU OLHAR

Praças e parques públicos levam o meu olhar a instantes diversos e situações inesperadas.As crianças a correr e brincar, os cãezinhos a abanar o rabo de contentamento, gente que pratica esportes, bicicletas ligeiras e vendedores ambulantes. 
Duas voltas na pista de cooper do Parque do Ibirapuera, para quem não está acostumado a caminhar regularmente, é um longo percurso. Sentei-me à sombra daquela árvore. Gente da cidade grande dificilmente identifica uma espécie de árvore. Não era uma árvore frutífera, mas sua copa alta e sua folhagem densa proporcionou a sombra que aliviou o calor e o cansaço do trajeto, que fiz com meus passos lentos, às vezes acelerados. Bebi a água de coco de canudinho, até escutar aquele barulhinho característico do final do líquido, sem cerimônia. Observei o voo de um pássaro, também desconheço a sua espécie.
Respirei fundo. O ar da cidade de São Paulo é impuro, sujo. Senti saudade da infância. Logo ali ao lado, no bairro de Moema, assisti parcialmente ao progresso da cidade. Havia o bonde que passeava desengonçado e barulhento, cortava o bairro e se dirigia ao centro da cidade. Nem todas as ruas eram asfaltadas, ligeiramente recordo-me do trabalho de pavimentação das travessas da Avenida Ibirapuera. Minha idade? Três ou quatro anos, não mais que isso. Naquela época, do terraço do quarto de minha avó, avistávamos o Palácio do Governo, situado no bairro do Morumbi. Hoje essa visão foi tomada por centenas de edifícios residenciais e comerciais.
Decidi continuar a caminhada, cheia de preguiça. O casal de mãos dadas, o menino de triciclo, o vendedor de algodão doce. Perdi o meu olhar entre o lago do parque, o movimento de toda gente e minha vida de outrora. Saudosista, talvez. Saudade de quando o sorveteiro buzinava com seu carrinho pelas ruas de Moema. Saudade de quando andar de bicicleta pelas ruas dispensava as ciclofaixas. Saudade de quando a inocência do meu olhar beijava o horizonte. O tempo passou ligeiro. Sensação de brevidade. São Paulo engoliu a paisagem.

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