Praças e parques públicos levam o meu olhar a instantes
diversos e situações inesperadas.As crianças a correr e brincar, os cãezinhos a abanar o rabo
de contentamento, gente que pratica esportes, bicicletas ligeiras e vendedores
ambulantes.
Duas voltas na pista de cooper do Parque do Ibirapuera, para quem
não está acostumado a caminhar regularmente, é um longo percurso. Sentei-me à
sombra daquela árvore. Gente da cidade grande dificilmente identifica uma
espécie de árvore. Não era uma árvore frutífera, mas sua copa alta e sua
folhagem densa proporcionou a sombra que aliviou o calor e o cansaço do trajeto,
que fiz com meus passos lentos, às vezes acelerados. Bebi a água de coco de
canudinho, até escutar aquele barulhinho característico do final do líquido, sem
cerimônia. Observei o voo de um pássaro, também desconheço a sua espécie.
Respirei fundo. O ar da cidade de São Paulo é impuro, sujo.
Senti saudade da infância. Logo ali ao lado, no bairro de Moema, assisti
parcialmente ao progresso da cidade. Havia o bonde que passeava desengonçado e
barulhento, cortava o bairro e se dirigia ao centro da cidade. Nem todas as ruas
eram asfaltadas, ligeiramente recordo-me do trabalho de pavimentação das
travessas da Avenida Ibirapuera. Minha idade? Três ou quatro anos, não mais que
isso. Naquela época, do terraço do quarto de minha avó, avistávamos o Palácio
do Governo, situado no bairro do Morumbi. Hoje essa visão foi tomada por
centenas de edifícios residenciais e comerciais.
Decidi continuar a caminhada, cheia de preguiça. O casal de
mãos dadas, o menino de triciclo, o vendedor de algodão doce. Perdi o meu olhar
entre o lago do parque, o movimento de toda gente e minha vida de
outrora. Saudosista, talvez. Saudade de quando o sorveteiro buzinava com seu
carrinho pelas ruas de Moema. Saudade de quando andar de bicicleta pelas ruas
dispensava as ciclofaixas. Saudade de quando a inocência do meu olhar beijava o
horizonte. O tempo passou ligeiro. Sensação de brevidade. São Paulo engoliu a
paisagem.
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