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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







24 de ago. de 2014

REFLEXO


Diga-me: seu olhar triste quando nasceu? Seu sorriso tímido ao que assistiu? E suas tênues linhas que emolduram o seu olhar, o que elas suportaram?
Diga-me, mulher, quem é você? O que há escondido no azul esverdeado de seus olhos? De onde veio? Para onde irá você?
Afastei-me do espelho sem resposta.

16 de ago. de 2014

SUAVIDADE

Lá estava ela: leve e colorida. Pousou em uma flor, depois em outra, sobrevoou o canteiro de hortênsias e decolou novamente. As asas delicadas espalharam tons de azul ao seu redor. Eis que parou em meu ombro e cheguei a fechar os olhos e implorar em pensamento: - vá embora!
Arrisquei movimentar lenta e calmamente a cabeça para o lado. Observei-a  a poucos centímetros do meu rosto. – Não sou flor! Vá procurar rosas! – Pude notar que as asas da borboleta são quase transparentes. Suas patinhas parecem fiapinhos.
Segui caminhando pelo parque a levar comigo minha mais nova amiga, que me deixou minutos depois e voou na direção do topo de uma árvore. Suave companhia.

5 de ago. de 2014

DIVA LATÍVIA ( A Origem do Nome do Blog)

Nós dois não nos conhecíamos o bastante para que ele soubesse que o nome sugerido para o meu blog nem sempre combinaria comigo, com a minha personalidade. As poucas vezes que olhou pra mim – sempre arrumadinha para passear  - fantasiou sei lá quantas e quais fantasias com meu “jeito Sandy de ser”. O que é “jeito Sandy de ser”? Bonitinha, comportadinha e pronta pra fazer propaganda da Devassa. Simplesmente ele fantasiou tanto que chegou à equivocada conclusão: “diva/cachorra”. Assim mesmo. Delírio irônico em prosa e versos, coisa típica de Abílio Manoel.
O mundo mudou muito dos tempos do telégrafo para a comunicação via e-mail. Algumas pessoas conhecemos através de amigos, nem todos conhecemos pessoalmente antes de adicionarmos aos nossos contatos das redes sociais. Assim aconteceu comigo e Abílio. Nós dois não nos conhecíamos pessoalmente, ao vivo. A não ser que a webcam faça esse tipo de apresentação. Nos tornamos amigos, confidentes, quase irmãos, tudo isso via internet. O “quase irmãos” é a minha visão dos fatos, porque ele inventou esse nome: Diva Latívia. Irmão não faz isso, não é mesmo? Definir Abílio é algo complexo.
No dia em que decidi conhecê-lo pessoalmente, senti um friozinho na barriga. Ali estava alguém importante pra mim, pra minha vida, alguém que havia me contado entre lágrimas seus medos, entre risos seus sonhos, que voltava das aventuras amorosas e confidenciava quem era a gata da vez, ou expunha seu sofrimento por amar e não se considerar amado. Alguém que interpretava de modo generoso, mas nem sempre tão generoso, as palavras que eu dedilhava em nossas conversas sem fim via MSN, e-mails. Nos papos divertidos ao telefone, ele com seu leve sotaque lusitano e voz de garoto. Olhamos um para o outro e o tempo parou de modo reverente. Pura emoção: o meu melhor amigo conheci na internet! (Deus te abençoe, World Wide Web).
Foi nesse dia que ele me disse:  - você não tem nada de Latívia, Diva! - Mas ali já era, o nome tinha “pegado” e eu não o mudaria jamais.
Já me disseram que o nome do blog parece nome de drag queen. Sem problema nenhum, afinal adoro o filme Priscila, a Rainha do Deserto. Nome de trabalhadora da mais antiga profissão, isso também me disseram. Se eu fosse me importar com a opinião urubulesca de uns e outros, me esconderia dentro de uma caixa perfumada e mudaria o nome do blog pra “lacinho cor-de-rosa”.

É essa a origem do nome do blog Diva Latívia, um nome que nasceu em uma conversa no MSN, entre palhaçadas e piadas recíprocas, Abílio e eu. Não era sério, mas ficou tão sério o negócio que cá estou a contar-lhes que raio de nome esquisito é esse.  Um nome que me conquistou aos poucos, mas definitivamente, e que tem o lastro sagrado da amizade autêntica, eterna, que hoje beija o infinito onde mora Abílio Manoel, amigo que faleceu há alguns anos. Alguém que amo, respeito, admiro entre lembranças e olhares na direção das estrelas. Saudade de Diva, saudade Latívia!

4 de ago. de 2014

STAYING ALIVE ( anos 70)



Admirei longamente a minha imagem na fotografia. Meus cabelos volumosos, longos e cacheados, era o estilo de penteado usado pela atriz Farrah Fawcett no seriado televisivo “As Panteras”. A calça jeans de cintura alta e com a boca larga, que chamavam de “ boca de sino”. A bata de renda parecida com o tipo de blusa que é usada atualmente. Não mais do que 16, 17 anos na fotografia do final da década de 70. Foto em preto e branco.
Meu perfume era o “Charlie”, da “Revlon”. Um dia, em alguma passada pelo “Dutyfree” encontrei um vidro desse perfume, uma edição especial, segundo informava a embalagem. Fiz outra viagem, essa sem avião ou malas, eu voei na direção do passado alegre, feliz e inesquecível. Aterrissei resignada quando alguém me cutucou e reclamou: “- Não está me ouvindo? Onde está com a cabeça?” - Comprei o perfume e o guardei como quem guarda um troféu. Aroma do tempo.
Sabe o que é meia soquete de lurex? A moda era usar essas meias com sandália de salto alto e arrasar na pista ao som de John Travolta, Donna Summer, As Frenéticas. Eu dançava e dançava, como se o mundo estivesse no globo espelhado a refletir a minha despreocupação com o porvir. As festas eram chamadas de bailes, bailinhos da turma, bailinhos de garagem.
Voltei a olhar para a fotografia. Amarelada, o tempo passou tão ligeiro! O que eu faria se soubesse o que aconteceria em quatro décadas, se descobrisse que eu não era invulnerável, nem invencível, nem imortal? Admirei meu reflexo no espelho, esbocei um sorriso vitorioso de quem aprendeu com lições duras da vida. “Staying Alive” não saía da minha cabeça. Dancei no ritmo da saudade e sobrevivi.