Nós dois não nos conhecíamos o bastante para que ele
soubesse que o nome sugerido para o meu blog nem sempre combinaria comigo, com
a minha personalidade. As poucas vezes que olhou pra mim – sempre arrumadinha
para passear - fantasiou sei lá quantas e quais fantasias com meu “jeito Sandy de ser”. O que é “jeito Sandy de
ser”? Bonitinha, comportadinha e pronta pra fazer propaganda da Devassa.
Simplesmente ele fantasiou tanto que chegou à equivocada conclusão: “diva/cachorra”.
Assim mesmo. Delírio irônico em prosa e versos, coisa típica de Abílio Manoel.
O mundo mudou muito dos tempos do telégrafo para a
comunicação via e-mail. Algumas pessoas conhecemos através de amigos, nem
todos conhecemos pessoalmente antes de adicionarmos aos nossos contatos das
redes sociais. Assim aconteceu comigo e Abílio. Nós dois não nos conhecíamos
pessoalmente, ao vivo. A não ser que a webcam faça esse tipo de apresentação.
Nos tornamos amigos, confidentes, quase irmãos, tudo isso via internet. O “quase
irmãos” é a minha visão dos fatos, porque ele inventou esse nome: Diva Latívia.
Irmão não faz isso, não é mesmo? Definir Abílio é algo complexo.
No dia em que decidi conhecê-lo pessoalmente, senti um
friozinho na barriga. Ali estava alguém importante pra mim, pra minha vida,
alguém que havia me contado entre lágrimas seus medos, entre risos seus sonhos,
que voltava das aventuras amorosas e confidenciava quem era a gata da vez, ou
expunha seu sofrimento por amar e não se considerar amado. Alguém que
interpretava de modo generoso, mas nem sempre tão generoso, as palavras que eu
dedilhava em nossas conversas sem fim via MSN, e-mails. Nos papos divertidos ao
telefone, ele com seu leve sotaque lusitano e voz de garoto. Olhamos um para o
outro e o tempo parou de modo reverente. Pura emoção: o meu melhor amigo
conheci na internet! (Deus te abençoe, World Wide Web).
Foi nesse dia que ele me disse: - você não tem nada de Latívia, Diva! - Mas
ali já era, o nome tinha “pegado” e eu não o mudaria jamais.
Já me disseram que o nome do blog parece nome de drag queen.
Sem problema nenhum, afinal adoro o filme Priscila, a Rainha do Deserto. Nome
de trabalhadora da mais antiga profissão, isso também me disseram. Se eu fosse
me importar com a opinião urubulesca de uns e outros, me esconderia dentro de
uma caixa perfumada e mudaria o nome do blog pra “lacinho cor-de-rosa”.
É essa a origem do nome do blog Diva Latívia, um nome que
nasceu em uma conversa no MSN, entre palhaçadas e piadas recíprocas, Abílio e
eu. Não era sério, mas ficou tão sério o negócio que cá estou a contar-lhes que
raio de nome esquisito é esse. Um nome
que me conquistou aos poucos, mas definitivamente, e que tem o lastro sagrado
da amizade autêntica, eterna, que hoje beija o infinito onde mora Abílio
Manoel, amigo que faleceu há alguns anos. Alguém que amo, respeito, admiro
entre lembranças e olhares na direção das estrelas. Saudade de Diva, saudade Latívia!