Admirei longamente a minha imagem na fotografia. Meus
cabelos volumosos, longos e cacheados, era o estilo de penteado usado pela
atriz Farrah Fawcett no seriado televisivo “As Panteras”. A calça jeans de
cintura alta e com a boca larga, que chamavam de “ boca de sino”. A bata de
renda parecida com o tipo de blusa que é usada atualmente. Não mais do que 16,
17 anos na fotografia do final da década de 70. Foto em preto e branco.
Meu perfume era o “Charlie”, da “Revlon”. Um dia, em alguma
passada pelo “Dutyfree” encontrei um vidro desse perfume, uma edição especial, segundo informava a embalagem. Fiz outra viagem,
essa sem avião ou malas, eu voei na direção do passado alegre, feliz e
inesquecível. Aterrissei resignada quando alguém me cutucou e reclamou: “- Não
está me ouvindo? Onde está com a cabeça?” - Comprei o perfume e o guardei como
quem guarda um troféu. Aroma do tempo.
Sabe o que é meia soquete de lurex? A moda era usar essas
meias com sandália de salto alto e arrasar na pista ao som de John Travolta,
Donna Summer, As Frenéticas. Eu dançava e dançava, como se o mundo estivesse no
globo espelhado a refletir a minha despreocupação com o porvir. As festas eram chamadas de bailes, bailinhos da turma, bailinhos de
garagem.
Voltei a olhar para a fotografia. Amarelada, o tempo
passou tão ligeiro! O que eu faria se soubesse o que aconteceria em quatro décadas, se descobrisse que eu não
era invulnerável, nem invencível, nem imortal? Admirei meu reflexo no espelho,
esbocei um sorriso vitorioso de quem aprendeu com lições duras da vida. “Staying
Alive” não saía da minha cabeça. Dancei no ritmo da saudade e sobrevivi.
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