Se existe um idioma que aprecio, acho sonoro, mas duro de
aprender é o francês. Coisa do tempo de garota, quando estudei em um colégio
franco-brasileiro.
As aulas de francês aconteciam em uma sala escura, a
professora nada sorridente. Na parede o mapa da França e, desde aquela época,
cismei que eu deveria conhecer Paris.
Dizem que nós, tupiniquins vitimados pela inflação, juros e
insolação, quando muito conseguimos chegar ao bairro do Pari. Dito e feito, até
hoje não conheci Paris.
Em meus planos para o futuro está a viagem à Europa, mas
enquanto sonho e espanto os pernilongos que vieram visitar-me neste dia de
calor, recordo os tempos de escola, o uniforme horroroso de cor marrom. Época
feliz, o meu maior problema era meus cabelos: lisos e longos. Era o final dos
anos 70, a moda era o penteado de Farrah Fawcett, atriz do seriado televisivo
As Panteras. Os cabelos dela esvoaçantes, já os meus cabelos... Quanta
diferença! Era um tal de fazer escova enroladinha, usar bobes,
fixador, até cerveja passava nas longas mechas de cor aloirada, para obter
volume. E quando chovia? Ah, a chuva tratava de fazer dueto com a cervejinha e
tudo ficava meio emplastrado, emaranhado, uma tragédia que qualquer hair stylist chamaria facilmente de “horror”.
Hoje, sinceramente, prefiro a cerveja bem gelada e goela abaixo, nada de fazer
experimento alcoólico longe do meu fígado e sobre minha cabeça.
Justamente eu, que sou avessa ao uso contínuo de maquiagem,
não saía de casa para o colégio sem usar: batom, rímel, sombra e blush.
Imaginem isso aliado aos cabelos fixados com cerveja, nada a combinar com a cor
de merde do uniforme escolar, eu a
chacoalhar no ônibus da linha 001 às seis da manhã?
Meu coração era uma revolution.Vivia a me apaixonar, amores reincidentes que começavam em
minha cabeça encervejada e terminavam
no último dia do ano letivo, todos esses amores naufragavam antes mesmo do
primeiro beijo. Por falar em primeiro beijo, isso quase aconteceu no intervalo
das aulas, mas o garoto se aproximou, recuou e exclamou: - Nossa, que cheiro!
Diva, você bebeu?
Resolvi abrir o baú de velharias. Vejam o que encontrei: as
fotos daquela época. Por que será que fotos antigas podem parecer tão ridículas?
Fotografias em branco e preto, eu de blusão escolar amarrado na cintura, para
esconder as dimensões de minha bunda. Mãos cruzadas sobre o peito, para
esconder o tamanho dos meus seios. Uma espinha enorme na testa, ou será uma testa
em minha enorme espinha?
Incrível, encontrei o boletim escolar. Amarelado pelo tempo,
ali as notas a denunciar meu péssimo desempenho. A professora, Mme. Lili, anunciou solenemente: - “Divá ( ela me chamava assim, o
A bem aberto): sua notá está péssimá! Zerrô erra o que você merreciá, mas deste
vez eu deixá pra lá e te dar quatrrrro”-. Creiam, achei a nota excelente, porém
a média era sete. Foi um custo passar de ano, mas esse dia chegou: estudei, mas
estudei tanto que até hoje sei conjugar o verbo ètre.. Resta a inflação não nos devorar, o euro não disparar e o
mundo não acabar. Paris, je suis Diva
Latívia!
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