Há vários
dias as palavras que eu gostaria de te dizer vieram em momentos inusitados.
Durante o sono, em meio a alguma refeição, na estrada entre uma cidade e outra,
até mesmo durante um corte de cabelo a inspiração surgiu e essas palavras me
comoveram profundamente. Palavras que pareceram perfeitas.
Sem um
bloco de notas em todas essas ocasiões, sem lápis, caneta, notebook, perdi as
palavras por falta de anotação. Ideias são feito folhas secas ao vento, elas
vêm girando, brincam aos nossos pés, rodopiam sobre nossas cabeças e vão
embora. Todas as palavras bonitas que pensei em escrever em sua homenagem
partiram intactas, em branco. O sentimento enraizado e perene, esse frutifica
belamente a cada instante.
Juntei uma
porção de fotografias de nossos momentos juntos. Você miudinho, nós dois ainda
crianças, você meu padrinho de casamento, você ao lado do meu filho, você
segurando meu cãozinho em seu colo, você fazendo força para viver. E eu chorei,
as palavras todas inundadas, afogadas dentro do meu coração.
Hoje tentei
me lembrar exatamente do que ocorreu há um ano. Um calafrio percorreu minha
espinha. Você sofria, nós todos sofríamos em dias de dezembro de 2014. E você se foi, minha mão sobre seu peito
inerte, minha impotência, meu desespero.
Acho que
você agora está se recuperando, tanta porrada que a vida nos deu, passei a
acreditar em outras vidas, em um mundo espiritual que nos recebe, cura, auxilia.
Menino, eu não me recupero facilmente, você sabe que não. E sofro, do modo mais
dramático e subversivo que você possa imaginar: você me pediu que eu não
sofresse, jamais esquecerei disso. Não se pede à chuva que não chova, ao vento
que não vente, nem se pede a mim que não sofra. Simples assim.
Por aqui
muito pouca coisa mudou em nossas vidas neste ano terrível. Alguns têm
novidades, eu não tenho tantas. Tento ser útil, nem sempre sou agradável. As
pessoas exigem a felicidade alheia, como o boiadeiro que junta a boiada, a
ordem é: todos devem estar reunidos e felizes. Eu não estou feliz e não
disfarço. Não suporto a tentativa de consolo, muito menos a mania que essa
gente tem de rezar em cima da gente. Espinhos, acho que tenho espinhos. Rosas
também têm espinhos, enfim...
Folha seca solta ao vento, sou pura inspiração
a girar no mundo da imaginação. Os
textos todos nas minhas ideias, pouca coisa escrita, quase tudo o que está
escrito guardo para mim, sem divulgar. Este texto é exceção, é meu presente para
você. Presente neste dia que é triste pra caramba, um dia que me faz lembrar o
pior dia da minha vida, mas que é carregado de emoção, amor profundo e uma
saudade absurda, que começou muito antes do dia 13 de dezembro de 2014:
lembranças da nossa infância, da nossa juventude. Saudade de nós e do nosso
mundinho perfeito, maninho!
Sonhei com
você adormecido, protegido por nossos pais. Envolto em uma bolha que parecia
ser de vidro, ali você se recuperava. E eu sei, maninho, eu sei, tive a honra
de visitá-lo. Continua firme o nosso combinado: um dia, quando eu estiver bem
velhinha, você virá me buscar. Se eu não envelhecer, o combinado continua a
valer da mesma forma. A mim, basta que seja você a me buscar.
Ainda não
recuperei as cores, o brilho, o encanto, a graça. Viver é preciso, mas para ser
feliz é preciso não sofrer perdas irreparáveis e essas perdas, infelizmente,
foram sucessivas e impiedosas. Mano, desculpe minha teimosia, meu sofrimento,
mas até o dia do nosso reencontro eu poderei mudar meu nome para “saudade”.
Tratei de colher as poucas letrinhas que caíram ao meu lado, neste pomar de ideias sem
fim. Palavras para você. Sei que as receberá. Até um dia, meu amor. Saudade...
De sua irmã
que tanto te ama,
(Texto que
escrevi para meu irmão, Flávio, que faleceu jovem e lindo no dia 13 de dezembro
de 2014).
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