O táxi dirigido por um senhor de cabelos brancos. Calculei que, possivelmente, tinha idade para ser meu pai. Talvez, setenta e cinco anos. Simpático, tom de voz de barítono. Olhou-me pelo espelhinho retrovisor.
- Farei uma corridinha curta, espero que não se incomode.
- Se pagar, não importa a distância.
Fez-se longo silêncio. Abri a bolsa, peguei o iPhone para checar as mensagens.
- A senhorita trabalha na Avenida Paulista?
Apreciei o tratamento recebido. Eu, senhorita...
- Não, senhor.
Voltou a olhar-me pelo espelho retrovistor.
- A senhorita é médica?
Achei graça. Dizem que de médicos e de doidos todos temos um pouco. Quase respondi que sou doida.
- Não, eu sou escritora.
Não sei por qual motivo disse isso. Minha profissão é outra, mas de vez em quando eu escrevo. Não é que o motorista levou isso muito a sério?
- A senhorita escreve para qual jornal?
- Escrevo para o meu blog.
- Blog? A senhorita é jornalista?
Quanta vontade de inventar uma estória. Mas, sou mais dedicada às histórias, então disse a verdade: não, senhor.
-Vou adivinhar: a senhorita é atriz? Balancei a cabeça no sentido horizontal, pra lá, pra cá.
Muito arrependida da minha sinceridade, abri meu melhor sorriso e disse: estou aposentada.
- Tão jovem, tão bonita. Aposentada tão cedo, que pena! Mas, namora? A senhorita sai para dançar?
Namorar e sair para dançar. Realmente, estou aposentada. Tão casada e tão sem dançar, acho que perdi o rumo da prosa com o meu interlocutor.
- Afinal, a senhorita deve fazer sucesso por onde vai. Jovem e bonita.
E foi então, como diziam os antigos ( tão antigos quanto eu), que a minha ficha caiu. O motorista da terceira idade estava me paquerando.
- Não senhor, eu não tenho tempo.
- Uma pena, uma moça tão jovem e tão linda deveria dançar em Paris, com champagne e caviar.
Meu ego, pobre coitado, até acordou e, de tão saltitante e feliz, precisei segurá-lo para não sair voando pela Avenida Paulista.
Cheguei ao meu destino, como se pesasse cinco quilos a menos, tivesse dez anos a menos. Pensando bem, cheguei ao meu destino a própria Senhorita Diva Latívia. Poderosa, em cima do salto. Escritora deste blog, estilo comigo ninguém pode. Para dizer a verdade, esse motorista salvou meu dia! Dançar em Paris com champagne e caviar. Ideia um tanto "brega", mas gostei!
2 comentários:
Adorando seus textos! Viciante...
Obrigada, Mahh.
Beijo,
Cláudia
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