
Voltar das férias, normalmente, é uma confusão. A arrumação da casa, das roupas, as contas que precisam ser verificadas. Assim foi o meu retorno ao lar. Lar? Qual dos lares? Moro em uma casa, mas amanheço e adormeço na casa de Divo Latívio. Vez ou outra, passo na minha casa e reabasteço a malinha com ítens necessários para o dia seguinte, quiçá para os próximos dias. Vou e volto, malinha pra lá, malinha pra cá. Por fim, não sei mais onde moro. O endereço fixo é um, o lugar onde estou é outro.
Hoje, decidi lavar toda a roupa acumulada durante alguns dias. E eis que encontrei um par de meias sociais de cor preta. Como aquilo veio parar dentro da minha mala? O proprietário incauto, Divo Latívio, deve tê-la deixado sobre o sofá da sala, sobre a cama, talvez. E ei-la em minha companhia. Indo e vindo, vai e vem. Minha casa, a casa dele. Um par de meias teima em dizer: - tá uma bagunça, heim?
Há décadas eu não namorava. Esqueça as tentativas anteriores. Namoro é almoço com a sogra, viagem com os cunhados, foto feliz de viagem de navio. O resto é figuração. E eis que, como eu dizia, há décadas eu não namorava. Meio enferrujada, sem prática, costumo passar apuros. Não sei ao certo se devo ir ou ficar. Se é hora de voltar pra casa de origem, ou me esparramar feito gata ao sol no sofá do ser amado. Por fim, quando volto ele resmunga: - Cadê você? E eu volto em poucos minutos, tempo suficiente pra percorrer os poucos quarteirões que separam nossa, digo, nossas casas.
Tamanha miscelânea, não é à toa que ando confusa. Pra ser encontrada por parentes e amigos, todos já sabem: é na casa de Divo que devo estar.
Meio cigana, acampada, sinto-me assim. Sem gaveta fixa, sem cantinho no guarda-roupa, raízes ainda se formando. Recente.
Cansada de fazer malinhas, mas faz parte do meu show. E, se um dia isso tudo mudar, que seja pra melhor. Algo me diz que esta fase é mais gostosa que sorvete de chocolate com calda de caramelo. Vou aproveitar!