Nem sou tão velha assim, mas sou de outro tempo. No “meu”
tempo os homens usavam cueca samba-canção ( qualquer coisa parecida com uma
bermuda, um cuecão), eram provedores ( pagavam todas as contas), usavam
bengala, chapéu, bigode e... Nossa, viajei no tempo! O “meu” tempo antecede a mim.
Naquela época, antes de mim, os homens cortejavam as damas,
faziam serenatas sob as janelas, os casais suspiravam apaixonados à luz do
luar. Usavam terno risca de giz, lenço no bolso do paletó, abriam as portas
para as senhoras passarem, eram galantes, cavalheiros. O “meu” tempo, que nem
vi, eu li em livros, assisti em filmes, escutei em histórias de avós, tias
velhas, gente que teve a sorte de chegar ao mundo cinquenta anos antes de mim.
Quando nasci havia neste mundo uma revolução feminina, as
moças queimavam sutiãs, os hippies pediam paz e amor e os Beatles cantavam Let
It Be. Não, aquele não foi o “meu” tempo, cheguei atrasada meio que perguntando
“cadê todo mundo?”.
E hoje, ah... Hoje eu vivo em um mundo mais maluco que
qualquer história de ficção científica. Um mundo cinzento onde tudo é
eletrônico. As pessoas passam umas pelas outras nas ruas, todas apressadas,
ninguém abre a porta pra ninguém. Os homens andam dentro de seus carros, não
fazem serenatas, nem usam chapéu. Quase ninguém
observa a lua. E eu percebo que estou fora de moda, sou de outro tempo, do tempo
em que o homem curvava-se respeitosamente, estendia sua mão à amada e a
convidava a dançar. Do tempo do vestido rodado, da flor nos cabelos, do tempo
em que o tempo parava para dar lugar ao romantismo, entre rosas e suspiros. E nem sou tão velha
assim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário