Passou o Dia Internacional da Mulher? Já acabou? Ótimo, nada
como um dia após o outro, uma data comemorativa após a outra. Enfim, passou!
Agora vem aí a Páscoa! As propagandas na TV mostram
coelhinhos, coelhões, ovinhos, ovões. Já li sobre os preços exorbitantes da
delícia embalada em papel brilhante e colorido. Chocolatinho caro esse! Mais
que isso, apesar de ser outono, o clima anda doidinho de tudo. Na Páscoa faz
calor, muito calor.
Não adianta explicar tudo isso pra Tia Violeta, ela cisma,
todos os anos, que domingo de Páscoa é dia de feijoada. Sou meio vegetariana,
digo meio porque não resisto a um churrasco de carne bovina bem passada. Porém,
pé de porco, orelha de porco e sei lá mais o quê do porco, isso eu dispenso.
Tia Violeta curte feijoada radical, com direito a tudo do porco e mais alguma
coisa. Dá medo essa feijoada!
Ano passado estávamos reunidos na casa da Prima Amélia,
filha da Tia Cândida. Enfim, tinha parente de
todo jeito, primos, filhos dos primos, primos dos primos, tios que eu não via há mais de trinta anos. Perdi a conta de quantas vezes o Tio Alaor, com noventa e oito anos de idade,me confundiu com a minha mãe!
Já que
cozinhar não é o meu forte, resolvi participar do setor dos que sentam e
esperam pra comer. Caipirinha, petisquinho e muito papo furado. A mulherada
mais prendada, vez ou outra, me lançava aquele olhar de Mariazinha, sabe como
é? Aquele arzinho de mártir fodida, esbaforida e cozinhado pra... mim!
Costumo dizer que posso pagar o restaurante. A minha parte,
evidentemente. Que culpa eu tenho se resolvem fazer feijoada “completa” no
calor do domingo de Páscoa? Mas, aquele almoço tinha começado mal, muito mal.
Prima Amélia, namorava a
Sônia Helena, sua antiga colega de cursinho pré-vestibular. Muito escutei minha
avó, boquiaberta, praguejar horrorizada a respeito do assunto. A ideia da feijoada com pé, rabo, orelha e
sabe-se mais o quê do porco, foi apoiadíssima pelo casal, que ainda
providenciou torresminho e couve refogada com muito bacon.
O almoço demorou horrores. Quando a coisa ficou pronta, eu
já estava meio tonta com tanta caipirinha. Começou a minha pescaria no panelão de feijoada:- Isso aqui
é qual parte do porco? Com medo de comer o fiofó do bicho, eu acabei me
contentando apenas com o feijão. Ainda assim, almocei cheia de receio de comer
alguma porcaria, literalmente.
Depois do almoço, veio o Tio Arnaldo, ridículo, vestido de
coelho da Páscoa. Dava uns pulinhos, segurando uma cesta lotada de ovos de
Páscoa miúdos, de marca e qualidade duvidosas.
Pra mim, ovinhos de cor vermelha e cor-de-rosa, disse o titio que pra
combinar com meus olhos. Putz, não posso beber que meus olhos ficam assim!
Comi o chocolate, aceitei o pudim das nove neves ( nem me
perguntem que diabos era isso), bebi o licorzinho de jabuticaba preparado pela
Tia Violeta. Alguém aí já ouviu falar em terremoto dentro de si? Eu senti
minhas entranhas trepidando, se revirando e nem deu tempo de correr. Vomitar é
nojento, eu sempre achei isso. Ainda bem que não me caguei, não desta vez! Vomitar é politicamente correto, cagar-se não! A culpa sempre foi atribuída às minhas caipirinhas, mas eu
tenho certeza que meu fígado rejeitou os ovinhos de Páscoa, o feijão, a couve
com muito bacon e, claro, o torresminho e o calor de 32 graus na sombra.
Neste ano haverá nova celebração na casa da Prima Amélia. Já
disseram que, desta vez, o cardápio será
outro: vatapá. Pediram que eu leve sal de frutas, só pra prevenir. Coisa dessas
mulheres que, ao invés de sentarem pra contar umas piadas ao sabor de uma
cervejinha, ficam lá na beira do fogão, com ódio de mim. Danem-se, de novo vou
sentar com a Sônia Helena e observá-la contar os últimos lances do campeonato
de futebol. Isso sim, muito mais divertido e, na pior das hipóteses, fonte
inspirativa para novos textos de Diva Latívia. Mal posso esperar!
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