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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







28 de jun. de 2013

ABÍLIO MANOEL, TRÊS ANOS DE SAUDADE

A ausência de alguém querido, breve ou longa, tem aroma de eternidade.
Seus risos, sorrisos, devaneios, sua genialidade livremente impressa e expressa.  Sua musicalidade!
De repente, sem avisar, ele foi embora. Derramei meu olhar no firmamento, a procurar estrelas no Céu, a buscar sua presença, encontrei um vazio inominável!
Abílio Manoel, mais que amigo se tornou meu irmão. Sua morte prematura, um fato que tirou de mim o chão, que machucou profundamente o meu coração.
Três anos, longa espera para nos reencontrarmos e, felizes e despreocupados, criarmos outros tantos personagens e rirmos feito bobos, crianças grandes e unidas pelo mais belo laço que se faz nesta vida: a amizade!
Saudade, meu amigo, muita saudade!

( Dia 29.06.2010 faleceu o cantor, compositor e cineasta Abílio Manoel, que nos deixou sua obra e deixou Diva Latívia, sua amiga, irmã e aprendiz de escritora).


16 de jun. de 2013

ASSUMA O SEU AMOR

Li algo mais ou menos assim: “não evite aquilo o que lhe faz bem, assuma!”.
Diversas situações passaram por minha cabeça, mas a principal foi o amor. Tanta gente evita o amor, ou não o encara frente a frente, não mergulha sem medir a profundidade do oceano.
A nossa existência aqui nesta vida, neste plano, é muito rápida, breve. Raro e belo encontrar um ser que nos entregue o que existe de mais puro e sublime, o amor. Essa devoção, dedicação, merece mais do que indiferença, relutância, mais do que a displicência de quem encara sentimentos nobres como jogo, ou brinquedo. Amar é a finalidade do existir.
Ir fundo no sentimento e permitir que o amor flua, sem diminuir a velocidade, sem cálculos matemáticos. Amor não rima com razão, amor é calor e emoção. Quem ama e é correspondido vive a mais bela edificação de sua vida, algo raro e magnífico.
Amor não rima com brincadeira, amor não é passatempo. Quem evita se envolver se joga nos braços da solidão e a conta, mais dia, menos dia, virá em forma de arrependimento, de tristeza ao enxergar-se oco, vazio, irremediavelmente ímpar. Medo de amar é a mais funda e sofrida negação da vida.
Amar requer a mais deliciosa falta de juízo. Sem conveniência social, sem jogar pra torcida, sem se importar com o que vão dizer “lá em casa”. Amar, sabendo que amanhã haverá muito mais a vivenciar desse amor. Amar sem temer repetir erros do passado, cometidos ao lado de “outras gentes”. Amar sem medo de se ferir.  Amar e viver, do jeito mais simples e bom de ser. Amar e assumir esse amor. Amar!


12 de jun. de 2013

DIA DOS NAMORADOS

É a energia propulsora da vida, o motivo melhor para seguir em frente, a razão das boas lutas e de todas as vitórias. Amor! Hoje, Dia dos Namorados, uma data celebrada de modo doce, alegre e muito romântico.
Felizes aqueles que têm um par que balança seu coração, alguém tão harmônico que sem ele, ou ela, nada mais parece fazer sentido. Quem ama vive, quem ama realiza a mais bonita missão nesta existência ao entregar a outro ser o melhor de si.
Que todos os amores sejam puros, sejam possíveis, sejam infinitos. Aos namorados, essas criaturinhas felizes, desejo ainda mais amor e muitos momentos mágicos, encantadores e inesquecíveis. Parabéns, amem-se!

8 de jun. de 2013

VOCÊ COISOU O MEU CORAÇÃO

A frase do dia, aquela que não quer se calar, li no Facebook: VOCÊ COISOU O MEU CORAÇÃO. Um compartilhamento ocasional.
Coisar, verbo transitivo, que na linguagem informal do povo brasileiro ( o mal falado português) significa tudo aquilo o que queremos dizer, mas não sabemos expressar em palavras. Você coisou o meu coração. Coisou? Conquistou, derreteu, arrebatou, atropelou, alegrou. Pode ser algo menos feliz: quebrou, abandonou, arrebentou, partiu, feriu. Porém, estamos próximos daquela data boa de ser celebrada a dois, à luz de velas, embalados por música romântica e ao sabor de vinho, ou qualquer coisa assim. Vem aí o dia dos namorados.
Namorar, também verbo transitivo, combina com coisar. Quem namora quedou-se coisado, definitivamente. Apaixonar-se é, literalmente, coisar-se. Quem se coisa não tem remédio, senão cair nos braços daquela coisa, objeto de sua paixão: o ser amado.
Coisa boa que é estar coisado, isso torna a vida uma coisa muito mais leve, gostosa, coisa boa de ser vivida. No dia dos namorados, os amantes, os românticos, os coisados apaixonados celebram a data entre beijinhos, carinho, momentos doces e bons de viver.

Para arrematar, eu deixo aqui escrita a seguinte coisa: “Você coisou o meu coração e este texto eu escrevi pra você. Que coisa!

7 de jun. de 2013

AMOR QUE ALIMENTA A ALMA

Todas as vezes que eles se encontravam acontecia a mesma coisa. Ela podia ensaiar um jeitinho de quem nada queria, ele podia fazer ar de difícil, estufar o peito e ganhar ainda mais centímetros de altura. De nada adiantava tanta pose e postura. Bastava seus olhares se cruzarem e faíscas pareciam riscar o ar. Seus corações pulsavam secretamente mais depressa, suas mãos ficavam frias. Sintomas claros de paixonite crônica. Porém, se afastavam ligeiro e tempos depois inventavam desculpas para um novo reencontro, uma conversa qualquer, um motivo leve. E lá estavam novamente a provar o friozinho na barriga, a delícia de se ver no brilho do olhar um do outro.
Às vezes deixavam passar meses e meses até o próximo encontro. Porém, nem sempre conseguiam conter seus sentimentos. Mais de uma vez se renderam ao irresistível beijo, aquele beijo que parece magnético, uma atração irresistível com total compatibilidade química e anatômica.
Anos se passaram nesse jogo de sedução, instantes breves de pura adrenalina que alimentava durante dias e meses suas almas. A cada novo encontro parecia que recarregavam sua energia para sobreviver às agruras do dia a dia. Eles eram a vitamina, o energético um do outro. Havia amor, mas não havia um relacionamento amoroso, eram amigos, apenas amigos.
Assim foi até o dia em que ela surgiu com uma aliança dourada no dedo anular esquerdo. Ele fingiu nada ver, mas a todo instante lançava um novo olhar para o adereço. Casada, ela tinha se casado e sequer havia lhe contado. O encontro foi rápido, caminharam algumas voltas juntos no parque, ele deu uma desculpa e foi embora. Foi pra casa, evitou retornar para o escritório. Deitou-se no quarto escuro e chorou feito menino. Ela tinha se casado com outro!
O tempo passou. Ele ficou sozinho e o casamento dela logo acabou. Inventaram um novo pretexto, um café para conversar a respeito do enguiço do computador. Experimentaram a mesma sensação, tudo igual. Seus olhos se encontraram, faíscas pareciam soltas no ar. Seus corações dispararam, suas mãos ficaram frias. Novos beijos, energia renovada. Naquela tarde de verão eles dois resolveram não mais se separar, casaram durante o inverno do mesmo ano e suas vidas seguem  de olhar em olhar, na batida forte de seus corações, um relacionamento apaixonado, desses feitos para durar. Amor que alimenta a alma.


4 de jun. de 2013

DIVA LATÍVIA NO METRÔ DE SÃO PAULO

Eram oito horas da manhã de quinta-feira. Apressada, de novo eu estava atrasada para chegar ao trabalho. Na plataforma da estação do metrô havia outros muitos seres humanos, a maioria deles também atrasada.  Viagem de metrô. Quem foi que disse que aquele trajeto, naquele aperto e desconforto, seja uma simples viagem?
Vinte minutos me esquivando de cotoveladas, empurrões, cutucões nas minhas costelas.  Um alívio escutar o aviso sonoro: “Próxima estação, Sé, desembarque pelo lado esquerdo do trem”. Metade dos passageiros do trem deu meio passo na direção da porta, ainda fechada. Longa espera pela abertura da porta, uma espera que pareceu longa e anormal. Um minuto e os viajantes começaram a demonstrar impaciência. Dois minutos e nada da porta abrir. Do lado de fora do trem uma multidão a esperar a abertura das portas e, dentro do trem, outra multidão a esperar a mesma coisa.  Três minutos, uma criança começou a chorar. Quatro minutos, a senhora que segurava uma sacola de supermercado, sem cerimônia, vomitou dentro do pacote.  Nada pode ser tão ruim que não possa piorar, certo? Certo! Comecei a sentir aquela dorzinha de barriga velha de guerra, aquela que surge quando fico nervosa. Meu estômago fazia malabarismo e o odor proveniente da sacola de minha companheira de viagem agravava o meu mal estar. Alguém gritou: - “Abram!”.  Outros viajantes fizeram coro: - “Abram logo esta porta!”.  Alguns, ao invés de porta falaram outro nome, feio demais para aqui ser registrado.  Começou o empurra-empurra, a gritaria, a choradeira e eu senti que estava, francamente, com caganeira. Apesar de não ser religiosa, resolvi também reagir: - “Meu Deus, socorro!”.
No café da manhã, ao contrário do que recomendou meu médico, Doutor Antenor, eu evito comer muito bem. Comer muito bem  e seguir direto pro metrô pode dar dor de barriga. Para evitar a dor de barriga, como apenas o suficiente, ou seja: pouco, quase nada. Naquela manhã fatídica, atrasada para chegar ao trabalho, tomei um café da manhã pobre, muito pobre. Bebi café preto sem açúcar, comi uma torradinha com pouca manteiga e fui, ainda mastigando, chamar o elevador, não havia tempo a perder.
Finalmente, um comunicado do Metrô: - “Senhores passageiros, por motivos técnicos os trens não estão circulando. Pedimos aos senhores passageiros que estão nas plataformas que se afastem da linha amarela, para evitar acidentes, agradecemos a sua colaboração”.
Eu quis chorar: e eu? Eu não estava na plataforma, eu estava dentro de um trem lotado de gente à beira de um ataque de nervos! Li algo a respeito de meditação, deixar que na mente passem todos os pensamentos sem se prender a nenhum deles. Pensei assim:  ”xô dor de barriga, sai fora caganeira, eu estou curada, não tenho nada”.  Pensamentos positivos, portanto.
Dezoito minutos naquele sufoco e, até que enfim, a porta do trem foi aberta. Era gente se empurrando pra sair depressa, a mulher da sacola vomitada ameaçou segurar no meu braço e eu gritei: - “Sai, que vou me cagar!”. Um homem ao meu lado tampou o nariz, como quem diz: que nojo!
A Praça da Sé, coração da cidade de São Paulo, é um vai e vem de gente que caminha rumo a tudo quanto é lugar: trabalho,  escola, sei lá pra onde. Eu caminhava a esmo, sem saber exatamente onde eu poderia usar um banheiro limpo e decente.  Livrarias sempre foram uma espécie de segundo lar pra mim. Nas livrarias eu já li muitos livros, de orelha a orelha. Já conheci escritores, já tomei muitos cafés e até um ex-namorado conheci em uma livraria. Livrarias, muitas vezes, têm o banheiro limpo e ideal para socorrer uma refugiada do metrô.  Naquele banheiro tinha enxaguante bucal, fio dental, lenço de papel e música ambiente. Nesse banheiro estiloso eu consegui resolver o maior de todos os problemas que tive na vida (assim dimensionei o meu drama naquele instante de aperto). Para disfarçar o meu único intuito – ir ao banheiro - passei rapidinho pela sessão de livros jurídicos e agarrei o Código de Defesa do Consumidor, que depressa larguei na sessão de romances policiais, a observar de rabo de olho se alguém notava minhas verdadeiras intenções. Não levei o código, mas foi um excelente álibi para o meu ingresso no recinto. Cheguei atrasada ao trabalho, por motivos mais do que justificados, mas cheguei feliz, livre, leve e solta.