Todas as vezes que eles se encontravam acontecia a mesma
coisa. Ela podia ensaiar um jeitinho de quem nada queria, ele podia fazer ar de
difícil, estufar o peito e ganhar ainda mais centímetros de altura. De nada
adiantava tanta pose e postura. Bastava seus olhares se cruzarem e faíscas
pareciam riscar o ar. Seus corações pulsavam secretamente mais depressa, suas
mãos ficavam frias. Sintomas claros de paixonite crônica. Porém, se afastavam
ligeiro e tempos depois inventavam desculpas para um novo reencontro, uma
conversa qualquer, um motivo leve. E lá estavam novamente a provar o friozinho
na barriga, a delícia de se ver no brilho do olhar um do outro.
Às vezes deixavam passar meses e meses até o próximo encontro.
Porém, nem sempre conseguiam conter seus sentimentos. Mais de uma vez se
renderam ao irresistível beijo, aquele beijo que parece magnético, uma atração irresistível com total compatibilidade química e anatômica.
Anos se passaram nesse jogo de sedução, instantes breves de
pura adrenalina que alimentava durante dias e meses suas almas. A cada novo
encontro parecia que recarregavam sua energia para sobreviver às agruras do dia
a dia. Eles eram a vitamina, o energético um do outro. Havia amor, mas não
havia um relacionamento amoroso, eram amigos, apenas amigos.
Assim foi até o dia em que ela surgiu com uma aliança
dourada no dedo anular esquerdo. Ele fingiu nada ver, mas a todo instante
lançava um novo olhar para o adereço. Casada, ela tinha se casado e sequer
havia lhe contado. O encontro foi rápido, caminharam algumas voltas juntos no
parque, ele deu uma desculpa e foi embora. Foi pra casa, evitou retornar para o
escritório. Deitou-se no quarto escuro e chorou feito menino. Ela tinha se
casado com outro!
O tempo passou. Ele ficou sozinho e o casamento dela logo
acabou. Inventaram um novo pretexto, um café para conversar a respeito do enguiço
do computador. Experimentaram a mesma sensação, tudo igual. Seus olhos se
encontraram, faíscas pareciam soltas no ar. Seus corações dispararam, suas mãos
ficaram frias. Novos beijos, energia renovada. Naquela tarde de verão eles dois
resolveram não mais se separar, casaram durante o inverno do mesmo ano e suas
vidas seguem de olhar em olhar, na
batida forte de seus corações, um relacionamento apaixonado, desses feitos para
durar. Amor que alimenta a alma.
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