Estava saindo de casa apressada, mal tranquei a porta do meu
apartamento e minha vizinha também saiu para o corredor. Em seu colo o pequeno
Bernardo, um bebê de dez meses de idade. Gorduchinho, olhinhos muito vivos. A
jovem mãe sentiu-se orgulhosa quando elogiei a beleza e graciosidade da
criança. Enquanto aguardava a chegada do elevador brinquei com Bernardo, fiz gracinhas.
Passou ligeiro em minha lembrança o tempo em que meu filho era assim tão
miudinho, suas primeiras palavras, seus primeiros passos. Estávamos no andar
térreo quando escutei Bernardo balbuciar: "Ma, ma, ma".... A mãezinha se desfez
em sorrisos lindos.
Ma, ma, ma... Mamãe! Mãe é uma palavra tão doce, tão bonita!
Assim que voltei pra casa tentei encontrar um livro muito antigo, tão antigo
que está amarelado pelo tempo.Pra dizer a verdade, é uma verdadeira
antiguidade. Minha mãe deixou o “álbum do bebê”, com fotos minhas desde quando
nasci até os primeiros anos da minha infância. Tudo registrado: peso e altura
que eu tinha quando nasci, o nome do médico, qual era a maternidade, as
gracinhas que eu fazia. Tudo escrito com letrinha materna e caprichada.
Encontrei uma mecha de meus cabelos loiros e a anotação carinhosa: “cabelinhos
cortados pela primeira vez”. Busquei a informação que precisava: a primeira
palavra que eu pronunciei. Imaginei que tivesse sido “Ma, ma, ma...”. Qual o
quê! A primeira palavra que eu disse foi “Pa, pa, pa...”. Coitadinha da minha
mãe!
Talvez, o destino tenha dado em mim o troco. Vinte e seis
anos mais tarde, mais precisamente em 1987, meu filho pronunciou a primeira
palavra: “Au-au”. Ma, ma, ma? Isso ele falou somente depois dele ter aprendido
a falar: “pa, pa, pa”. Fiquei em terceiro lugar, medalha de bronze pra mamãe aqui.
E eu, que em um instante voltei cinquenta anos no tempo,
imagino agora o futuro. Pegar em meus braços meus netinhos e ouvi-los dizer: “vó,
vó, vó”... Claro, primeiro dirão au-au; pa,pa,pa; ma,ma,ma; vô, vô, vô e, se eu
duvidar, até "paralelepípedo" falarão antes de dizerem palavra "vovó" os moleques. Assim é
a vida. Ao menos, os últimos serão os primeiros. Mas, prefiro sair da fila
desse imenso check-in e apenas curtir as delícias da vida. Ser mãe, isso é
fonte inesgotável do mais profundo amor.
Ma, ma, ma... Saudade de você, mãe!
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