Sabe como é mulher, não sabe? Mulher é naturalmente vaidosa.
Pode ser branca, negra, amarela, azul. Pode ser terráquea, ou marciana.
Minha vaidade foi colocada à prova recentemente. Estava no
estacionamento do shopping quando encontrei ninguém menos que ele, o Zé
Raylton. Pra quem não sabe, ou não consegue lembrar do dito cujo, Zé Raylton me
abandonou em uma tarde fria e levou consigo o meu rádio. Sim, o rádio mesmo,
que eu havia comprado em dez prestações. Levou e declarou: - o rádio é meu!
Claro que eu o mandei pra aquele lugar impublicável. Deve
ter ido, porque levou o rádio e desapareceu.
Anos e anos de sumiço. Até que nos encontramos naquele
estacionamento.
Devo ter esbugalhado os olhos, ele estava enorme de tão
gordo. O topetinho que ele usava de lado e fixava com camadas generosas de gel
para cabelos, simplesmente caiu. No lugar havia uma careca lustrosa. Pensei: -
será que ele usava tic-tac na franja e eu nunca reparei?
Percebi que ele encolheu a barriga pronunciada, prendeu a
respiração. Lembrei que ele sofria de dor de barriga incurável e progressiva.
Fez cara de quem precisava ir ao banheiro. Não deixei por menos:- Oi, Zé, há
quanto tempo!
Ele se agarrou firme às sacolas de compras e respondeu algo
rapidamente, não escutei muito bem. Fui atrás. – Não sabe quem eu sou?
Parou de andar, me olhou de cima abaixo. – Dona Bárbara
Germânia! Há quanto tempo, como vai a senhora? E sua filha, a Diva, como ela
está?
Bárbara Germânia era minha mãe. Comecei a rir. – Tá falando
sério, Zé?
- A sua filha se casou?
Não aguentei. Ele realmente estava doido, ou cego, algo
assim. Resolvi entrar na onda dele. – Casou e teve dois filhos. Mudou para a
Indonésia!
- Que coisa boa. Menino ou menina?
- Menina e menino.
- Parabéns, Dona Bárbara. Foi um prazer encontrar a senhora,
mande um abraço pra Diva.
Entrei no meu carro me sentindo literalmente zoada. Será que
o Zé Raylton resolveu me sacanear? Será que ele ficou maluco? Ou... Ou será que
estou assim tão parecida com minha finada mãe?
Minha autoestima despencou no chão, coisa que nem mesmo um
litro de botóx conseguiria consertar.
Dois dias depois recebi um convite de amizade no Facebook.
Quem era? Sim, ele, o Zé. Aceitei. Primeira conversa: - Diva, sobre aquele
nosso encontro no shopping, preciso falar com você.
- Zé, minha mãe me disse que encontrou um cara parecido com
você no shopping. Só não era você porque era careca e gordo.
Foi a amizade mais rápida que fiz naquele tal de Facebook.
Durou 5 minutos. Fui deletada e bloqueada,
Coisa boa ter falado com o Zé.
Este texto se parece muito com tudo aquilo o que escrevíamos no antigo blog, Janela das Loucas. Escrevi pensando em você, meu saudoso amigo Abílio Manoel. Uma trapalhada de Diva Latívia, para adoçar os nossos dias. Saudade!
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