-
skip to main |
skip to sidebar
Ele era jovem. Tinha prestado vestibular e começado a faculdade de engenharia. Nos finais de semana ia pra balada com os amigos, gostava de motos e tinha uma namorada.
Desde pequeno evitou ser o centro das atenções. Não gostava muito de falar, era um bom ouvinte. Segundo os pais, era um ótimo menino.
Parecia tudo perfeito, a família estava orgulhosa e despreocupada. Era o filho mais velho, depois dele nasceu uma irmã, 3 anos mais nova. Gente de classe média, o pai era arquiteto, a mãe lecionava inglês.
Quando os pais fizeram um esforço e compraram em 24 prestações um carro novo, motor 1.0, foi imensa a surpresa. O presente de aniversário mais desejado e melhor que recebeu em toda a vida. 19 anos e a vida boa, simples e confortável.
Um dia desapareceu de casa o Playstation 3. Primeiro desconfiaram da faxineira. Foi dispensada sem acusações, simplesmente a despediram. Semanas depois, sumiram duas canetas-tinteiro, algo de coleção e que tinha pertencido ao avô materno.
A mãe procurou pela casa toda, em vão. Intrigados, os pais não tinham mais de quem desconfiar. Qual dos filhos teria subtraído aqueles objetos?
Uma noite ele não voltou pra casa. A família desesperada, telefonaram muitas vezes para o celular que não atendia. Procuraram a namorada, que não sabia onde ele estava. Os amigos também nada sabiam. Depois de dois dias ele voltou pra casa e sem o carro.
Já desesperados, os pais imaginaram um assalto, seqüestro. Não deu explicações, trancou-se no quarto.
Confusos e aflitos, os pais não conseguiram falar com ele até muitas horas mais tarde, quando passou pelo corredor em direção ao banheiro, calado, a barba por fazer, descabelado.
Não explicou onde esteve, o que houve, onde estava o carro. Passou alguns dias assim, o comportamento estranho, às vezes agressivo. Os pais foram à delegacia e prestaram queixa do sumiço do veículo. E foi assim que tudo começou a vir à tona.
Pergunta vai, pergunta vem, o delegado cismou que o garoto poderia estar envolvido com algo que chamou de “barra pesada”: drogas.
Incrédulo e um tanto indignado, o casal deixou a delegacia sem dar ouvidos ao que consideraram um insulto. O filho, garoto bem criado, calouro da faculdade de engenharia, não faria isso. Não tinha amigos drogados, não freqüentava lugares de “gente desse tipo”.
Tentaram esquecer o episódio, apesar da perda patrimonial que sofreram.
Uma semana depois, sumiu o notebook do pai. Assim, sem mais nem menos. E foi aí que, finalmente, passaram a considerar possível que o filho estivesse envolvido com drogas. Estaria, talvez, furtando esses objetos para pagar um traficante.
Em sua ausência, entraram em seu quarto. Reviraram gavetas, bolsos, tentaram descobrir esconderijos. E foi dentro do bolso de uma jaqueta que encontraram o que procuravam. Um tubinho, algo minúsculo. Cocaína.
O céu pareceu ter desmoronado. Por que? Essa era a pergunta que os pais se fizeram. Como isso foi acontecer em sua família? Se eram felizes, se nada lhes faltava, então por que?
Quando o filho voltou da faculdade, não sabiam por onde começar a conversa. Limitaram-se a entregar-lhe o que encontraram. Prometeu não mais usar drogas, abraçaram-se e despreocuparam-se.
Ele ainda some ocasionalmente, fica dias e dias sem voltar pra casa. O tratamento médico e psicológico que começou parece dar resultados graduais. Recusou-se a ser internado, mas os pais não perdem a esperança de que poderão convencê-lo. Tudo depende apenas dele, uma escolha que pode levá-lo ao recomeço ou ao fim.
Trancou a matrícula na faculdade, terminou o namoro e alguns amigos de infância não mais o procuraram. Os pais deixaram de dormir tranquilos e a paz mudou de endereço.
Este texto é ficção. Não foi inspirado em fatos reais e não vivenciei nada parecido. Drogas, a escolha é de cada um e o sofrimento é de muitos, especialmente da família. Acho que quando acontece um problema, seja ele qual for, por maior que seja, a postura de quem está enfrentando a dificuldade é que pode começar a produzir mudanças. Se o dependente químico se ajudar, vai sim voltar à vida. Se você tem problemas com drogas, se alguém que você ama tem esse problema, deixo aqui alguns links de lugares onde você poderá encontrar mais informações e ajuda, o Narcóticos Anônimos e o grupo de apôio aos pais, parentes e amigos dos dependentes químicos, Nar-Anon. Espero que meu texto seja útil pra alguém, em algum lugar.
Narcóticos Anônimos: http://www.na.org.br/
Nar-Anon: http://www.naranon.org.br/
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
26 de out. de 2010
DROGAS!
Ele era jovem. Tinha prestado vestibular e começado a faculdade de engenharia. Nos finais de semana ia pra balada com os amigos, gostava de motos e tinha uma namorada.
Desde pequeno evitou ser o centro das atenções. Não gostava muito de falar, era um bom ouvinte. Segundo os pais, era um ótimo menino.
Parecia tudo perfeito, a família estava orgulhosa e despreocupada. Era o filho mais velho, depois dele nasceu uma irmã, 3 anos mais nova. Gente de classe média, o pai era arquiteto, a mãe lecionava inglês.
Quando os pais fizeram um esforço e compraram em 24 prestações um carro novo, motor 1.0, foi imensa a surpresa. O presente de aniversário mais desejado e melhor que recebeu em toda a vida. 19 anos e a vida boa, simples e confortável.
Um dia desapareceu de casa o Playstation 3. Primeiro desconfiaram da faxineira. Foi dispensada sem acusações, simplesmente a despediram. Semanas depois, sumiram duas canetas-tinteiro, algo de coleção e que tinha pertencido ao avô materno.
A mãe procurou pela casa toda, em vão. Intrigados, os pais não tinham mais de quem desconfiar. Qual dos filhos teria subtraído aqueles objetos?
Uma noite ele não voltou pra casa. A família desesperada, telefonaram muitas vezes para o celular que não atendia. Procuraram a namorada, que não sabia onde ele estava. Os amigos também nada sabiam. Depois de dois dias ele voltou pra casa e sem o carro.
Já desesperados, os pais imaginaram um assalto, seqüestro. Não deu explicações, trancou-se no quarto.
Confusos e aflitos, os pais não conseguiram falar com ele até muitas horas mais tarde, quando passou pelo corredor em direção ao banheiro, calado, a barba por fazer, descabelado.
Não explicou onde esteve, o que houve, onde estava o carro. Passou alguns dias assim, o comportamento estranho, às vezes agressivo. Os pais foram à delegacia e prestaram queixa do sumiço do veículo. E foi assim que tudo começou a vir à tona.
Pergunta vai, pergunta vem, o delegado cismou que o garoto poderia estar envolvido com algo que chamou de “barra pesada”: drogas.
Incrédulo e um tanto indignado, o casal deixou a delegacia sem dar ouvidos ao que consideraram um insulto. O filho, garoto bem criado, calouro da faculdade de engenharia, não faria isso. Não tinha amigos drogados, não freqüentava lugares de “gente desse tipo”.
Tentaram esquecer o episódio, apesar da perda patrimonial que sofreram.
Uma semana depois, sumiu o notebook do pai. Assim, sem mais nem menos. E foi aí que, finalmente, passaram a considerar possível que o filho estivesse envolvido com drogas. Estaria, talvez, furtando esses objetos para pagar um traficante.
Em sua ausência, entraram em seu quarto. Reviraram gavetas, bolsos, tentaram descobrir esconderijos. E foi dentro do bolso de uma jaqueta que encontraram o que procuravam. Um tubinho, algo minúsculo. Cocaína.
O céu pareceu ter desmoronado. Por que? Essa era a pergunta que os pais se fizeram. Como isso foi acontecer em sua família? Se eram felizes, se nada lhes faltava, então por que?
Quando o filho voltou da faculdade, não sabiam por onde começar a conversa. Limitaram-se a entregar-lhe o que encontraram. Prometeu não mais usar drogas, abraçaram-se e despreocuparam-se.
Ele ainda some ocasionalmente, fica dias e dias sem voltar pra casa. O tratamento médico e psicológico que começou parece dar resultados graduais. Recusou-se a ser internado, mas os pais não perdem a esperança de que poderão convencê-lo. Tudo depende apenas dele, uma escolha que pode levá-lo ao recomeço ou ao fim.
Trancou a matrícula na faculdade, terminou o namoro e alguns amigos de infância não mais o procuraram. Os pais deixaram de dormir tranquilos e a paz mudou de endereço.
Este texto é ficção. Não foi inspirado em fatos reais e não vivenciei nada parecido. Drogas, a escolha é de cada um e o sofrimento é de muitos, especialmente da família. Acho que quando acontece um problema, seja ele qual for, por maior que seja, a postura de quem está enfrentando a dificuldade é que pode começar a produzir mudanças. Se o dependente químico se ajudar, vai sim voltar à vida. Se você tem problemas com drogas, se alguém que você ama tem esse problema, deixo aqui alguns links de lugares onde você poderá encontrar mais informações e ajuda, o Narcóticos Anônimos e o grupo de apôio aos pais, parentes e amigos dos dependentes químicos, Nar-Anon. Espero que meu texto seja útil pra alguém, em algum lugar.
Narcóticos Anônimos: http://www.na.org.br/
Nar-Anon: http://www.naranon.org.br/
LEIA TAMBÉM
GOSTINHO DE HORTELÃ
A vida é bailarina na pontinha dos pés. Seus gestos são de menina que imagina o infinito aqui. Coração que bate, laço de fita, amar ...
OS MAIS LIDOS
-
O que fazer quando ele não quer casar, quando ela não quer casar? Um namoro deveria rumar pra um compromisso sério, sem passos trôpegos, ...
-
A frase do dia, aquela que não quer se calar, li no Facebook: VOCÊ COISOU O MEU CORAÇÃO. Um compartilhamento ocasional. Coisar, verbo t...
-
No último final de semana acompanhei meu namorado em uma confraternização de final de ano. Amigos se reuniram para celebrar a vida. Impressi...
-
Ela somente conseguiu acreditar que não foi apenas um sonho bom, quando abriu os olhos e lá estava o buquê de flores do campo. Aproximou-se ...
Postagens em Arquivo
Quem sou eu
Minha lista de blogs
-
-
Lindas gatinhas para adoção - Eu resgatei essas duas meninas junto com sua mãezinha, que tinha acabado de dar cria no meio de um depósito de sucata. Eu cuidei delas, castrei, vacinei ...
-
Doação de Ração - Amigos, nós cuidamos de 240 cães que foram abandonados pelas ruas e estradas. Estão todos em nosso sítio de Itapecerica da Serra, SP, que por sinal está to...
-
JANELA DAS LOUCAS – Com quantos e por que? - Este blog nasceu de um delirio entre amigos quando constatamos que Carolina – uma grande amiga do MSN – continuava solitária, 10 anos mais velha, porém rep...
-
Etimologia – ou Etiologia, como queiram! - Dentre os meus interesses, digamos assim, intelectuais e totalmente descompromissados, aquém do que se pudesse chamar de amor ou paixão, mas à frente da si...
2 comentários:
Infelizmente as drogas acabam com tudo, sem exceções! O mundo das drogas às vezes é meio que sem volta, então devemos pensar muito antes de dar aquela primeira 'experimentadinha' porque em certos casos pode ser fatal.
Adorei o texto.
Seguindo seu blog, passa lá no meu e segue também.
Beijos
Sim, Madonna, o caminho é triste e a volta é complicada. É difícil as pessoas saberem, ainda mais quando são muito jovens, que não experimentar drogas é uma decisão acertada, expressão de amor próprio. Ser livre é saber dizer sim para algumas coisas e NÃO para outras determinadas coisas. Nunca experimentei sequer um baseado, o cheiro eu acho insuportável. Pra quê? Sempre pensei assim. Lamento por quem está passando por isso, pela família de quem está nessa parada triste. E fiz o texto, espero que alguém buscando ajuda o leia.
Estou também acompanhando o seu blog. Gostei muito!
Beijo
Postar um comentário