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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







21 de jul. de 2012

LOUCA DE AMOR


Ela sempre foi do tipo que se cuidava. Cuidava da saúde, cuidava das próprias finanças, cuidava da aparência. Sua casa era organizada ao extremo. Por exemplo: os alimentos na geladeira obedeciam à ordem natural de sua espécie: frutas na gaveta de baixo, legumes na gaveta de cima, leite e derivados na prateleira da porta. Tudo era esterilizado e etiquetado: potinhos, caixinhas, pastas e até gavetas. Alguns achavam muito chato o seu jeito de ser e viver. Assepsia era o seu lema. Vivia a repetir: “se eu limpar, não haverá bactérias”!
O namoro com Aurélio durou pouco, muito pouco. Entre um affair e outro eles dois se conheceram, se apaixonaram e feito um show de fogos de artifício tudo foi muito belo e muito breve. Pra ela inesquecível. Tratou de ocupar-se com a própria vida, trabalhou dobrado, estudou dobrado, namorou dobrado e viveu dobrado. Porém, Aurélio parecia uma sombra em sua vida. A todo instante os momentos rápidos que viveram passavam feito um filme em suas lembranças. Tornou-se cinzenta, rabugenta, exigente, metódica.
Sua ordem rigorosa se desfez quando se deparou com o novo perfil do ex, lá no Facebook. Incompreensível. Aurélio, sem contato fazia tempo, há um ano namorava Magali. Que Magali? Observou a foto da dita. Achou a rival gorda, mal ajambrada, moradora de pra lá da Serra do Tereré! Quantos defeitos ela enxergou em Magali! 
Viajou ao passado. Lembrou-se das juras de amor de Aurélio. Da vã tentativa de reconciliação. De seus galanteios e confissões intraduzíveis. Das noites de amor incandescentes, dos beijos, das loucuras que cometeram juntos. Viveu e reviveu esses momentos, um voo sem volta. Aprisionou-se em lembranças que a faziam rir, sonhar, dançar e depois chorar copiosamente.Não se conformou. 
No dia seguinte deixou os sapatos e roupas atirados na sala. No outro dia não se importou com as frutas se deteriorando na fruteira. Não foi ao cabeleireiro, nem à academia de ginástica. Tamanho era seu desgosto que sequer banho ela queria tomar. Parou de se alimentar e de trabalhar.
Ela definhou, pouco a pouco, mais e mais, até que se esqueceu de pagar a conta da internet e a conta de luz. Sem conexão, deixou de acessar o perfil do Aurélio e da Magali no Facebook. Não sabia mais se era noite, ou se era dia. Sua casa à distância exalava odor de sujeira e bolor. Olhar perdido, falas desconexas. Ela pirou e o tempo passou. Dias, semanas e meses. Pelos vizinhos foi chamado o serviço de saúde da prefeitura de sua cidade. Ela foi levada para uma instituição que abrigava pessoas doentes e sem parentes. Dizia entre dentes: Aurélio, volta!
De amor mal resolvido simplesmente enlouqueceu. Amor mal resolvido, às vezes, enlouquece.

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