Escutar isso, proferido pela minha prestimosa auxiliar do
lar, Zezé, me deixou surpresa e confusa, tudo isso ao mesmo tempo.
- Prendeu o quê, Zezé?
- Prendi o “filhadamãe” do Zé numa amarração.
Larguei o livro que estava lendo, tirei os óculos e até me
ajeitei melhor na poltrona.
- Conta, Zezé!
- Sabe a cartomante?
- Não sei!
- Sabe sim senhora, porque antes de conhecer Seu Divo a
senhora leu carta na cartomante!
- Zezé, deixe de ser folgada!
- Tá, então não conto.
Foi embora pra cozinha pisando duro, se fazendo de difícil.
Conheço bem a Zezé, sabia que sua língua estava formigando, ela estava doidinha
pra contar a história da amarração!
Já estava com sono, preparada pra ir dormir, quando ela trouxe
um chá com torradinhas. Puro pretexto pra continuar a nossa prosa.
- Vai chover no feriado, Dona Diva.
Eu fiz de conta que não escutei, bebi alguns golinhos do chá.
- Vai fazer frio no feriado, Dona Diva.
- Tá, Zezé. Pode contar sua história, prometo ouvir sem
comentar muitas coisas.
- Sabe a cartomante, Dona Diva?
Suspirei fundo, tentei me controlar. – Sei sim, aquela
cartomante que disse que eu precisava comprar uma figa preta, amarrar em uma
fita vermelha e dar de presente ao primeiro homem com quem eu fosse jantar. É
aquela cartomante?
- Essa aí! A senhora também amarrou o Seu Divo, né?
Danadinha a senhora, Dona Diva!
- Ô Zezé, você acha que amarrei o Divo? Tem cabimento isso?
- Tá, vou dormir, tá tarde. Boa noite pra senhora.
- Nananinanão! Volta aqui e termina a sua história!
- Vai me escutá?
- Vou!
- A cartomante, aquela da amarração. A senhora sabe quem é?
Minha paciência tinha acabado, mas a curiosidade só
aumentava.
- Sei quem é!
- Ah, bão! Então, a cartomante me ensinou a "amarrá" a cueca
do Zé com pimenta e água de cheiro. O Zé num vai “arresistir”.
Eu só imaginei a situação. Que horror!
- Dona Diva, dessa vez o " homi se apaxona"!
Fui dormir controlando o riso. Zé, o porteiro do nosso
edifício, mal sabia em sua inocente portaria que sua cueca havia sido subtraída
pela Zezé e que, a aquela altura, estava apimentada e perfumada com água de
cheiro.
Uma semana depois a Zezé veio chorosa resmungar: - Dona
Diva, a senhora pode me levar no Procon? Quero fazer uma queixa.
A reclamação era a seguinte: a amarração não tinha
funcionado, pior que isso, o Zé já não mais funcionava também. E ela queria seu
dinheiro da consulta esotérica de volta.
Passou vários dias desligada, amuada, emburrada. Pra
melhorar o astral da minha casa, decidi fazer uma caridade. Chamei o Zé e dei a
ele uma caixinha generosa, pra que ele convidasse a Zezé pra sair, jantar.
Ainda dei uma graninha extra pra que ele comprasse umas flores, algum mimo pra
Zezé. Tudo isso um investimento pra que meu lar voltasse à “normalidade”.
No dia seguinte, Zezé estava cantarolando na área de
serviço. A amarração finalmente tinha funcionado. E tudo foi atribuído à tal
cartomante porreta, tiro e queda, que tinha acertado na fórmula mágica da
amarração da cueca.
- Dona Diva, quando a senhora precisar “amarrá” seu Divo é
só me “entregá” uma cueca dele, tá?
Só mesmo na minha casa acontecem essas coisas. Mereço?
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