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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







5 de jul. de 2012

AMARRADO PELA CUECA


- Prendi! Prendi!
Escutar isso, proferido pela minha prestimosa auxiliar do lar, Zezé, me deixou surpresa e confusa, tudo isso ao mesmo tempo.
- Prendeu o quê, Zezé?
- Prendi o “filhadamãe” do Zé numa amarração.
Larguei o livro que estava lendo, tirei os óculos e até me ajeitei melhor na poltrona.
- Conta, Zezé!
- Sabe a cartomante?
- Não sei!
- Sabe sim senhora, porque antes de conhecer Seu Divo a senhora leu carta na cartomante!
- Zezé, deixe de ser folgada!
- Tá, então não conto.
Foi embora pra cozinha pisando duro, se fazendo de difícil. Conheço bem a Zezé, sabia que sua língua estava formigando, ela estava doidinha pra contar a história da amarração!
Já estava com sono, preparada pra ir dormir, quando ela trouxe um chá com torradinhas. Puro pretexto pra continuar a nossa prosa.
- Vai chover no feriado, Dona Diva.
Eu fiz de conta que não escutei,  bebi alguns golinhos do chá.
- Vai fazer frio no feriado, Dona Diva.
- Tá, Zezé. Pode contar sua história, prometo ouvir sem comentar muitas coisas.
- Sabe a cartomante, Dona Diva?
Suspirei fundo, tentei me controlar. – Sei sim, aquela cartomante que disse que eu precisava comprar uma figa preta, amarrar em uma fita vermelha e dar de presente ao primeiro homem com quem eu fosse jantar. É aquela cartomante?
- Essa aí! A senhora também amarrou o Seu Divo, né? Danadinha a senhora, Dona Diva!
- Ô Zezé, você acha que amarrei o Divo? Tem cabimento isso?
- Tá, vou dormir, tá tarde. Boa noite pra senhora.
- Nananinanão! Volta aqui e termina a sua história!
- Vai me escutá?
- Vou!
- A cartomante, aquela da amarração. A senhora sabe quem é?
Minha paciência tinha acabado, mas a curiosidade só aumentava.
- Sei quem é!
- Ah, bão! Então, a cartomante me ensinou a "amarrá" a cueca do Zé com pimenta e água de cheiro. O Zé num vai “arresistir”.
Eu só imaginei a situação. Que horror!
- Dona Diva, dessa vez o " homi se apaxona"!
Fui dormir controlando o riso. Zé, o porteiro do nosso edifício, mal sabia em sua inocente portaria que sua cueca havia sido subtraída pela Zezé e que, a aquela altura, estava apimentada e perfumada com água de cheiro.
Uma semana depois a Zezé veio chorosa resmungar: - Dona Diva, a senhora pode me levar no Procon? Quero fazer uma queixa.
A reclamação era a seguinte: a amarração não tinha funcionado, pior que isso, o Zé já não mais funcionava também. E ela queria seu dinheiro da consulta esotérica de volta.
Passou vários dias desligada, amuada, emburrada. Pra melhorar o astral da minha casa, decidi fazer uma caridade. Chamei o Zé e dei a ele uma caixinha generosa, pra que ele convidasse a Zezé pra sair, jantar. Ainda dei uma graninha extra pra que ele comprasse umas flores, algum mimo pra Zezé. Tudo isso um investimento pra que meu lar voltasse à “normalidade”.
No dia seguinte, Zezé estava cantarolando na área de serviço. A amarração finalmente tinha funcionado. E tudo foi atribuído à tal cartomante porreta, tiro e queda, que tinha acertado na fórmula mágica da amarração da cueca.
- Dona Diva, quando a senhora precisar “amarrá” seu Divo é só me “entregá” uma cueca dele, tá?
Só mesmo na minha casa acontecem essas coisas. Mereço?


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