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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







21 de fev. de 2014

LUCY IN THE SKY WITH DIAMONDS

Acordei mexida. Sim, mexida, remexida e atentem para o detalhe: sem rebolado! Ao contrário de minha Tia Assunta, ex-vedete do teatro de revista, não gosto de muito brilho, nem maquiagem, fujo dos flashes fotográficos e minhas vestes são discretas.
Sabem a farmácia ali da esquina? Aquela do japonês! Precisei levar uma blusa à lavanderia e o caminho a pé é relativamente curto. A miopia me obriga a usar óculos, as lentes de contato incomodam meus olhos. Cabelos presos, camiseta branca e calça jeans, lá fui eu por detrás das grossas lentes de grau. Distraída, sempre a pensar em novas ideias para meu livro, tropecei em algo parecido com um tijolo. O dedão do meu pé esquerdo esmigalhado, dolorido, ferido. Mais do que isso, dei mau jeito na coluna. Mais do que depressa, o farmacêutico veio em meu socorro. Curativo, palavras de conforto e uma caixa de um medicamento que, segundo informou, era inofensivo e porreta para curar toda e qualquer dor corporal. Voltei pra casa mancando, capengando.
Duas horas mais tarde, ainda a ver estrelas tal era a dor nas costas, decidi tomar o remedinho. Antes, li a bula. Letrinhas minúsculas, palavreado complicadíssimo. Analgésicos deveriam ser tomados com receita médica, mas eu não iria a um pronto-socorro para tratar um machucadinho simples, claro que não. Pensei um pouco e, por fim, tomei o remédio.
Deitei-me no sofá. Assim planejei: somente dez minutinhos de descanso para ajudar o medicamento a fazer efeito, depois continuarei meus afazeres. Fechei meus olhos. Adormeci e sonhei que estava em um lugar onde os animaizinhos, todos muito simpáticos, eram coloridos e fofinhos. Cores diversas: azul, laranja, cor-de-rosa. Eu deslizava, sem tocar meus pés no chão, como se andasse de skate.  Sobrevoava o arco-íris. As nuvens do céu eram esverdeadas e as flores do jardim brilhavam, com se fossem cobertas de purpurina. Um homem desconhecido apareceu e me disse assim:-  Lucy, você precisa provar quem é, cante a senha! E eu cantei “Lucy In The Sky With  Diamonds”, enquanto mergulhava em um riacho de marshmallow com morangos de todas as cores. Strawberry fields!

Despertei hoje, o dia seguinte. A coluna ainda pior, o dedão do pé inchado e dentro de minha cabeça parece acontecer um ensaio de escola de samba. E eu mexida, remexida, jurei que logo mais irei claudicante à farmácia tomar satisfações com o tal japonês. Viagens, todas elas, deveriam acontecer de modo planejado, malas prontas, passaporte em mãos. Um simples remedinho, que tremenda confusão! Bad trip!

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