Acordei mexida. Sim, mexida, remexida e atentem para o
detalhe: sem rebolado! Ao contrário de minha Tia Assunta, ex-vedete do teatro
de revista, não gosto de muito brilho, nem maquiagem, fujo dos flashes fotográficos
e minhas vestes são discretas.
Sabem a farmácia ali da esquina? Aquela do japonês! Precisei
levar uma blusa à lavanderia e o caminho a pé é relativamente curto. A miopia
me obriga a usar óculos, as lentes de contato incomodam meus olhos. Cabelos
presos, camiseta branca e calça jeans, lá fui eu por detrás das grossas lentes
de grau. Distraída, sempre a pensar em novas ideias para meu livro, tropecei em
algo parecido com um tijolo. O dedão do meu pé esquerdo esmigalhado, dolorido,
ferido. Mais do que isso, dei mau jeito na coluna. Mais do que depressa, o
farmacêutico veio em meu socorro. Curativo, palavras de conforto e uma caixa de
um medicamento que, segundo informou, era inofensivo e porreta para curar toda
e qualquer dor corporal. Voltei pra casa mancando, capengando.
Duas horas mais tarde, ainda a ver estrelas tal era a dor
nas costas, decidi tomar o remedinho. Antes, li a bula. Letrinhas minúsculas,
palavreado complicadíssimo. Analgésicos deveriam ser tomados com receita
médica, mas eu não iria a um pronto-socorro para tratar um machucadinho
simples, claro que não. Pensei um pouco e, por fim, tomei o remédio.
Deitei-me no sofá. Assim planejei: somente dez minutinhos de
descanso para ajudar o medicamento a fazer efeito, depois continuarei meus
afazeres. Fechei meus olhos. Adormeci e sonhei que estava em um lugar onde os
animaizinhos, todos muito simpáticos, eram coloridos e fofinhos. Cores
diversas: azul, laranja, cor-de-rosa. Eu deslizava, sem tocar meus pés no chão,
como se andasse de skate. Sobrevoava o
arco-íris. As nuvens do céu eram esverdeadas e as flores do jardim brilhavam,
com se fossem cobertas de purpurina. Um homem desconhecido apareceu e me disse
assim:- Lucy, você precisa provar quem
é, cante a senha! E eu cantei “Lucy In The Sky With Diamonds”, enquanto mergulhava em um riacho de
marshmallow com morangos de todas as cores. Strawberry fields!
Despertei hoje, o dia seguinte. A coluna ainda pior, o dedão
do pé inchado e dentro de minha cabeça parece acontecer um ensaio de escola de
samba. E eu mexida, remexida, jurei que logo mais irei claudicante à farmácia
tomar satisfações com o tal japonês. Viagens, todas elas, deveriam acontecer de
modo planejado, malas prontas, passaporte em mãos. Um simples remedinho, que
tremenda confusão! Bad trip!
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