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Um ano termina, outro ano começa. Assim é o tempo, ele flui, segue adiante continuamente. O ano novo inspira desejos de mudança, de começos, de recomeços. Penso naquele dizer, ao brindarmos felizes nas confraternizações com parentes e amigos: saúde! É esse o meu desejo a você. Boa saúde é o bem mais precioso que podemos ter, para trabalharmos, para estudarmos, para planejarmos o futuro, para aproveitarmos os momentos bons ao lado daqueles que amamos. Para quem está dodói, desejo a recuperação de sua saúde, com muita esperança!
Obrigada por sua companhia, por sua presença (ainda que virtual) ao longo de mais este ano. Espero o seu retorno durante todo o ano de 2012, para juntos rirmos, para falarmos de assuntos sérios, interessantes, divertidos, românticos e de tudo aquilo o que a vida nos trouxer.
Feliz ano novo, com paz, amor e... Saúde, leitor!
Diva Latívia
Alguns dias antes do Natal, minha ajudante do lar, Zezé, pediu uns dias de folga. Nada mais justo, então concedi a folga à minha querida auxiliar.
Estava eufórica, seu novo pretendente, Joelmilson, tinha feito um convite pra lá de especial.
- Ai, dona Diva, a senhora sabe o que é “salvero”?
Pensei um pouco. Será que o nome da coisa era “saveiro”? Ela disse que sim, isso mesmo!
Explique rapidamente: saveiro é um tipo de barco.
Zezé ouviu minha frase dando pulinhos de alegria. – Vou passear com o Joelmilson no “salvero” do patrão dele!
- Jura Zezé? Mas que chique!
- Só que eu não tenho roupa pra passear de “salvero”!
Providenciei tudo o que considerei necessário: um maiô, saída de praia, chapéu, óculos de sol, chinelinho e protetor solar. Zezé estava nas nuvens.
Assim que nos despedimos, ela prometeu trazer fotos do passeio de barco.
Fiquei impressionada. Alguém ter um saveiro, “salvero”, sei lá? Um patrão rico o do namorado da Zezé.
Hoje cedo, Zezé voltou de sua folga. Entrou em casa sem falar muito, foi direto pra lavanderia. Comportamento pra lá de estranho, resolvi checar o que aconteceu.
- E o passeio? Quero ver as fotos!
- Que nada, dona Diva. O “desinfeliz” do Joelmilson me enganou. Não era passeio de “salvero” não. Fui de maiô por baixo do vestido, entupida de bronzeador que a senhora me deu. Ele chegou de carro, com o rádio tocando forró. E ainda queria que eu achasse bonito isso.
Notei seu desapontamento. – Zezé, você não disse que era um passeio de barco?
- Tirei uma foto, olha só dona Diva, esse carro parece um barco?
Realmente, não era um barco, mas era uma saveiro, um carro, aquela pick-up.
Tentei explicar que o Joelmilson não a enganou, mas não adiantou nada eu dizer que o carro se chama Saveiro, igual ao barco.
Agora, Zezé resolveu aproveitar o presente que eu lhe dei, o “kit passeio de saveiro”, para o seu Réveillon na praia. Disse que o Joelmilson prometeu levá-la em um outro passeio, que o nome do lugar é Paraty. Quis saber onde fica a cidade, porque vai dar umas voltinhas, segundo disse o Joelminson. Começo a suspeitar que, de novo, ela vai passear de carro. Bem... Ao menos o Joelminson ainda não a convidou para passear de Picasso. Acho!
Quem te mandou entrar na minha vida assim, devagarzinho? Quem te mandou me cutucar, me inspirar, encontrar nesse meu emaranhado de emoções a capacidade de expressar sentimentos assim, escrevendo? Você, que partiu desta vida de repente, precocemente. Meu irmão, meu amigo Abílio Manoel.
Gostar de escrever, isso sempre gostei. Mas, a vida parece ter congelado esse dom. Mais de vinte anos sem arriscar um só versinho, uma só prosinha. E foi você, meu amigo tão amado, quem me entregou essa tarefa. A brincadeira, no seu blog, o Janela das Loucas. Mandei um texto contando minha desventura amorosa mais recente. Entre muitos risos, muitas brincadeiras, nasceu Diva Latívia. O presente bonito que ganhei, o layout deste blog aqui, quem fez foi você, meu webmaster, meu editor cabeça-dura.
O sucesso. Quem diria, você me entregou sucesso. O nosso último abraço, a sua promessa de sempre voltarmos a nos encontrar. A sua morte em uma tarde de junho de 2010.
Quis continuar, Abilinho, mas quem disse que eu soube assim fazer? Era tão complicado viver, correr, enfrentar os dias! O Janela ficou sozinho e, hoje, ele partiu pra pertinho de você.
Hoje, o blog Janela das Loucas partiu para o infinito, onde moram as estrelas. Foi pra pertinho do Abílio.
Por problemas técnicos, o blog Janela das Loucas foi hoje encerrado. Viveu exatamente dois anos, cinco meses e três dias.
Sinto tristeza, sinto saudade de um tempo recente, tudo parece tão presente.
Diva Latívia
Fiquei surpresa quando tentei acessar o meu blog, a partir do Google Chrome, e recebi o mesmo aviso que alguns leitores receberam. Meu blog parecia estar infectado por um malware, ou seja, por algo virótico e nocivo para a nossa navegação na internet. Entrei imediatamente em contato com o Google, forneci explicações necessárias, fiquei muito preocupada.
O problema já foi resolvido, ao que parece teve origem no blog que estava associado ao meu, o querido Janela das Loucas, do meu saudoso amigo Abílio Manoel. Infelizmente, como medida profilática, desliguei o Diva Latívia do Janela das Loucas.
Espero que os leitores me desculpem, apesar do tal malware não ter sido por mim causado.
Podem agora acessar o meu blog com tranquilidade.
Obrigada,
Diva Latívia
Uma pena que o mundo esteja sempre em guerra. Uma pena que as notícias dos jornais sejam assustadoras, carregadas de tristeza. Uma pena que a gente tenha a cada dia menos tempo para si mesmo, para aqueles que amamos, para refletirmos, e para agradecermos ao nosso Criador. Chegou o Natal, já desejei a todos boas festas, mas faltou deixar aqui o meu agradecimento ao Papai do Céu.
Querido Papai do Céu,
Você me trouxe um presente lindo no último Natal: meu Divo e sua bela família. Desde então, eu não soube mais o que é solidão. Todos os domingos eu tive o aroma, o calor e o aconchego de um lar materno. Ganhei de presente uma sogra com sorriso, olhar e carinho de mãe. Tenho três irmãos biológicos, mas ganhei outros irmãos. Tenho sobrinhos, ganhei mais sobrinhos.
Eu sei que foi Você quem promoveu essa mudança boa em minha vida, que Você assistiu minha dor, quando lutei ao lado de minha mãe e ela não resistiu, foi embora pro Céu. Eu sei que Você acompanhou meu sofrimento, ao enfrentar dificuldades incontáveis para organizar minha vida depois desse episódio. Quem me deixou a missão de cuidar do meu irmãozinho mais novo, que é deficiente.
Papai do Céu, Você me amparou, me deu Sua mão, me carregou em Seu colo quando imaginei que não seria capaz de enfrentar tantas dificuldades. Foi Você quem me trouxe mais amigos, quem me inspirou para escrever tantos textos neste blog. Eu hoje tenho muito que agradecer e pouco que pedir. Meu único pedido é a CURA do meu irmão Flávio e, se não for pedir demais, a boa saúde de todos nós, especialmente a do meu menininho, o Gabriel.
De Sua filha, aquela que neste blog assina Diva Latívia.
Ajuda de tia é pouca, mas não aceitar a ajuda da tia, em plena mudança de casa, isso eu apenas faria se fosse louca! Tia Marieta mora pra lá da Serra do Tereré, exatos quatrocentos e trinta quilômetros de estrada. Tão perto do final do ano, senti pena quando ela contou que passaria o Natal sozinha em casa, sem os filhos, sem os netos. Praticamente se convidou: posso ir pra sua casa? Sem alternativa, imbuída do mais puro espírito natalino, chamei a titia pra nos visitar.
O ônibus chegou na rodoviária meia hora atrasado. A plataforma lotada de gente carregando crianças chorando, caixas de papelão, trouxas, malas, sacolas. Um inferno rodoviário! Titia desceu do ônibus com dificuldade, esbaforida, desalinhada. O abraço que esbocei ela praticamente recusou: Diva, estou morta, sua casa fica muito longe daqui? Tentei apresentar Divo, ela o olhou de cima abaixo, como quem observa uma minhoca, um rato, talvez. Fez uma espécie de careta.
Tia Marieta nunca se separa do Haroldo. Gatos costumam ser carinhosos, afáveis. Acho que o felino Haroldo estava também estressado com a longa viagem, confinado em uma espécie de gaiola. Assim que entramos no carro, a titia libertou o bichano, que tentou suicídio, quis saltar pela janela com o carro em movimento. Gritaria geral, foi por um triz que o pior não aconteceu.
A distância entre a rodoviária e minha nova casa é de oito quilômetros. O trânsito à véspera das festas de final de ano é caótico. Demoramos uma hora pra chegar. Orgulhosa, assim que dobramos a esquina da rua, mostrei o condomínio: titia, olhe que lindo! Ela resmungou qualquer coisa incompreensível, acho que disse um palavrão, qualquer coisa que termina com “osta”.
Descer do carro na garagem, isso pareceu uma missão impossível. Titia praticamente entalou no banco de passageiro. Precisei ajudá-la a desentalar, o Haroldo pareceu não gostar. O arranhão que ganhei no braço deixou uma cicatriz.
A bagagem necessária para uma viagem curta, de uma semana, deve ser reduzida. Uma malinha, nada além disso. Titia trouxe três malas, duas sacolas e, claro, Haroldo e sua gaiola.
O novo apartamento ainda aguardava a chegada dos móveis da sala de estar e da sala de jantar. Titia resmungou em alto e bom som: ainda não mudaram? Expliquei que a entrega da mobília aconteceria em janeiro. Irritada, Tia Marieta nem pediu licença, fez uma breve excursão pela casa. Achou pequeno o meu lar, quis saber onde iria dormir. Mostrei o escritório, o sofá-cama. Ela falou alguma coisa, comecei a achar que estava ficando surda. Será que ouvi bem? Qualquer coisa que terminava com “erda”.
Tia Marieta fez uma visita rápida, exatos quarenta minutos em minha casa. Recusou o café, a água, o uísque que Divo ofereceu. Aliás, tamanha era a tensão, que Divo bebeu dois copos de uísque duplo, cowboy. Inquieta, titia aguardou a chegada de minha prima Verinha. Foi embora pra casa de parentes que moram na zona oeste, casa grande, confortável. Disse que Haroldo tinha alergia ao cheiro de tinta, que certamente teria uma crise alérgica em meu recém-pintado apartamento. Foi embora sem ao menos desejar-nos feliz Natal.
Três dias depois, Verinha telefonou pra mim. Desesperada, não encontrava passagem de ônibus para despachar a Tia Marieta de volta. Disse que estava sobrevivendo à base de calmantes,desde que havia resgatado a titia do meu novo lar. Titia despediu a empregada de prima Vera, ateou fogo no colchão enquanto fumava seu cachimbo durante a noite, implicou com as crianças e indispôs-se com o marido de Verinha. Haroldo pendurou-se na cortina nova e estraçalhou-a de ponta a ponta. Com uma visita dessas, a solução que pareceu melhor foi devolvê-la ao lugar de onde veio: a Serra do Tereré.
Soube que depois desse episódio, Tia Marieta foi pra casa de praia da prima Elenice. Viagem curta, voltaram antes do planejado. Parece que a titia não gostava muito de areia, que a maresia estragava a permanente que havia feito nos cabelos. Não sei quem mais hospedou Tia Marieta. Ela foi de casa em casa, um jogo de empurra-empurra até que, um dia, o interfone do meu apartamento tocou. Era o porteiro para avisar que lá estava uma senhora com muitas malas e um gato. Tia Marieta rodou por toda a família e voltou pra mim.
Em menos de um dia, ela quebrou dois copos do meu jogo novo de cristal, riscou uma cadeira da sala de jantar e ofereceu ao gato uma toalha de banho novinha, branquinha e felpuda. A canequinha de louça branca, aquela que Divo prefere para beber seu café, a titia usou para guardar a dentadura.
Eu providenciei a passagem de volta da titia. Divo, de tão nervoso, roía as unhas compulsivamente, com o olhar meio perdido. Ao nos despedirmos na rodoviária, admirei feliz a partida do ônibus. Adeusinho, Titia! Adeusinho, Haroldo!
O espírito natalino é lindo. O desejo de abraçar o mundo e celebrar! Vale quase tudo, mas trazer a tia Marieta, isso foi o cúmulo do espírito de Natal. Já prometi: Tia Marieta na minha casa? Isso não acontecerá nunca mais! Sei lá onde eu estava com a cabeça! Nem Papai Noel carregaria um saco tão cheio assim!
Natal lembra a luz azulzinha da casinha de bonecas que ganhei quando tinha quatro, ou cinco anos de idade. Papai Noel deixou sob a árvore de Natal vários presentes, para mim e para meus irmãos. Os enfeites coloridos, bolinhas de vidro, cordões vermelhos e prateados. O pisca-pisca que era mágico e iluminava a nossa imaginação. O burburinho feliz, a casa lotada de gente, o aroma das delícias preparadas na cozinha. Os mais belos sonhos se realizaram na noite de Natal, ao lado de pessoas queridas.
O tempo passou, hoje nem tudo é tão perfeito assim, mas as lembranças daqueles Natais, daqueles momentos felizes, me acompanharam ao longo de toda a vida. Esteja onde eu estiver na noite de Natal, viajo ao passado e abraço meus avós, meus pais, experimento a expectativa do momento de abrir os presentes, embrulhados em papéis coloridos. A luz azulzinha da casinha de bonecas se acende e tudo se torna perfeito. Uma luz que me guia, abençoa e protege sempre, todos os dias. Amor!
Natal é esperança, a celebração do nascimento de quem veio ao mundo para nos salvar. Que seu Natal, com ou sem festa, com ou sem presentes, com muita gente ao seu redor, ou até sozinho, seja celebrado primeiramente em seu coração. O Natal acontece é no coração da gente!
Aos leitores desejo Feliz Natal!
Diva Latívia
Quando o meu joelho direito estalou, imaginei que tivesse quebrado o dito cujo. A mudança de casa já rendeu dor nas costas, dor de cabeça e vários hematomas. A unha do dedão ficou lascada, a unha da mão quebrada.
Até parece que coleciono caixas de papelão. Durante vários dias, por onde eu passava, recolhia essas caixas. Jornais, então, nem se fala. Quando o rolo de plástico-bolha terminou corri até à banca de jornal. - Moço, quero seis jornais, mas quero o mais grosso. O sujeito me olhou como se eu fosse uma alienígena. Pela rua eu parecia uma catadora de papel. A pé, carregando toda essa tranqueira. Acho, se eu sentasse na calçada, alguém lançaria uma moeda.
Hoje cedo quis encontrar um sapato para ir ao trabalho. Fora das malas, somente havia um chinelo e um par de tênis. Sexta-feira, dia de visual casual. Decidi calçar o tênis e parar em uma loja de calçados. Adquiri meu centésimo terceiro par de sapatos, uma sandalinha verde. Quando Divo soube disso, avisou que ou eu me livro de oitenta pares de sapatos, ou não haverá espaço para mais nada no apartamento. Desta vez, a aquisição aconteceu por uma boa causa.
Precisei parar na farmácia e comprar uma caixinha de band-aid. Meu dedão estava com o esmalte vermelho descascado. Um ótimo disfarce o curativo. Assim que fui ao banheiro, quase gritei quando me vi no espelho. Eu tinha esquecido de vestir o sutiã. Coisa mais absurda, como pode uma mulher sair de casa, ir pro trabalho nessa condição? É nisso o que dá tamanha correria, tamanho cansaço. Saí do banheiro, olhei ao redor, vi dois colegas proseando enquanto tomavam café. Voltei pra dentro do banheiro. Pensei e pensei. Encontrei uma solução. Telefonei para a minha valiosa ajudante do lar, a Zezé.
Assim que ela atendeu disparou: - Dona Diva, “o homi que veio ligá o fugão disse que a senhora percisa comprá uma manguera di cobri”.
- Zezé, preste atenção. Preciso de sua ajuda. Vá na gaveta do meu armário do quarto, a segunda gaveta. Pegue um sutiã bege. Depois chame um táxi e traga o sutiã pra mim, aqui no meu trabalho.
- Quê?
- Zezé, eu preciso que você traga pra mim um sutiã.
- Dona Diva, a senhora bebeu aquela cachaça do seu Divo, foi?
- Zezé, pare de fazer piada. É sério! Agora mesmo, já, pegue o sutiã no meu armário e traga aqui pra mim.
- Posso não!
- Por que?
- O homi do fugão tá instalando a manguera di cobri.
Eu comecei a sentir uma mistura de raiva com desespero.
- Tá, Zezé, eu estou indo agora mesmo pra casa.
Saí do escritório sem ao menos dizer “tchau”. Parei o primeiro táxi que vi passar. O percurso entre o escritório e a minha casa, em dias normais, demora em torno de vinte minutos. Hoje o trânsito estava totalmente travado. Demorei exatos quarenta e cinco minutos para chegar em casa.
Mal entrei, dei de cara com o tal do técnico do fogão.
O cara olhou direto pros meus peitos, apesar de eu estar agarrada à pasta de trabalho. Disse bom dia e corri pro quarto.
Problema resolvido, fui à cozinha resolver o problema do fogão. O cara explicava algo e parava o olhar exatamente no mesmo lugar. Comecei a desconfiar! A linguaruda da Zezé, só podia ser ela, provavelmente comentou algo com o homem.
Serviço terminado, chamei a Zezé pra uma conversinha.
- Ai, a senhora é "perconceituosa”. Num fiz nada, apenas disse que a senhora “tava com um pobrema dos peito”.
Voltei pro escritório fazendo de conta que jamais tinha saído de lá.
Ou eu acabo logo essa mudança, ou essa mudança logo vai acabar comigo!
Acho que minhas histórias atraem os fatos. Poderia ser o oposto, mas os textos parecem saltar do blog, eles se materializam de vez em quando.
Hoje cedo olhei pro rádio relógio, estava apagado. Muito sonolenta, concluí que faltava energia elétrica. Dia nublado, a casa um tanto escura. Na sala um amontoado de caixas de papelão, sacolas e malas. A mudança de casa ocorrerá dentro de poucos dias. Uma bagunça que já rendeu espirros, uma topada feia no dedão do pé, arranhões e uma dor nas costas incrível. Sonolenta, quis ligar o fogão, preparar o café. Sem fósforos, a missão pareceu impossível. Achei um isqueiro depois de revirar duas caixas contendo louça. Café preparado, comecei a me preocupar. Como eu poderia tomar um banho, se o chuveiro deste velho apartamento é elétrico? Suspirei resignada: canequinha ou água fria, paciência.
Banho de gata já tomado, sentei na sala. A experiência, ao sentar-me no sofá, não foi das melhores. Algo espetou meu traseiro. Divo esqueceu sob a almofada do sofá dois porta-retratos. O créc seguiu-se ao meu “ai”, de dor. Por sorte, os danos foram apenas materiais.
E eis que meu olhar percorreu o chão da sala e lá estava ela, moribunda, tonta, procurando a saída: uma barata! Tamanho médio, nojenta, horrorosa!
Quando falta luz o despertador não toca. Divo poderia ter perdido a hora, não fosse eu ter acordado cedo. Divo poderia ter despertado com meu suave chamado, meu desejo de bom dia. Porém, ele acordou com meu grito desesperado: - Divo, corre aqui, mata, mata, mata!
Pobre Divo. Levantou zonzo de sono, tropeçou no amontoado de tapetes que deixei no corredor. Com a canela esfolada, olhou pra mim do mesmo jeito que eu olhava pra barata. Acho, se ele pudesse, me daria uma vassourada.
Um casal ter uma briguinha às vésperas de mudar de casa pode ser normal. Porém, Divo e eu somos dois gatos amarrados no mesmo saco. Dois gatos amarrados no mesmo saco e em plena “operação mudança de casa”.
Uma hora depois, a energia elétrica voltou. A barata ainda jazia juntinho da porta de entrada. Divo, quando saiu pro trabalho, pulou aquele cadáver e recusou-se a chutá-la pro corredor. Foi chegando a hora de eu sair, também ir pro trabalho. Eu olhava na direção da falecida e sentia um misto de pânico com aflição. Tentei passar depressa, sem olhar pro chão, mas não conseguia. Resolvi interfonar pro porteiro, o Severino. Expliquei que um bicho tinha entrado no apartamento, que precisava que ele viesse me ajudar. Não disse que era uma barata, afinal ele poderia menosprezar meus sentimentos. Munido de vassoura e inseticida, Severino, com a chave-mestra, entrou no apartamento. Assim que apontei pra defuntinha, o homem começou a rir. – Só uma baratinha, Dona Diva?
Quando a mortinha foi removida, resolvi procurar no Google o nome da fobia de barata. Nada aparecia. Acho, de tão abalada, troquei a letra “r” pela letra “t”. De modo insistente, eu digitava “fobia de batata”.
Já que este blog também é cultura, eis o nome da fobia de batata: celulite! E o nome da fobia de barata é: catsaridafobia. Com esse nome, merece um apelido: catsa!
Algumas crianças têm medo de escuro. Eterna criança, assim eu sou. Escurinho bom é o do cinema, do meu quartinho na hora de, literalmente, dormir. Mas, escuro inesperado, isso me deixa apavorada.
O temporal caiu no final da tarde. Aquele horário da nostalgia, quase comecinho da noite. O bucólico horário da Ave Maria: dezoito horas. O vento zunia insistentemente. E eu, sozinha em casa, mal tinha chegado do trabalho e tirado os sapatos. Assim que o relâmpago veio de mãos dadas com o trovão, faltou energia elétrica. Lembrei que tinha visto uma barata cascuda no corredor, pertinho da garagem. Meu primeiro impulso foi procurar uma vassoura. Pensei: vai que a danada entre em casa? O meu segundo impulso foi sentar no sofá e recolher as pernas, para evitar o indesejável inseto. Assim fiquei , com o coração aos pulos, sei lá por quanto tempo.
O escuro foi chegando rapidamente. A luminosidade vinha dos raios. Cismei que a barata caminhava sobre o tapete. Calculei: se ela entrou pela porta da sala, se eu sair pela esquerda, não vamos as duas nos encontrar. Posso chegar à cozinha, pegar o inseticida e me defender.
Cheguei à porta da cozinha, tropecei no banquinho deixado de qualquer jeito logo de manhã. O dedinho latejava. Quis ver o tamanho do estrago, mas naquele escuro eu só podia sentir a dor. Mas que dor! Fósforos, sabia que tinha uma caixa deles. Onde? Talvez na mesma prateleira onde guardava as velas. Outro relâmpago, olhei pro pé, ao invés de olhar pra prateleira.
Tateando, cheguei a um frasquinho cilíndrico. Espirrei um pouco no ar. Que arrependimento, pude perceber que o aroma era de limpa-vidros! Continuei tateando, derrubei o rodo, a caixa de sabão em pó e o cestinho de prendedores de roupas.
Foi então que senti algo fazendo cócegas em minha perna. Gritei desesperada. Era ela, a barata! Saí desembestada pela casa, dei de cara com uma parede.
Acordei com Divo batendo de levinho no meu rosto. – Anjo, anjo! Você está bem? O que aconteceu?
A luz tinha voltado, eu estava caída no corredor. Um imenso galo na cabeça, totalmente zonza.
A barata nunca encontrei, talvez ela tenha tomado um susto tão grande quanto eu, desmaiado em algum cantinho escondido qualquer.
Desse dia em diante, passei a guardar um kit de sobrevivência para apagões de energia elétrica. Uma caixa contendo: lanterna com pilhas, fósforos, velas e inseticida. Mulher prevenida é assim!
Final de ano e seus contratempos, suas correrias infindáveis. Outro dia ganhei uma blusinha. Linda e de grife. O problema foi o tamanho da blusinha, um manequim menor que euzinha aqui. Sem tempo, aliás sem a menor vontade de ir ao shopping trocá-la, fui protelando a desagradável excursão ao lotadíssimo centro de compras. Já que não emagreci 3 kg em duas semanas, acabei achando um tempinho e fui trocar a bendita blusa. Mal entrei na loja, chiquérrima e caríssima, a vendedora veio na minha direção, sorridente e quase saltitante. Assim que proferi a minha intenção de fazer a troca da minúscula peça de roupa, aquele sorriso simpático se transformou em uma testa franzida. Por gentileza, me acompanhe, vou falar com a gerente.
A gerente parecia uma executiva ocupadíssima, uma dessas que trabalham no mercado financeiro. Nervosíssima, estressadíssima. Assim que soube que esta criatura aqui tinha adentrado na loja para realizar uma troca de mercadoria, olhou-me com profundo descaso. Pediu a blusa, pegou-a com jeito desconfiado. Olhou, olhou, examinou a etiqueta. Você comprou quando? Expliquei que não comprei, que eu ganhei. Continuou a examinar a peça. Por gentileza, a nota fiscal do produto.
Meu cérebro deve ter dado umas voltas antes de eu dizer irritada: que nota fiscal?
Não tem a nota fiscal? Sinto muito, não poderemos ajudá-la.
Mas...
Lamento, senhora, as trocas são feitas mediante a apresentação da nota fiscal da mercadoria.
Mercadoria... Pensei em outra coisa que começa com mer... Que mer...
Costumo ser gentil, educada. Porém, a paciência já estava frita e torrada. Desde quando alguém que ganha um presente recebe a nota fiscal, especialmente de roupas?
Alegação da tal gerente da loja: entre em contato com a pessoa que te deu o presente e peça a nota fiscal. Pra piorar, disse que eu poderia ir pra Granja Viana ou Ituverava trocar a blusa, pois lá são feitas as trocas sem nota fiscal.
Uma loja de grife de renome perdeu uma cliente em potencial: Diva Latívia.
Não sei se vou emagrecer, nem sei quantos quilos irei emagrecer. Talvez, em pouco tempo a blusa caiba certinho em mim, basta uns dois ou três quilos a menos e pronto. Mas, já resolvi: dessa blusa quero distância.
Mal saí da loja, tocou meu celular. Era o Divo. Queria saber onde eu estava. Na verdade, eu estava em uma espécie de inferno lotado de gente fazendo compras natalinas. Pra espairecer, relaxar, tratar de esquecer, comprei duas sandálias. E tem coisa melhor que comprar sapatos para compensar todo e qualquer sofrimento?
O que você quer ganhar de Natal? A pergunta , que ele não respondeu, me levou ao shopping duas vezes. Olhei vitrines, entrei em várias lojas. Tudo parecia bonito, mas tão sem graça! Acho que presente bom é aquele simples, mas que combina certinho com a personalidade e a necessidade do presenteado.
Pensei em comprar uma máquina de fazer pães pra ele. Achei loucura, isso certamente ficaria encostado em algum canto da cozinha. Pensei depois em comprar um novo relógio de pulso, algo de grife. Outra bobagem, ele tem tantos relógios! Eis que, entre um corredor e outro do shopping, resolvi sentar em um banco, pra descansar. Bem em frente ao local onde eu estava sentada, havia uma agência de viagens. Acho, meus olhos devem ter brilhado. Entrei e perguntei sobre todos os pacotes de viagens interessantes para o mês de janeiro. Resolvi qual seria o presente de Natal dele: a nossa viagem de lua-de-mel.
Foi assim que Divo teve que tirar férias, foi assim que eu também pedi férias. Em plena correria de final de ano, falta muito que fazer para encerrar todo o meu trabalho. Falta muito também para terminar de preparar a mudança para a casa nova. Mas, em meio a tamanho corre-corre estou feliz. Muito feliz. E tem coisa melhor que começar tudo do zero? Ano novo, vida nova, casamento novo. Estou que é só alegria!
Este é um dos últimos textos que publico em 2011. Um ano com altos e baixos. Saudade, perdas, preocupações, contratempos. Mas, em meio a todo o temporal, Divo e eu permanecemos juntos, na alegria e na tristeza. O resultado disso é o casamento que aconteceu quietinho, sem alarde, sem ao menos percebermos. Casados no coração, um laço bonito, feito pra durar. O Amor nos torna mais belos, nosso olhar se modifica!
Ano que vem muitas histórias haverão de inspirar meus textos. Casa nova, empregada nova, vizinhos novos, acontecimentos muitos que deverão caber em letrinhas aqui publicadas. Entendem agora por que ando sumida? Quantas emoções!
Acordei sentada diante do computador. Ao meu lado um copinho de café com leite. Bebo café no copo, isso dá mais gosto. Primeira coisa que li: Morreu o ex-jogador Sócrates.
Quem perdeu alguém que amava para o alcoolismo chora aos pouquinhos, diariamente, indefinidamente. Pela perda, pela dor, pela impotência. Eu choro um pouquinho todos os dias.
Como se diz por aí, o que não mata, engorda. O álcool consegue fazer as duas coisas: engorda e mata também.
Beber pra comemorar, beber socialmente. Beber com os amigos. Beber naquele churrasco de final de semana. Beber pra afogar as mágoas. Beber pra esquecer. E então, um dia, alguém começa a beber muitas vezes, beber regularmente, beber e beber. Os danos não se limitam a si mesmo, extravasam o corpo e atingem a vida de quem está perto de si.
Para o alcoolismo perdi pessoas que eu amava profundamente. O alcoolismo dessas pessoas matou o brilho do meu olhar, quando eu ainda era jovem, muito jovem. O alcoolismo de quem estava muito perto de mim destruiu sonhos bonitos que eu plantava. O alcoolismo de quem estava ao meu lado tirou de mim a alegria dos finais de semana. Apagou as luzes de muitas festas de Natal em família. Arrancou de mim a paz.
Lamento pelo Doutor Sócrates. Lamento especialmente por sua família, pelos que tentaram ajudá-lo em vão. A dor de quem perde um parente, um amigo para o vício de uma droga qualquer, é dilacerante. Creio que se assemelha à dor de quem saltou na água para tentar salvar alguém se afogando, mas não conseguiu salvá-lo. Assim me senti quando enterrei quem amava: ineficaz. Não consegui.
Descanse em paz, Sócrates. Que pena, percorrer esse caminho do alcoolismo é caminhar na beirada do desfiladeiro. Adeus.
Eu lhes devo uma explicação, leitores.
Atire a primeira pedra, ou "clique aqui" quem nunca teve problemas de conexão da internet. Fui inventar uma moda nova, adquiri um novo modem para o meu notebook. Tudo funcionou muito bem durante as primeiras semanas. Pouco a pouco a internet ficou lenta. Mais e mais, mais e mais... Até eu ficar completamente sem conexão. Comecei a telefonar para a operadora de celular, reclamei, resmunguei, mudei as configurações do tal do modem. E nada! Adquiri um novo modem, quase enlouqueci, aliás quase enlouqueci os funcionários da tal operadora e Divo, que não é flor que se cheire, anda mais zangado comigo do que nunca. Irritante, irritável, sem internet eu fico insuportável. Muito pior que tudo isso foi a falta de comunicação. Quem não se comunica, não publica. Não pude divulgar meus últimos textos durante vários dias. Agora, assim parece, tudo voltou ao normal. Tomara que meus textos possam, daqui em diante, chegar até vocês. Senti saudade!
Diva Latívia
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
28 de dez. de 2011
FELIZ ANO NOVO!
Um ano termina, outro ano começa. Assim é o tempo, ele flui, segue adiante continuamente. O ano novo inspira desejos de mudança, de começos, de recomeços. Penso naquele dizer, ao brindarmos felizes nas confraternizações com parentes e amigos: saúde! É esse o meu desejo a você. Boa saúde é o bem mais precioso que podemos ter, para trabalharmos, para estudarmos, para planejarmos o futuro, para aproveitarmos os momentos bons ao lado daqueles que amamos. Para quem está dodói, desejo a recuperação de sua saúde, com muita esperança!
Obrigada por sua companhia, por sua presença (ainda que virtual) ao longo de mais este ano. Espero o seu retorno durante todo o ano de 2012, para juntos rirmos, para falarmos de assuntos sérios, interessantes, divertidos, românticos e de tudo aquilo o que a vida nos trouxer.
Feliz ano novo, com paz, amor e... Saúde, leitor!
Diva Latívia
A VOLTA DE QUEM NÃO FOI
Alguns dias antes do Natal, minha ajudante do lar, Zezé, pediu uns dias de folga. Nada mais justo, então concedi a folga à minha querida auxiliar.
Estava eufórica, seu novo pretendente, Joelmilson, tinha feito um convite pra lá de especial.
- Ai, dona Diva, a senhora sabe o que é “salvero”?
Pensei um pouco. Será que o nome da coisa era “saveiro”? Ela disse que sim, isso mesmo!
Explique rapidamente: saveiro é um tipo de barco.
Zezé ouviu minha frase dando pulinhos de alegria. – Vou passear com o Joelmilson no “salvero” do patrão dele!
- Jura Zezé? Mas que chique!
- Só que eu não tenho roupa pra passear de “salvero”!
Providenciei tudo o que considerei necessário: um maiô, saída de praia, chapéu, óculos de sol, chinelinho e protetor solar. Zezé estava nas nuvens.
Assim que nos despedimos, ela prometeu trazer fotos do passeio de barco.
Fiquei impressionada. Alguém ter um saveiro, “salvero”, sei lá? Um patrão rico o do namorado da Zezé.
Hoje cedo, Zezé voltou de sua folga. Entrou em casa sem falar muito, foi direto pra lavanderia. Comportamento pra lá de estranho, resolvi checar o que aconteceu.
- E o passeio? Quero ver as fotos!
- Que nada, dona Diva. O “desinfeliz” do Joelmilson me enganou. Não era passeio de “salvero” não. Fui de maiô por baixo do vestido, entupida de bronzeador que a senhora me deu. Ele chegou de carro, com o rádio tocando forró. E ainda queria que eu achasse bonito isso.
Notei seu desapontamento. – Zezé, você não disse que era um passeio de barco?
- Tirei uma foto, olha só dona Diva, esse carro parece um barco?
Realmente, não era um barco, mas era uma saveiro, um carro, aquela pick-up.
Tentei explicar que o Joelmilson não a enganou, mas não adiantou nada eu dizer que o carro se chama Saveiro, igual ao barco.
Agora, Zezé resolveu aproveitar o presente que eu lhe dei, o “kit passeio de saveiro”, para o seu Réveillon na praia. Disse que o Joelmilson prometeu levá-la em um outro passeio, que o nome do lugar é Paraty. Quis saber onde fica a cidade, porque vai dar umas voltinhas, segundo disse o Joelminson. Começo a suspeitar que, de novo, ela vai passear de carro. Bem... Ao menos o Joelminson ainda não a convidou para passear de Picasso. Acho!
27 de dez. de 2011
AO MEU IRMÃO, ABÍLIO MANOEL
Quem te mandou entrar na minha vida assim, devagarzinho? Quem te mandou me cutucar, me inspirar, encontrar nesse meu emaranhado de emoções a capacidade de expressar sentimentos assim, escrevendo? Você, que partiu desta vida de repente, precocemente. Meu irmão, meu amigo Abílio Manoel.
Gostar de escrever, isso sempre gostei. Mas, a vida parece ter congelado esse dom. Mais de vinte anos sem arriscar um só versinho, uma só prosinha. E foi você, meu amigo tão amado, quem me entregou essa tarefa. A brincadeira, no seu blog, o Janela das Loucas. Mandei um texto contando minha desventura amorosa mais recente. Entre muitos risos, muitas brincadeiras, nasceu Diva Latívia. O presente bonito que ganhei, o layout deste blog aqui, quem fez foi você, meu webmaster, meu editor cabeça-dura.
O sucesso. Quem diria, você me entregou sucesso. O nosso último abraço, a sua promessa de sempre voltarmos a nos encontrar. A sua morte em uma tarde de junho de 2010.
Quis continuar, Abilinho, mas quem disse que eu soube assim fazer? Era tão complicado viver, correr, enfrentar os dias! O Janela ficou sozinho e, hoje, ele partiu pra pertinho de você.
Hoje, o blog Janela das Loucas partiu para o infinito, onde moram as estrelas. Foi pra pertinho do Abílio.
Por problemas técnicos, o blog Janela das Loucas foi hoje encerrado. Viveu exatamente dois anos, cinco meses e três dias.
Sinto tristeza, sinto saudade de um tempo recente, tudo parece tão presente.
Diva Latívia
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COMUNICADO IMPORTANTE AOS LEITORES DO BLOG!
Fiquei surpresa quando tentei acessar o meu blog, a partir do Google Chrome, e recebi o mesmo aviso que alguns leitores receberam. Meu blog parecia estar infectado por um malware, ou seja, por algo virótico e nocivo para a nossa navegação na internet. Entrei imediatamente em contato com o Google, forneci explicações necessárias, fiquei muito preocupada.
O problema já foi resolvido, ao que parece teve origem no blog que estava associado ao meu, o querido Janela das Loucas, do meu saudoso amigo Abílio Manoel. Infelizmente, como medida profilática, desliguei o Diva Latívia do Janela das Loucas.
Espero que os leitores me desculpem, apesar do tal malware não ter sido por mim causado.
Podem agora acessar o meu blog com tranquilidade.
Obrigada,
Diva Latívia
22 de dez. de 2011
O MEU AGRADECIMENTO AO PAPAI DO CÉU
Uma pena que o mundo esteja sempre em guerra. Uma pena que as notícias dos jornais sejam assustadoras, carregadas de tristeza. Uma pena que a gente tenha a cada dia menos tempo para si mesmo, para aqueles que amamos, para refletirmos, e para agradecermos ao nosso Criador. Chegou o Natal, já desejei a todos boas festas, mas faltou deixar aqui o meu agradecimento ao Papai do Céu.
Querido Papai do Céu,
Você me trouxe um presente lindo no último Natal: meu Divo e sua bela família. Desde então, eu não soube mais o que é solidão. Todos os domingos eu tive o aroma, o calor e o aconchego de um lar materno. Ganhei de presente uma sogra com sorriso, olhar e carinho de mãe. Tenho três irmãos biológicos, mas ganhei outros irmãos. Tenho sobrinhos, ganhei mais sobrinhos.
Eu sei que foi Você quem promoveu essa mudança boa em minha vida, que Você assistiu minha dor, quando lutei ao lado de minha mãe e ela não resistiu, foi embora pro Céu. Eu sei que Você acompanhou meu sofrimento, ao enfrentar dificuldades incontáveis para organizar minha vida depois desse episódio. Quem me deixou a missão de cuidar do meu irmãozinho mais novo, que é deficiente.
Papai do Céu, Você me amparou, me deu Sua mão, me carregou em Seu colo quando imaginei que não seria capaz de enfrentar tantas dificuldades. Foi Você quem me trouxe mais amigos, quem me inspirou para escrever tantos textos neste blog. Eu hoje tenho muito que agradecer e pouco que pedir. Meu único pedido é a CURA do meu irmão Flávio e, se não for pedir demais, a boa saúde de todos nós, especialmente a do meu menininho, o Gabriel.
De Sua filha, aquela que neste blog assina Diva Latívia.
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20 de dez. de 2011
A VISITA NATALINA DE TIA MARIETA
Ajuda de tia é pouca, mas não aceitar a ajuda da tia, em plena mudança de casa, isso eu apenas faria se fosse louca! Tia Marieta mora pra lá da Serra do Tereré, exatos quatrocentos e trinta quilômetros de estrada. Tão perto do final do ano, senti pena quando ela contou que passaria o Natal sozinha em casa, sem os filhos, sem os netos. Praticamente se convidou: posso ir pra sua casa? Sem alternativa, imbuída do mais puro espírito natalino, chamei a titia pra nos visitar.
O ônibus chegou na rodoviária meia hora atrasado. A plataforma lotada de gente carregando crianças chorando, caixas de papelão, trouxas, malas, sacolas. Um inferno rodoviário! Titia desceu do ônibus com dificuldade, esbaforida, desalinhada. O abraço que esbocei ela praticamente recusou: Diva, estou morta, sua casa fica muito longe daqui? Tentei apresentar Divo, ela o olhou de cima abaixo, como quem observa uma minhoca, um rato, talvez. Fez uma espécie de careta.
Tia Marieta nunca se separa do Haroldo. Gatos costumam ser carinhosos, afáveis. Acho que o felino Haroldo estava também estressado com a longa viagem, confinado em uma espécie de gaiola. Assim que entramos no carro, a titia libertou o bichano, que tentou suicídio, quis saltar pela janela com o carro em movimento. Gritaria geral, foi por um triz que o pior não aconteceu.
A distância entre a rodoviária e minha nova casa é de oito quilômetros. O trânsito à véspera das festas de final de ano é caótico. Demoramos uma hora pra chegar. Orgulhosa, assim que dobramos a esquina da rua, mostrei o condomínio: titia, olhe que lindo! Ela resmungou qualquer coisa incompreensível, acho que disse um palavrão, qualquer coisa que termina com “osta”.
Descer do carro na garagem, isso pareceu uma missão impossível. Titia praticamente entalou no banco de passageiro. Precisei ajudá-la a desentalar, o Haroldo pareceu não gostar. O arranhão que ganhei no braço deixou uma cicatriz.
A bagagem necessária para uma viagem curta, de uma semana, deve ser reduzida. Uma malinha, nada além disso. Titia trouxe três malas, duas sacolas e, claro, Haroldo e sua gaiola.
O novo apartamento ainda aguardava a chegada dos móveis da sala de estar e da sala de jantar. Titia resmungou em alto e bom som: ainda não mudaram? Expliquei que a entrega da mobília aconteceria em janeiro. Irritada, Tia Marieta nem pediu licença, fez uma breve excursão pela casa. Achou pequeno o meu lar, quis saber onde iria dormir. Mostrei o escritório, o sofá-cama. Ela falou alguma coisa, comecei a achar que estava ficando surda. Será que ouvi bem? Qualquer coisa que terminava com “erda”.
Tia Marieta fez uma visita rápida, exatos quarenta minutos em minha casa. Recusou o café, a água, o uísque que Divo ofereceu. Aliás, tamanha era a tensão, que Divo bebeu dois copos de uísque duplo, cowboy. Inquieta, titia aguardou a chegada de minha prima Verinha. Foi embora pra casa de parentes que moram na zona oeste, casa grande, confortável. Disse que Haroldo tinha alergia ao cheiro de tinta, que certamente teria uma crise alérgica em meu recém-pintado apartamento. Foi embora sem ao menos desejar-nos feliz Natal.
Três dias depois, Verinha telefonou pra mim. Desesperada, não encontrava passagem de ônibus para despachar a Tia Marieta de volta. Disse que estava sobrevivendo à base de calmantes,desde que havia resgatado a titia do meu novo lar. Titia despediu a empregada de prima Vera, ateou fogo no colchão enquanto fumava seu cachimbo durante a noite, implicou com as crianças e indispôs-se com o marido de Verinha. Haroldo pendurou-se na cortina nova e estraçalhou-a de ponta a ponta. Com uma visita dessas, a solução que pareceu melhor foi devolvê-la ao lugar de onde veio: a Serra do Tereré.
Soube que depois desse episódio, Tia Marieta foi pra casa de praia da prima Elenice. Viagem curta, voltaram antes do planejado. Parece que a titia não gostava muito de areia, que a maresia estragava a permanente que havia feito nos cabelos. Não sei quem mais hospedou Tia Marieta. Ela foi de casa em casa, um jogo de empurra-empurra até que, um dia, o interfone do meu apartamento tocou. Era o porteiro para avisar que lá estava uma senhora com muitas malas e um gato. Tia Marieta rodou por toda a família e voltou pra mim.
Em menos de um dia, ela quebrou dois copos do meu jogo novo de cristal, riscou uma cadeira da sala de jantar e ofereceu ao gato uma toalha de banho novinha, branquinha e felpuda. A canequinha de louça branca, aquela que Divo prefere para beber seu café, a titia usou para guardar a dentadura.
Eu providenciei a passagem de volta da titia. Divo, de tão nervoso, roía as unhas compulsivamente, com o olhar meio perdido. Ao nos despedirmos na rodoviária, admirei feliz a partida do ônibus. Adeusinho, Titia! Adeusinho, Haroldo!
O espírito natalino é lindo. O desejo de abraçar o mundo e celebrar! Vale quase tudo, mas trazer a tia Marieta, isso foi o cúmulo do espírito de Natal. Já prometi: Tia Marieta na minha casa? Isso não acontecerá nunca mais! Sei lá onde eu estava com a cabeça! Nem Papai Noel carregaria um saco tão cheio assim!
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18 de dez. de 2011
FELIZ NATAL!
Natal lembra a luz azulzinha da casinha de bonecas que ganhei quando tinha quatro, ou cinco anos de idade. Papai Noel deixou sob a árvore de Natal vários presentes, para mim e para meus irmãos. Os enfeites coloridos, bolinhas de vidro, cordões vermelhos e prateados. O pisca-pisca que era mágico e iluminava a nossa imaginação. O burburinho feliz, a casa lotada de gente, o aroma das delícias preparadas na cozinha. Os mais belos sonhos se realizaram na noite de Natal, ao lado de pessoas queridas.
O tempo passou, hoje nem tudo é tão perfeito assim, mas as lembranças daqueles Natais, daqueles momentos felizes, me acompanharam ao longo de toda a vida. Esteja onde eu estiver na noite de Natal, viajo ao passado e abraço meus avós, meus pais, experimento a expectativa do momento de abrir os presentes, embrulhados em papéis coloridos. A luz azulzinha da casinha de bonecas se acende e tudo se torna perfeito. Uma luz que me guia, abençoa e protege sempre, todos os dias. Amor!
Natal é esperança, a celebração do nascimento de quem veio ao mundo para nos salvar. Que seu Natal, com ou sem festa, com ou sem presentes, com muita gente ao seu redor, ou até sozinho, seja celebrado primeiramente em seu coração. O Natal acontece é no coração da gente!
Aos leitores desejo Feliz Natal!
Diva Latívia
16 de dez. de 2011
O ESQUECIDO SUTIÃ
Quando o meu joelho direito estalou, imaginei que tivesse quebrado o dito cujo. A mudança de casa já rendeu dor nas costas, dor de cabeça e vários hematomas. A unha do dedão ficou lascada, a unha da mão quebrada.
Até parece que coleciono caixas de papelão. Durante vários dias, por onde eu passava, recolhia essas caixas. Jornais, então, nem se fala. Quando o rolo de plástico-bolha terminou corri até à banca de jornal. - Moço, quero seis jornais, mas quero o mais grosso. O sujeito me olhou como se eu fosse uma alienígena. Pela rua eu parecia uma catadora de papel. A pé, carregando toda essa tranqueira. Acho, se eu sentasse na calçada, alguém lançaria uma moeda.
Hoje cedo quis encontrar um sapato para ir ao trabalho. Fora das malas, somente havia um chinelo e um par de tênis. Sexta-feira, dia de visual casual. Decidi calçar o tênis e parar em uma loja de calçados. Adquiri meu centésimo terceiro par de sapatos, uma sandalinha verde. Quando Divo soube disso, avisou que ou eu me livro de oitenta pares de sapatos, ou não haverá espaço para mais nada no apartamento. Desta vez, a aquisição aconteceu por uma boa causa.
Precisei parar na farmácia e comprar uma caixinha de band-aid. Meu dedão estava com o esmalte vermelho descascado. Um ótimo disfarce o curativo. Assim que fui ao banheiro, quase gritei quando me vi no espelho. Eu tinha esquecido de vestir o sutiã. Coisa mais absurda, como pode uma mulher sair de casa, ir pro trabalho nessa condição? É nisso o que dá tamanha correria, tamanho cansaço. Saí do banheiro, olhei ao redor, vi dois colegas proseando enquanto tomavam café. Voltei pra dentro do banheiro. Pensei e pensei. Encontrei uma solução. Telefonei para a minha valiosa ajudante do lar, a Zezé.
Assim que ela atendeu disparou: - Dona Diva, “o homi que veio ligá o fugão disse que a senhora percisa comprá uma manguera di cobri”.
- Zezé, preste atenção. Preciso de sua ajuda. Vá na gaveta do meu armário do quarto, a segunda gaveta. Pegue um sutiã bege. Depois chame um táxi e traga o sutiã pra mim, aqui no meu trabalho.
- Quê?
- Zezé, eu preciso que você traga pra mim um sutiã.
- Dona Diva, a senhora bebeu aquela cachaça do seu Divo, foi?
- Zezé, pare de fazer piada. É sério! Agora mesmo, já, pegue o sutiã no meu armário e traga aqui pra mim.
- Posso não!
- Por que?
- O homi do fugão tá instalando a manguera di cobri.
Eu comecei a sentir uma mistura de raiva com desespero.
- Tá, Zezé, eu estou indo agora mesmo pra casa.
Saí do escritório sem ao menos dizer “tchau”. Parei o primeiro táxi que vi passar. O percurso entre o escritório e a minha casa, em dias normais, demora em torno de vinte minutos. Hoje o trânsito estava totalmente travado. Demorei exatos quarenta e cinco minutos para chegar em casa.
Mal entrei, dei de cara com o tal do técnico do fogão.
O cara olhou direto pros meus peitos, apesar de eu estar agarrada à pasta de trabalho. Disse bom dia e corri pro quarto.
Problema resolvido, fui à cozinha resolver o problema do fogão. O cara explicava algo e parava o olhar exatamente no mesmo lugar. Comecei a desconfiar! A linguaruda da Zezé, só podia ser ela, provavelmente comentou algo com o homem.
Serviço terminado, chamei a Zezé pra uma conversinha.
- Ai, a senhora é "perconceituosa”. Num fiz nada, apenas disse que a senhora “tava com um pobrema dos peito”.
Voltei pro escritório fazendo de conta que jamais tinha saído de lá.
Ou eu acabo logo essa mudança, ou essa mudança logo vai acabar comigo!
14 de dez. de 2011
VISITINHA INDESEJADA
Acho que minhas histórias atraem os fatos. Poderia ser o oposto, mas os textos parecem saltar do blog, eles se materializam de vez em quando.
Hoje cedo olhei pro rádio relógio, estava apagado. Muito sonolenta, concluí que faltava energia elétrica. Dia nublado, a casa um tanto escura. Na sala um amontoado de caixas de papelão, sacolas e malas. A mudança de casa ocorrerá dentro de poucos dias. Uma bagunça que já rendeu espirros, uma topada feia no dedão do pé, arranhões e uma dor nas costas incrível. Sonolenta, quis ligar o fogão, preparar o café. Sem fósforos, a missão pareceu impossível. Achei um isqueiro depois de revirar duas caixas contendo louça. Café preparado, comecei a me preocupar. Como eu poderia tomar um banho, se o chuveiro deste velho apartamento é elétrico? Suspirei resignada: canequinha ou água fria, paciência.
Banho de gata já tomado, sentei na sala. A experiência, ao sentar-me no sofá, não foi das melhores. Algo espetou meu traseiro. Divo esqueceu sob a almofada do sofá dois porta-retratos. O créc seguiu-se ao meu “ai”, de dor. Por sorte, os danos foram apenas materiais.
E eis que meu olhar percorreu o chão da sala e lá estava ela, moribunda, tonta, procurando a saída: uma barata! Tamanho médio, nojenta, horrorosa!
Quando falta luz o despertador não toca. Divo poderia ter perdido a hora, não fosse eu ter acordado cedo. Divo poderia ter despertado com meu suave chamado, meu desejo de bom dia. Porém, ele acordou com meu grito desesperado: - Divo, corre aqui, mata, mata, mata!
Pobre Divo. Levantou zonzo de sono, tropeçou no amontoado de tapetes que deixei no corredor. Com a canela esfolada, olhou pra mim do mesmo jeito que eu olhava pra barata. Acho, se ele pudesse, me daria uma vassourada.
Um casal ter uma briguinha às vésperas de mudar de casa pode ser normal. Porém, Divo e eu somos dois gatos amarrados no mesmo saco. Dois gatos amarrados no mesmo saco e em plena “operação mudança de casa”.
Uma hora depois, a energia elétrica voltou. A barata ainda jazia juntinho da porta de entrada. Divo, quando saiu pro trabalho, pulou aquele cadáver e recusou-se a chutá-la pro corredor. Foi chegando a hora de eu sair, também ir pro trabalho. Eu olhava na direção da falecida e sentia um misto de pânico com aflição. Tentei passar depressa, sem olhar pro chão, mas não conseguia. Resolvi interfonar pro porteiro, o Severino. Expliquei que um bicho tinha entrado no apartamento, que precisava que ele viesse me ajudar. Não disse que era uma barata, afinal ele poderia menosprezar meus sentimentos. Munido de vassoura e inseticida, Severino, com a chave-mestra, entrou no apartamento. Assim que apontei pra defuntinha, o homem começou a rir. – Só uma baratinha, Dona Diva?
Quando a mortinha foi removida, resolvi procurar no Google o nome da fobia de barata. Nada aparecia. Acho, de tão abalada, troquei a letra “r” pela letra “t”. De modo insistente, eu digitava “fobia de batata”.
Já que este blog também é cultura, eis o nome da fobia de batata: celulite! E o nome da fobia de barata é: catsaridafobia. Com esse nome, merece um apelido: catsa!
9 de dez. de 2011
QUANDO A LUZ APAGOU
Algumas crianças têm medo de escuro. Eterna criança, assim eu sou. Escurinho bom é o do cinema, do meu quartinho na hora de, literalmente, dormir. Mas, escuro inesperado, isso me deixa apavorada.
O temporal caiu no final da tarde. Aquele horário da nostalgia, quase comecinho da noite. O bucólico horário da Ave Maria: dezoito horas. O vento zunia insistentemente. E eu, sozinha em casa, mal tinha chegado do trabalho e tirado os sapatos. Assim que o relâmpago veio de mãos dadas com o trovão, faltou energia elétrica. Lembrei que tinha visto uma barata cascuda no corredor, pertinho da garagem. Meu primeiro impulso foi procurar uma vassoura. Pensei: vai que a danada entre em casa? O meu segundo impulso foi sentar no sofá e recolher as pernas, para evitar o indesejável inseto. Assim fiquei , com o coração aos pulos, sei lá por quanto tempo.
O escuro foi chegando rapidamente. A luminosidade vinha dos raios. Cismei que a barata caminhava sobre o tapete. Calculei: se ela entrou pela porta da sala, se eu sair pela esquerda, não vamos as duas nos encontrar. Posso chegar à cozinha, pegar o inseticida e me defender.
Cheguei à porta da cozinha, tropecei no banquinho deixado de qualquer jeito logo de manhã. O dedinho latejava. Quis ver o tamanho do estrago, mas naquele escuro eu só podia sentir a dor. Mas que dor! Fósforos, sabia que tinha uma caixa deles. Onde? Talvez na mesma prateleira onde guardava as velas. Outro relâmpago, olhei pro pé, ao invés de olhar pra prateleira.
Tateando, cheguei a um frasquinho cilíndrico. Espirrei um pouco no ar. Que arrependimento, pude perceber que o aroma era de limpa-vidros! Continuei tateando, derrubei o rodo, a caixa de sabão em pó e o cestinho de prendedores de roupas.
Foi então que senti algo fazendo cócegas em minha perna. Gritei desesperada. Era ela, a barata! Saí desembestada pela casa, dei de cara com uma parede.
Acordei com Divo batendo de levinho no meu rosto. – Anjo, anjo! Você está bem? O que aconteceu?
A luz tinha voltado, eu estava caída no corredor. Um imenso galo na cabeça, totalmente zonza.
A barata nunca encontrei, talvez ela tenha tomado um susto tão grande quanto eu, desmaiado em algum cantinho escondido qualquer.
Desse dia em diante, passei a guardar um kit de sobrevivência para apagões de energia elétrica. Uma caixa contendo: lanterna com pilhas, fósforos, velas e inseticida. Mulher prevenida é assim!
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8 de dez. de 2011
UM NÚMERO MENOR QUE EU
Final de ano e seus contratempos, suas correrias infindáveis. Outro dia ganhei uma blusinha. Linda e de grife. O problema foi o tamanho da blusinha, um manequim menor que euzinha aqui. Sem tempo, aliás sem a menor vontade de ir ao shopping trocá-la, fui protelando a desagradável excursão ao lotadíssimo centro de compras. Já que não emagreci 3 kg em duas semanas, acabei achando um tempinho e fui trocar a bendita blusa. Mal entrei na loja, chiquérrima e caríssima, a vendedora veio na minha direção, sorridente e quase saltitante. Assim que proferi a minha intenção de fazer a troca da minúscula peça de roupa, aquele sorriso simpático se transformou em uma testa franzida. Por gentileza, me acompanhe, vou falar com a gerente.
A gerente parecia uma executiva ocupadíssima, uma dessas que trabalham no mercado financeiro. Nervosíssima, estressadíssima. Assim que soube que esta criatura aqui tinha adentrado na loja para realizar uma troca de mercadoria, olhou-me com profundo descaso. Pediu a blusa, pegou-a com jeito desconfiado. Olhou, olhou, examinou a etiqueta. Você comprou quando? Expliquei que não comprei, que eu ganhei. Continuou a examinar a peça. Por gentileza, a nota fiscal do produto.
Meu cérebro deve ter dado umas voltas antes de eu dizer irritada: que nota fiscal?
Não tem a nota fiscal? Sinto muito, não poderemos ajudá-la.
Mas...
Lamento, senhora, as trocas são feitas mediante a apresentação da nota fiscal da mercadoria.
Mercadoria... Pensei em outra coisa que começa com mer... Que mer...
Costumo ser gentil, educada. Porém, a paciência já estava frita e torrada. Desde quando alguém que ganha um presente recebe a nota fiscal, especialmente de roupas?
Alegação da tal gerente da loja: entre em contato com a pessoa que te deu o presente e peça a nota fiscal. Pra piorar, disse que eu poderia ir pra Granja Viana ou Ituverava trocar a blusa, pois lá são feitas as trocas sem nota fiscal.
Uma loja de grife de renome perdeu uma cliente em potencial: Diva Latívia.
Não sei se vou emagrecer, nem sei quantos quilos irei emagrecer. Talvez, em pouco tempo a blusa caiba certinho em mim, basta uns dois ou três quilos a menos e pronto. Mas, já resolvi: dessa blusa quero distância.
Mal saí da loja, tocou meu celular. Era o Divo. Queria saber onde eu estava. Na verdade, eu estava em uma espécie de inferno lotado de gente fazendo compras natalinas. Pra espairecer, relaxar, tratar de esquecer, comprei duas sandálias. E tem coisa melhor que comprar sapatos para compensar todo e qualquer sofrimento?
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7 de dez. de 2011
TUDO NOVO
O que você quer ganhar de Natal? A pergunta , que ele não respondeu, me levou ao shopping duas vezes. Olhei vitrines, entrei em várias lojas. Tudo parecia bonito, mas tão sem graça! Acho que presente bom é aquele simples, mas que combina certinho com a personalidade e a necessidade do presenteado.
Pensei em comprar uma máquina de fazer pães pra ele. Achei loucura, isso certamente ficaria encostado em algum canto da cozinha. Pensei depois em comprar um novo relógio de pulso, algo de grife. Outra bobagem, ele tem tantos relógios! Eis que, entre um corredor e outro do shopping, resolvi sentar em um banco, pra descansar. Bem em frente ao local onde eu estava sentada, havia uma agência de viagens. Acho, meus olhos devem ter brilhado. Entrei e perguntei sobre todos os pacotes de viagens interessantes para o mês de janeiro. Resolvi qual seria o presente de Natal dele: a nossa viagem de lua-de-mel.
Foi assim que Divo teve que tirar férias, foi assim que eu também pedi férias. Em plena correria de final de ano, falta muito que fazer para encerrar todo o meu trabalho. Falta muito também para terminar de preparar a mudança para a casa nova. Mas, em meio a tamanho corre-corre estou feliz. Muito feliz. E tem coisa melhor que começar tudo do zero? Ano novo, vida nova, casamento novo. Estou que é só alegria!
Este é um dos últimos textos que publico em 2011. Um ano com altos e baixos. Saudade, perdas, preocupações, contratempos. Mas, em meio a todo o temporal, Divo e eu permanecemos juntos, na alegria e na tristeza. O resultado disso é o casamento que aconteceu quietinho, sem alarde, sem ao menos percebermos. Casados no coração, um laço bonito, feito pra durar. O Amor nos torna mais belos, nosso olhar se modifica!
Ano que vem muitas histórias haverão de inspirar meus textos. Casa nova, empregada nova, vizinhos novos, acontecimentos muitos que deverão caber em letrinhas aqui publicadas. Entendem agora por que ando sumida? Quantas emoções!
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4 de dez. de 2011
A MORTE DO EX-JOGADOR SÓCRATES
Acordei sentada diante do computador. Ao meu lado um copinho de café com leite. Bebo café no copo, isso dá mais gosto. Primeira coisa que li: Morreu o ex-jogador Sócrates.
Quem perdeu alguém que amava para o alcoolismo chora aos pouquinhos, diariamente, indefinidamente. Pela perda, pela dor, pela impotência. Eu choro um pouquinho todos os dias.
Como se diz por aí, o que não mata, engorda. O álcool consegue fazer as duas coisas: engorda e mata também.
Beber pra comemorar, beber socialmente. Beber com os amigos. Beber naquele churrasco de final de semana. Beber pra afogar as mágoas. Beber pra esquecer. E então, um dia, alguém começa a beber muitas vezes, beber regularmente, beber e beber. Os danos não se limitam a si mesmo, extravasam o corpo e atingem a vida de quem está perto de si.
Para o alcoolismo perdi pessoas que eu amava profundamente. O alcoolismo dessas pessoas matou o brilho do meu olhar, quando eu ainda era jovem, muito jovem. O alcoolismo de quem estava muito perto de mim destruiu sonhos bonitos que eu plantava. O alcoolismo de quem estava ao meu lado tirou de mim a alegria dos finais de semana. Apagou as luzes de muitas festas de Natal em família. Arrancou de mim a paz.
Lamento pelo Doutor Sócrates. Lamento especialmente por sua família, pelos que tentaram ajudá-lo em vão. A dor de quem perde um parente, um amigo para o vício de uma droga qualquer, é dilacerante. Creio que se assemelha à dor de quem saltou na água para tentar salvar alguém se afogando, mas não conseguiu salvá-lo. Assim me senti quando enterrei quem amava: ineficaz. Não consegui.
Descanse em paz, Sócrates. Que pena, percorrer esse caminho do alcoolismo é caminhar na beirada do desfiladeiro. Adeus.
1 de dez. de 2011
NOTA DA AUTORA
Eu lhes devo uma explicação, leitores.
Atire a primeira pedra, ou "clique aqui" quem nunca teve problemas de conexão da internet. Fui inventar uma moda nova, adquiri um novo modem para o meu notebook. Tudo funcionou muito bem durante as primeiras semanas. Pouco a pouco a internet ficou lenta. Mais e mais, mais e mais... Até eu ficar completamente sem conexão. Comecei a telefonar para a operadora de celular, reclamei, resmunguei, mudei as configurações do tal do modem. E nada! Adquiri um novo modem, quase enlouqueci, aliás quase enlouqueci os funcionários da tal operadora e Divo, que não é flor que se cheire, anda mais zangado comigo do que nunca. Irritante, irritável, sem internet eu fico insuportável. Muito pior que tudo isso foi a falta de comunicação. Quem não se comunica, não publica. Não pude divulgar meus últimos textos durante vários dias. Agora, assim parece, tudo voltou ao normal. Tomara que meus textos possam, daqui em diante, chegar até vocês. Senti saudade!
Diva Latívia
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Etimologia – ou Etiologia, como queiram! - Dentre os meus interesses, digamos assim, intelectuais e totalmente descompromissados, aquém do que se pudesse chamar de amor ou paixão, mas à frente da si...