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Quando o meu joelho direito estalou, imaginei que tivesse quebrado o dito cujo. A mudança de casa já rendeu dor nas costas, dor de cabeça e vários hematomas. A unha do dedão ficou lascada, a unha da mão quebrada.
Até parece que coleciono caixas de papelão. Durante vários dias, por onde eu passava, recolhia essas caixas. Jornais, então, nem se fala. Quando o rolo de plástico-bolha terminou corri até à banca de jornal. - Moço, quero seis jornais, mas quero o mais grosso. O sujeito me olhou como se eu fosse uma alienígena. Pela rua eu parecia uma catadora de papel. A pé, carregando toda essa tranqueira. Acho, se eu sentasse na calçada, alguém lançaria uma moeda.
Hoje cedo quis encontrar um sapato para ir ao trabalho. Fora das malas, somente havia um chinelo e um par de tênis. Sexta-feira, dia de visual casual. Decidi calçar o tênis e parar em uma loja de calçados. Adquiri meu centésimo terceiro par de sapatos, uma sandalinha verde. Quando Divo soube disso, avisou que ou eu me livro de oitenta pares de sapatos, ou não haverá espaço para mais nada no apartamento. Desta vez, a aquisição aconteceu por uma boa causa.
Precisei parar na farmácia e comprar uma caixinha de band-aid. Meu dedão estava com o esmalte vermelho descascado. Um ótimo disfarce o curativo. Assim que fui ao banheiro, quase gritei quando me vi no espelho. Eu tinha esquecido de vestir o sutiã. Coisa mais absurda, como pode uma mulher sair de casa, ir pro trabalho nessa condição? É nisso o que dá tamanha correria, tamanho cansaço. Saí do banheiro, olhei ao redor, vi dois colegas proseando enquanto tomavam café. Voltei pra dentro do banheiro. Pensei e pensei. Encontrei uma solução. Telefonei para a minha valiosa ajudante do lar, a Zezé.
Assim que ela atendeu disparou: - Dona Diva, “o homi que veio ligá o fugão disse que a senhora percisa comprá uma manguera di cobri”.
- Zezé, preste atenção. Preciso de sua ajuda. Vá na gaveta do meu armário do quarto, a segunda gaveta. Pegue um sutiã bege. Depois chame um táxi e traga o sutiã pra mim, aqui no meu trabalho.
- Quê?
- Zezé, eu preciso que você traga pra mim um sutiã.
- Dona Diva, a senhora bebeu aquela cachaça do seu Divo, foi?
- Zezé, pare de fazer piada. É sério! Agora mesmo, já, pegue o sutiã no meu armário e traga aqui pra mim.
- Posso não!
- Por que?
- O homi do fugão tá instalando a manguera di cobri.
Eu comecei a sentir uma mistura de raiva com desespero.
- Tá, Zezé, eu estou indo agora mesmo pra casa.
Saí do escritório sem ao menos dizer “tchau”. Parei o primeiro táxi que vi passar. O percurso entre o escritório e a minha casa, em dias normais, demora em torno de vinte minutos. Hoje o trânsito estava totalmente travado. Demorei exatos quarenta e cinco minutos para chegar em casa.
Mal entrei, dei de cara com o tal do técnico do fogão.
O cara olhou direto pros meus peitos, apesar de eu estar agarrada à pasta de trabalho. Disse bom dia e corri pro quarto.
Problema resolvido, fui à cozinha resolver o problema do fogão. O cara explicava algo e parava o olhar exatamente no mesmo lugar. Comecei a desconfiar! A linguaruda da Zezé, só podia ser ela, provavelmente comentou algo com o homem.
Serviço terminado, chamei a Zezé pra uma conversinha.
- Ai, a senhora é "perconceituosa”. Num fiz nada, apenas disse que a senhora “tava com um pobrema dos peito”.
Voltei pro escritório fazendo de conta que jamais tinha saído de lá.
Ou eu acabo logo essa mudança, ou essa mudança logo vai acabar comigo!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
16 de dez. de 2011
O ESQUECIDO SUTIÃ
Quando o meu joelho direito estalou, imaginei que tivesse quebrado o dito cujo. A mudança de casa já rendeu dor nas costas, dor de cabeça e vários hematomas. A unha do dedão ficou lascada, a unha da mão quebrada.
Até parece que coleciono caixas de papelão. Durante vários dias, por onde eu passava, recolhia essas caixas. Jornais, então, nem se fala. Quando o rolo de plástico-bolha terminou corri até à banca de jornal. - Moço, quero seis jornais, mas quero o mais grosso. O sujeito me olhou como se eu fosse uma alienígena. Pela rua eu parecia uma catadora de papel. A pé, carregando toda essa tranqueira. Acho, se eu sentasse na calçada, alguém lançaria uma moeda.
Hoje cedo quis encontrar um sapato para ir ao trabalho. Fora das malas, somente havia um chinelo e um par de tênis. Sexta-feira, dia de visual casual. Decidi calçar o tênis e parar em uma loja de calçados. Adquiri meu centésimo terceiro par de sapatos, uma sandalinha verde. Quando Divo soube disso, avisou que ou eu me livro de oitenta pares de sapatos, ou não haverá espaço para mais nada no apartamento. Desta vez, a aquisição aconteceu por uma boa causa.
Precisei parar na farmácia e comprar uma caixinha de band-aid. Meu dedão estava com o esmalte vermelho descascado. Um ótimo disfarce o curativo. Assim que fui ao banheiro, quase gritei quando me vi no espelho. Eu tinha esquecido de vestir o sutiã. Coisa mais absurda, como pode uma mulher sair de casa, ir pro trabalho nessa condição? É nisso o que dá tamanha correria, tamanho cansaço. Saí do banheiro, olhei ao redor, vi dois colegas proseando enquanto tomavam café. Voltei pra dentro do banheiro. Pensei e pensei. Encontrei uma solução. Telefonei para a minha valiosa ajudante do lar, a Zezé.
Assim que ela atendeu disparou: - Dona Diva, “o homi que veio ligá o fugão disse que a senhora percisa comprá uma manguera di cobri”.
- Zezé, preste atenção. Preciso de sua ajuda. Vá na gaveta do meu armário do quarto, a segunda gaveta. Pegue um sutiã bege. Depois chame um táxi e traga o sutiã pra mim, aqui no meu trabalho.
- Quê?
- Zezé, eu preciso que você traga pra mim um sutiã.
- Dona Diva, a senhora bebeu aquela cachaça do seu Divo, foi?
- Zezé, pare de fazer piada. É sério! Agora mesmo, já, pegue o sutiã no meu armário e traga aqui pra mim.
- Posso não!
- Por que?
- O homi do fugão tá instalando a manguera di cobri.
Eu comecei a sentir uma mistura de raiva com desespero.
- Tá, Zezé, eu estou indo agora mesmo pra casa.
Saí do escritório sem ao menos dizer “tchau”. Parei o primeiro táxi que vi passar. O percurso entre o escritório e a minha casa, em dias normais, demora em torno de vinte minutos. Hoje o trânsito estava totalmente travado. Demorei exatos quarenta e cinco minutos para chegar em casa.
Mal entrei, dei de cara com o tal do técnico do fogão.
O cara olhou direto pros meus peitos, apesar de eu estar agarrada à pasta de trabalho. Disse bom dia e corri pro quarto.
Problema resolvido, fui à cozinha resolver o problema do fogão. O cara explicava algo e parava o olhar exatamente no mesmo lugar. Comecei a desconfiar! A linguaruda da Zezé, só podia ser ela, provavelmente comentou algo com o homem.
Serviço terminado, chamei a Zezé pra uma conversinha.
- Ai, a senhora é "perconceituosa”. Num fiz nada, apenas disse que a senhora “tava com um pobrema dos peito”.
Voltei pro escritório fazendo de conta que jamais tinha saído de lá.
Ou eu acabo logo essa mudança, ou essa mudança logo vai acabar comigo!
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Etimologia – ou Etiologia, como queiram! - Dentre os meus interesses, digamos assim, intelectuais e totalmente descompromissados, aquém do que se pudesse chamar de amor ou paixão, mas à frente da si...
2 comentários:
Muito bom! Ri muito. Gostaria muito de ler mais coisas suas.....visite também o meu blogg: A vida é uma comédia. Olhe no meu Faceboock se quizer, eu coloquei minha pagina dentro do mesmo. Um grande beijo e continue com esse talento incrivel que voce tem. Elaine Bärmann
Elaine,
Pra mim, algo muito gratificante quando alguém chega até aqui, lê meus textos e deixa um comentário assim, gostoso de ler, feito o seu comentário. Vou olhar seu blog. Obrigada e volte sempre!
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