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Algumas crianças têm medo de escuro. Eterna criança, assim eu sou. Escurinho bom é o do cinema, do meu quartinho na hora de, literalmente, dormir. Mas, escuro inesperado, isso me deixa apavorada.
O temporal caiu no final da tarde. Aquele horário da nostalgia, quase comecinho da noite. O bucólico horário da Ave Maria: dezoito horas. O vento zunia insistentemente. E eu, sozinha em casa, mal tinha chegado do trabalho e tirado os sapatos. Assim que o relâmpago veio de mãos dadas com o trovão, faltou energia elétrica. Lembrei que tinha visto uma barata cascuda no corredor, pertinho da garagem. Meu primeiro impulso foi procurar uma vassoura. Pensei: vai que a danada entre em casa? O meu segundo impulso foi sentar no sofá e recolher as pernas, para evitar o indesejável inseto. Assim fiquei , com o coração aos pulos, sei lá por quanto tempo.
O escuro foi chegando rapidamente. A luminosidade vinha dos raios. Cismei que a barata caminhava sobre o tapete. Calculei: se ela entrou pela porta da sala, se eu sair pela esquerda, não vamos as duas nos encontrar. Posso chegar à cozinha, pegar o inseticida e me defender.
Cheguei à porta da cozinha, tropecei no banquinho deixado de qualquer jeito logo de manhã. O dedinho latejava. Quis ver o tamanho do estrago, mas naquele escuro eu só podia sentir a dor. Mas que dor! Fósforos, sabia que tinha uma caixa deles. Onde? Talvez na mesma prateleira onde guardava as velas. Outro relâmpago, olhei pro pé, ao invés de olhar pra prateleira.
Tateando, cheguei a um frasquinho cilíndrico. Espirrei um pouco no ar. Que arrependimento, pude perceber que o aroma era de limpa-vidros! Continuei tateando, derrubei o rodo, a caixa de sabão em pó e o cestinho de prendedores de roupas.
Foi então que senti algo fazendo cócegas em minha perna. Gritei desesperada. Era ela, a barata! Saí desembestada pela casa, dei de cara com uma parede.
Acordei com Divo batendo de levinho no meu rosto. – Anjo, anjo! Você está bem? O que aconteceu?
A luz tinha voltado, eu estava caída no corredor. Um imenso galo na cabeça, totalmente zonza.
A barata nunca encontrei, talvez ela tenha tomado um susto tão grande quanto eu, desmaiado em algum cantinho escondido qualquer.
Desse dia em diante, passei a guardar um kit de sobrevivência para apagões de energia elétrica. Uma caixa contendo: lanterna com pilhas, fósforos, velas e inseticida. Mulher prevenida é assim!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
9 de dez. de 2011
QUANDO A LUZ APAGOU
Algumas crianças têm medo de escuro. Eterna criança, assim eu sou. Escurinho bom é o do cinema, do meu quartinho na hora de, literalmente, dormir. Mas, escuro inesperado, isso me deixa apavorada.
O temporal caiu no final da tarde. Aquele horário da nostalgia, quase comecinho da noite. O bucólico horário da Ave Maria: dezoito horas. O vento zunia insistentemente. E eu, sozinha em casa, mal tinha chegado do trabalho e tirado os sapatos. Assim que o relâmpago veio de mãos dadas com o trovão, faltou energia elétrica. Lembrei que tinha visto uma barata cascuda no corredor, pertinho da garagem. Meu primeiro impulso foi procurar uma vassoura. Pensei: vai que a danada entre em casa? O meu segundo impulso foi sentar no sofá e recolher as pernas, para evitar o indesejável inseto. Assim fiquei , com o coração aos pulos, sei lá por quanto tempo.
O escuro foi chegando rapidamente. A luminosidade vinha dos raios. Cismei que a barata caminhava sobre o tapete. Calculei: se ela entrou pela porta da sala, se eu sair pela esquerda, não vamos as duas nos encontrar. Posso chegar à cozinha, pegar o inseticida e me defender.
Cheguei à porta da cozinha, tropecei no banquinho deixado de qualquer jeito logo de manhã. O dedinho latejava. Quis ver o tamanho do estrago, mas naquele escuro eu só podia sentir a dor. Mas que dor! Fósforos, sabia que tinha uma caixa deles. Onde? Talvez na mesma prateleira onde guardava as velas. Outro relâmpago, olhei pro pé, ao invés de olhar pra prateleira.
Tateando, cheguei a um frasquinho cilíndrico. Espirrei um pouco no ar. Que arrependimento, pude perceber que o aroma era de limpa-vidros! Continuei tateando, derrubei o rodo, a caixa de sabão em pó e o cestinho de prendedores de roupas.
Foi então que senti algo fazendo cócegas em minha perna. Gritei desesperada. Era ela, a barata! Saí desembestada pela casa, dei de cara com uma parede.
Acordei com Divo batendo de levinho no meu rosto. – Anjo, anjo! Você está bem? O que aconteceu?
A luz tinha voltado, eu estava caída no corredor. Um imenso galo na cabeça, totalmente zonza.
A barata nunca encontrei, talvez ela tenha tomado um susto tão grande quanto eu, desmaiado em algum cantinho escondido qualquer.
Desse dia em diante, passei a guardar um kit de sobrevivência para apagões de energia elétrica. Uma caixa contendo: lanterna com pilhas, fósforos, velas e inseticida. Mulher prevenida é assim!
Marcadores:
falta de energia elétrica,
medo de barata,
medo de escuro
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