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Acho que minhas histórias atraem os fatos. Poderia ser o oposto, mas os textos parecem saltar do blog, eles se materializam de vez em quando.
Hoje cedo olhei pro rádio relógio, estava apagado. Muito sonolenta, concluí que faltava energia elétrica. Dia nublado, a casa um tanto escura. Na sala um amontoado de caixas de papelão, sacolas e malas. A mudança de casa ocorrerá dentro de poucos dias. Uma bagunça que já rendeu espirros, uma topada feia no dedão do pé, arranhões e uma dor nas costas incrível. Sonolenta, quis ligar o fogão, preparar o café. Sem fósforos, a missão pareceu impossível. Achei um isqueiro depois de revirar duas caixas contendo louça. Café preparado, comecei a me preocupar. Como eu poderia tomar um banho, se o chuveiro deste velho apartamento é elétrico? Suspirei resignada: canequinha ou água fria, paciência.
Banho de gata já tomado, sentei na sala. A experiência, ao sentar-me no sofá, não foi das melhores. Algo espetou meu traseiro. Divo esqueceu sob a almofada do sofá dois porta-retratos. O créc seguiu-se ao meu “ai”, de dor. Por sorte, os danos foram apenas materiais.
E eis que meu olhar percorreu o chão da sala e lá estava ela, moribunda, tonta, procurando a saída: uma barata! Tamanho médio, nojenta, horrorosa!
Quando falta luz o despertador não toca. Divo poderia ter perdido a hora, não fosse eu ter acordado cedo. Divo poderia ter despertado com meu suave chamado, meu desejo de bom dia. Porém, ele acordou com meu grito desesperado: - Divo, corre aqui, mata, mata, mata!
Pobre Divo. Levantou zonzo de sono, tropeçou no amontoado de tapetes que deixei no corredor. Com a canela esfolada, olhou pra mim do mesmo jeito que eu olhava pra barata. Acho, se ele pudesse, me daria uma vassourada.
Um casal ter uma briguinha às vésperas de mudar de casa pode ser normal. Porém, Divo e eu somos dois gatos amarrados no mesmo saco. Dois gatos amarrados no mesmo saco e em plena “operação mudança de casa”.
Uma hora depois, a energia elétrica voltou. A barata ainda jazia juntinho da porta de entrada. Divo, quando saiu pro trabalho, pulou aquele cadáver e recusou-se a chutá-la pro corredor. Foi chegando a hora de eu sair, também ir pro trabalho. Eu olhava na direção da falecida e sentia um misto de pânico com aflição. Tentei passar depressa, sem olhar pro chão, mas não conseguia. Resolvi interfonar pro porteiro, o Severino. Expliquei que um bicho tinha entrado no apartamento, que precisava que ele viesse me ajudar. Não disse que era uma barata, afinal ele poderia menosprezar meus sentimentos. Munido de vassoura e inseticida, Severino, com a chave-mestra, entrou no apartamento. Assim que apontei pra defuntinha, o homem começou a rir. – Só uma baratinha, Dona Diva?
Quando a mortinha foi removida, resolvi procurar no Google o nome da fobia de barata. Nada aparecia. Acho, de tão abalada, troquei a letra “r” pela letra “t”. De modo insistente, eu digitava “fobia de batata”.
Já que este blog também é cultura, eis o nome da fobia de batata: celulite! E o nome da fobia de barata é: catsaridafobia. Com esse nome, merece um apelido: catsa!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
14 de dez. de 2011
VISITINHA INDESEJADA
Acho que minhas histórias atraem os fatos. Poderia ser o oposto, mas os textos parecem saltar do blog, eles se materializam de vez em quando.
Hoje cedo olhei pro rádio relógio, estava apagado. Muito sonolenta, concluí que faltava energia elétrica. Dia nublado, a casa um tanto escura. Na sala um amontoado de caixas de papelão, sacolas e malas. A mudança de casa ocorrerá dentro de poucos dias. Uma bagunça que já rendeu espirros, uma topada feia no dedão do pé, arranhões e uma dor nas costas incrível. Sonolenta, quis ligar o fogão, preparar o café. Sem fósforos, a missão pareceu impossível. Achei um isqueiro depois de revirar duas caixas contendo louça. Café preparado, comecei a me preocupar. Como eu poderia tomar um banho, se o chuveiro deste velho apartamento é elétrico? Suspirei resignada: canequinha ou água fria, paciência.
Banho de gata já tomado, sentei na sala. A experiência, ao sentar-me no sofá, não foi das melhores. Algo espetou meu traseiro. Divo esqueceu sob a almofada do sofá dois porta-retratos. O créc seguiu-se ao meu “ai”, de dor. Por sorte, os danos foram apenas materiais.
E eis que meu olhar percorreu o chão da sala e lá estava ela, moribunda, tonta, procurando a saída: uma barata! Tamanho médio, nojenta, horrorosa!
Quando falta luz o despertador não toca. Divo poderia ter perdido a hora, não fosse eu ter acordado cedo. Divo poderia ter despertado com meu suave chamado, meu desejo de bom dia. Porém, ele acordou com meu grito desesperado: - Divo, corre aqui, mata, mata, mata!
Pobre Divo. Levantou zonzo de sono, tropeçou no amontoado de tapetes que deixei no corredor. Com a canela esfolada, olhou pra mim do mesmo jeito que eu olhava pra barata. Acho, se ele pudesse, me daria uma vassourada.
Um casal ter uma briguinha às vésperas de mudar de casa pode ser normal. Porém, Divo e eu somos dois gatos amarrados no mesmo saco. Dois gatos amarrados no mesmo saco e em plena “operação mudança de casa”.
Uma hora depois, a energia elétrica voltou. A barata ainda jazia juntinho da porta de entrada. Divo, quando saiu pro trabalho, pulou aquele cadáver e recusou-se a chutá-la pro corredor. Foi chegando a hora de eu sair, também ir pro trabalho. Eu olhava na direção da falecida e sentia um misto de pânico com aflição. Tentei passar depressa, sem olhar pro chão, mas não conseguia. Resolvi interfonar pro porteiro, o Severino. Expliquei que um bicho tinha entrado no apartamento, que precisava que ele viesse me ajudar. Não disse que era uma barata, afinal ele poderia menosprezar meus sentimentos. Munido de vassoura e inseticida, Severino, com a chave-mestra, entrou no apartamento. Assim que apontei pra defuntinha, o homem começou a rir. – Só uma baratinha, Dona Diva?
Quando a mortinha foi removida, resolvi procurar no Google o nome da fobia de barata. Nada aparecia. Acho, de tão abalada, troquei a letra “r” pela letra “t”. De modo insistente, eu digitava “fobia de batata”.
Já que este blog também é cultura, eis o nome da fobia de batata: celulite! E o nome da fobia de barata é: catsaridafobia. Com esse nome, merece um apelido: catsa!
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