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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







29 de jun. de 2012

O BANHO DE TINA


Que delícia refrescar-se em dias quentes! Vale quase tudo: mar, rio, cachoeira, represa, piscina, ar condicionado, ventilador, leque e até mesmo tina d´água.  Esperem! Tina d´água? Pois é. A Deuzinete não perdeu a chance de experimentar a água friazinha da tina d´água.
Família tem de tudo. Família tradicional, à moda antiga, tem costumes enraizados que, vez ou outra, desafiam o passar do tempo. O almoço da família da Dona Judite, patroa da Deuzinete, foi pra lá de tradicional. Enquanto a mulherada cozinhava e fofocava, os homens jogavam conversa fora e bebericavam cachaça, a tal da água que passarinho não bebe. Reunidos em uma mesa, lá estavam o avô, os tios avôs, o pai, os filhos homens, os primos, os irmãos, sobrinhos e marido da Dona Judite.
O calor parecia uma fornalha. O fogão à lenha teimava em piorar a situação. Feijão tropeiro, cordeiro, arroz branquinho e soltinho. Deuzinete suava em bicas. A chance de refrigerar a situação aconteceu quando a patroa pediu algo simples: - Pegue pra mim aqueles panos de prato com biquinho de crochê.
Bem que a Deuzinete foi  procurar os tais panos de prato, mas o suor escorria pela cabeça, percorria a nuca, desafiava a barreira de suas sobrancelhas. Pensou até no inferno! Eis que, pelo caminho, no quintal, deu de cara com a tina d´água. Não se fez de rogada. Primeiro, colocou a pontinha dos pés. Depois, recolheu a saia e molhou-se até à altura dos joelhos. Molhou o rosto, os braços. Não resistiu e sentou-se na tina. Chegou a esquecer da hora, totalmente envolvida com o frescor.
Praticamente despertou com a voz da patroa: - Deuzinete, cadê você?
Tentou levantar-se, mas parecia presa. Mexeu uma perna com dificuldade, a outra perna estava dobrada e encaixada de modo justo no recipiente. Forçou sua saída com os braços. Uma tentativa, duas, dez, vinte. Nem se lembrava como entrou naquilo, a coisa parecia tão apertada! Deuzinete estava entalada na tina d´água!
- Deuzinete, onde você está?
Pensou em mergulhar, pra se esconder. O corpo escorregou pra baixo alguns milímetros. Notou que o braço esquerdo também estava preso. Começou a chorar.
- Deuzinete, cadê meus panos?
Não tinha jeito. Pediu socorro: - SOCORROOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!
Chegaram para socorrê-la: a patroa, o avô da patroa, o pai da patroa, os filhos homens da patroa,  os primos da patroa, os irmãos da patroa, os sobrinhos da patroa e o marido da Dona Judite!
Explicações inexplicáveis, não havia muito o que explicar! Era caso de entalamento, se ela voltasse a se mexer, o certo mesmo seria chamar os bombeiros. 
– Deuzinete, estica a perna! 
– Deuzinete, levanta o braço! 
– Vem pra direita! 
– Volta pra esquerda. 
Por fim, a Deuzinete desentalou da tina d´água! Ao levantar-se, ainda meio torta e atordoada, só não foi aplaudida pelo bando de homens da família da Dona Judite porque a dita cuja era brava até demais! Deuzinete, vestida com uma camiseta branca, justa e molhada estava,  por assim dizer, pelada! Dava pra ver quase tudo, menos aquilo o que só mesmo um raio X é capaz de mostrar.  Fresquinha, literalmente!
Dizem que, pra fazer sucesso, basta passar de calça jeans fit, agarradinha, em frente a uma obra. Qual o quê! Deuzinete não precisou de nada disso. A camisetinha branca, com propaganda do mercadinho “Só Compre Aqui “ arrasou com a “homarada”!
Esse foi o último dia de trabalho da Deuzinete na casa da Dona Judite. Foi demitida sem justa causa. Injusto, talvez, mas segundo a Dona Judite isso aconteceu por uma boa causa. E só de pensar que tudo o que a Deuzinete queria era se refrescar, dá dó!

Em homenagem ao meu saudoso amigo, editor e webmaster, Abílio Manoel. 


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