É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.

Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







31 de ago. de 2012

INSPIRAÇÃO ESCATOLÓGICA


Recorrer ao dicionário, ou Pai dos Burros, esse foi o meu recurso. Aurélio, o que seria de mim sem você? Meu olhar paralisou sobre aquela palavra esquisita, que não pareceu estranha, mas seu significado fugiu ao meu conhecimento. O que seria escatológico? Ali estava a definição: “nauseabundo, nojento”.  Eca, pensei! Escatológico é algo repulsivo!
Pois voltei à frase que continha o termo anteriormente por mim ignorado. Li e reli aquele comentário ao meu último texto, que chegara há instantes na caixa postal do meu e-mail.  Algo mais ou menos assim:  “Diva, seus textos são ruins e escatológicos”.
Toda crítica é bem-vinda, até mesmo essas críticas nauseabundas, inúteis e anônimas. Digo anônima porque chegou ao meu e-mail e tentei responder, mas voltou a mensagem com aquele “undelivery sei lá do quê”.
Não compreendo como alguém perde o precioso tempo a ler algo que o desagrada. Pior que isso, a entreter-se, divertir-se com o aborrecimento alheio ( no caso, o meu aborrecimento).
Escatológico,  leitor anônimo, é o seu ócio. Que me desculpem os demais leitores, mas esta blogueira não tem lá muita paciência com tamanha falta do que fazer.

Pensei, então, em escrever algo com essa palavra. Um texto com o termo empregado pelo infeliz comentarista anônimo de meus textos. Algo feito por mim, no capricho, para combinar com suas ideias, intenções e palavras escatológicas. Aproveite e obrigada por conduzir-me ao dicionário. Cultura, ainda que nauseabunda, nunca é demais! Eis o texto!

Sinônimo de escatológico. Palavras cruzadas é um ótimo passatempo, um entretenimento simples, que ajuda o tempo a passar e lubrifica as engrenagens do cérebro. Devo ter algum parafuso solto na cabeça, comecei as palavras cruzadas e esqueci completamente do meu afazer anterior: o feijão na panela de pressão. Estava lá, mordendo a tampinha da BIC e tentando encontrar a palavra de sete letras, sinônimo de escatológico. Terminava com a letra O. Escatológico, não sei porquê, lembrou arqueológico. Pensei em algo ligado a ossos, caveiras, esqueletos. Meu pensamento viajou longe, lembrei de Indiana Jones, depois de Harrison Ford. Já estava a recordar a segunda versão do filme Sabrina quando meu olfato deu o alarme: algo escatológico ocorria ao meu redor, que cheiro seria aquele? A cozinha enfumaçada e a panela de pressão surtadíssima sobre o fogo indiferente.  Medo, paralisei. Se me aproximasse, tudo poderia ir pelos ares justamente naquele instante. Porém, como resolver o problema, sem primeiro desligar a chama do fogão? Ah, o fogão! Divo adquiriu em três prestações naquela loja de departamentos e quinquilharias, o tal do fogão cook top, chiquérrimo. Divo, certamente, me ensinaria o significado de “escatológico”, assim que descobrisse o mal feito na cozinha, tudo praticamente zero quilômetros. Chama do fogão apagada, restava a panela de pressão parar de dar “piti”. TXI, TXI, TXI, TXI, TXI, TXI TXIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII.... Saí correndo, carregando meu cãozinho Bono Latívio, vestida de pijama de florzinhas e sandálias Havaiana nos pés. Dei de cara com Samir, aquele personal treiner bonitão que mora no apartamento  166. Agarrei seus formosos bíceps, pendurei-me em seus tríceps, completamente desesperada: - SOCORRO, minha panela vai explodir!
Tem homem que nasceu pra ser salva-vidas. Samir, entrou no apartamento e me fez lembrar Superman, Batman, Homem Aranha e Thor. Um super-herói com barriga tanquinho. Pegou a panela de pressão e a levou para a área de serviço. A panela tri-enlouquecida, chiava escandalosamente. Depois de dois minutos, já dentro do tanque, começou a acalmar-se. Por fim, fez um som mais ou menos assim: PUFFFF. O feijão queimado, totalmente escatológico, grudou na panela de um jeito irreversível. Ah, a panela de pressão elegantíssima, italiana, de inox! Divo jamais me desculparia. 
Assim que me despedi de Samir, meu herói, voltei pra cozinha. Fogão sujo, chão sujo, pia suja, panos de prato sujos e área de serviço em um estado que nem te conto. Fiz o que pude, do jeito que pude. Divo chegou em casa para almoçar e a situação, apesar de controlada, ainda estava escatológica. Expliquei o ocorrido, omiti as palavras cruzadas e a visitinha do saradão Samir.
Hoje, dois dias depois, Divo ainda me olha daquele jeito nauseabundo ( não direi escatológico). Meio de lado, um tanto sisudo. O fogão restou são e salvo, mas a panela de pressão Made in Italy, já era. Um prejuízo relativamente pequeno, pois não fosse Samir e seus poderosos bíceps e tríceps, o cook top também teria ido para o beleléu.

Este texto, por mim escrito, é uma homenagem ao leitor que chamou meu trabalho neste blog de “escatológico”. Obrigada, caro leitor anônimo, pela inspiração.






24 de ago. de 2012

PALAVRAS A BROTAR

Não, leitora querida. Não, leitor querido. Você não está abandonado por mim. A bronquite e todos os demais "ites" furtaram o ânimo para alinhavar minhas histórias. Porém, estava a repousar e refletir, isso na penumbra dos meus aposentos, quando tive um delírio delicioso. Quiçá, um lampejo criativo e febril? Visualizei um notebook despejando frases ao vento, imaginei meu blog a espalhar ideias nascentes a cada sorriso,  ao franzir de testa de leitores e olhar marejado de personagens anônimos: vocês.
Abracei as frases, como quem junta brinquedos infantis espalhados no tapete da sala. O que será saúde, afinal? Além de saudação e forte desejo de bem estar físico, saúde é harmonia, equilíbrio, ordem interior. Desordenada, desorganizada, maluca, pirada, Diva Latívia! Reflito publicamente, com sua permissão, neste espaço que é público, tão público quanto a pracinha ajardinada pertinho de casa. Onde terei escorregado, derrapado, perdido o fio da meada? Adoecer é desarmonizar-se.
O delírio, asfixiante, entre uma crise de falta de ar e uma lágrima delirante, devolveu a luz ao final do túnel. Amanheci com as habituais profundas olheiras, que lembram os poetas românticos e suas estrofes dramáticas, problemas pulmonares incuráveis. O meu mal também é do século, porém moderníssimo: deprimi!
Resgatar em mim a força criativa, brincar de roda com as palavras, esconde-esconde metafórico, um pega-pega de letrinhas. Homeopaticamente, recupero-me. Vida, não a levarei tão a sério, não mais. Palavras a jorrar do notebook, palavras coloridas em tons alaranjados e esverdeados. Palavras com sabor de tangerina e kiwi. Frescas, nutritivas, suculentas. Alimento, medicamento, alento: escrevo, portanto crio e vivo!  Brotei.



20 de ago. de 2012

AR, AR...


Eu observava quietinha, à distância, minha avó usar a tal da bombinha para a tal da asma. Um artefato de borracha de cor amarronzada, com outro artefato para bombear o ar em uma ponta, uma pequena mangueirinha de alguns centímetros de comprimento e estreito diâmetro. Na outra ponta, uma espécie de cálice de vidro cor de caramelo. Era a bombinha para asma de antigamente. Havia um broncodilatador que era usado nessa alquimia esquisita. Chamava-se ... Chamava-se... Não sei escrever, afinal naquela época eu sequer sabia ler! Minha avó chamava o remédio de “dispiné inhal”. Possivelmente, o nome era estrangeiro e a sua pronúncia correta deveria ser um tanto diferente. O que importa é que a vovó, pra onde fosse, carregava a sua bombinha e o vidrinho do tal do “dispiné inhal”.
Era curioso, interessante assistir a toda a operação. Primeiro, ela abria a gaveta de seu criado-mudo. De lá, retirava a bombinha. Então, abria o vidrinho do tal do broncodilatador e depositava uma quantidade a gosto no cálice de vidro. A seguir, aprumava as costas, segurava o ar e bombeava o líquido pela boca.
Então, permanecia calada, as narinas tentando absorver o ar. Vovó devia sofrer terrivelmente. Isso na década de 60, quando a poluição ainda engatinhava, sequer se aproximava dos alarmantes índices atuais.
Asma. Esse nome sempre pareceu horrível! Tão pequena, confundia asma com alma. Cheguei a confidenciar baixinho para meus coleguinhas de escola: a vovó tem asma penada! A história foi adiante e, por fim, acharam que eu morava em uma casa mal assombrada. Até que era mesmo mal assombrada, mas isso é outra história.
O tempo passou, a vovó usou sua bombinha até o fim de sua vida, aos oitenta e três anos de idade.  Foi-se, vitimada pela asma penada, em um inverno que a arrebatou desta vida.
E eu sempre tive horror de falta de ar. Uma vez, usei inseticida demais para matar uma barata que caminhava no banheiro da minha casa. A danada correu para dentro do armário sob a pia. Eu abri o armário, agachei-me e espirrei imensa quantidade do veneno, sem visualizar a nojentinha. Nem sinal dela, resolvi ver com meus próprios olhinhos.  Enfiei a cabeça dentro do armário e ali entalei. Respirei o veneno por um bom tempo e, pior que isso, lá estava a barata a sacolejar-se, moribunda. Eu gritava, a barata em pleno falecimento e de barriga pra cima. Por fim, tanto me debati que consegui sair de dentro do armário. Tonta, completamente tonta e com falta de ar. Bebi leite, lavei o rosto, telefonei pro médico, precisei tomar antialérgico.  Foi uma crise de asma penada da barata!
Anos a fio, jamais tive uma só crise de bronquite, rinite, sinusite, nenhuma ite. Porém, eis que agora eu poderia mudar meu nome para Divite! A bronquite que me maltrata há mais de três semanas é uma bronquite asmática! A falta de ar lembra um motor a falhar. E eu, que uso agora uma bombinha moderna, ao menos durante esta crise, já estou a correr para um médico homeopata. Tudo, menos tornar-me escrava de medicações com efeitos colaterais nocivos!
Asma penada. Alma penada. Eu, asmática. Dizem, herança genética.  Coisa da minha alminha que sofreu com as avarias penadas deste mundo, avarias que, por vezes, vieram do tempo da vovó. Ar, ar, eu preciso respirar! Meu oxigênio chega em letrinhas que brotam em minha cabeça. Inspiro e respiro!


18 de ago. de 2012

DIVA, PÉSSIMA CONSELHEIRA SENTIMENTAL

O e-mail chegou assinado apenas assim: “P. L.”. O destinatário não era anônimo, afinal ali constava seu endereço eletrônico. E-mail empresarial.  Descuidado, talvez.
P.L. escreveu um longo, comovente e sensível desabafo. Quatro páginas de papel A4, que imprimi para ler e reler. Chorei, confesso que chorei ao concluir que já passei pelas mesmas situações, que tenho algumas de suas dúvidas e angústias. P.L. pediu minha opinião, o meu conselho. Não sou boa conselheira. Diga-me: quem sou eu para aconselhar alguém, P.L.? Na vida eu já enfiei o pé na jaca, já entrei em ruas sem saída, já pulei em despenhadeiros. Sobrevivi!
Meus personagens nascem, vivem, sofrem, amam, morrem. Ficção, que baseio em fatos hipotéticos. O fim de minhas histórias termina na última palavra escrita, no ponto final. O que dizer a você, P.L.? Não posso dizer-lhe que sofrer é normal, afinal sofrer não é normal! Não posso dizer-lhe que amar é algo sereno, porque não é sereno. Perder-se de um grande amor é superável, desde que jamais essa perda seja reconhecida à luz de nossas consciências. Nem sempre estamos preparados para o amor. Perder alguém para esse despreparo  e mais tarde dar-se conta é desesperador. O que fazer?
Isso pode acontecer um minuto depois de uma discussão. Pode acontecer no dia seguinte. Uma semana depois. Um mês depois. No seu caso, a “ficha caiu” anos e anos mais tarde, quando compreendeu que aquela era a mulher de sua vida. Ela agora comprometida  com outra pessoa e você casado com outra mulher.
Por onde começar? O que fazer? E eu aqui, escrevendo isso tudo para publicar no meu blog, a seu pedido. Pensei muito, tentei colocar-me no seu lugar.  O que eu faria? Choraria um rio de lágrimas, certamente. Pela perda, pelo “ah, é?”, pela burrada. Aliás, chorei mesmo, sua história se parece com a minha e com a de muitas pessoas que conheço.
A vida apresenta oportunidades raras, algumas são oportunidades únicas. É uma pena imensa que nem sempre estejamos preparados para essas ofertas-relâmpago da vida. Um reencontro, uma tentativa de reconciliação frustrada, um adeus estabanado, às vezes pelo medo de amar, de se ferir, de não ser feliz. E o que é viver, senão um risco? Que pena só percebermos isso mais tarde!
Não te aconselhei, mas entendi que você só se deu conta do amor que tem depois de passar anos e anos longe de sua amada. Só depois de casar com outra pessoa, depois de descobrir que sua amada também estava casada com outra pessoa. E doeu. Espero que não seja fogo breve, mas sim chama eterna. Que você seja fiel a si mesmo, que seja sincero consigo e com sua atual companheira. E depois? Depois faça o que mandar seu coração. Pode escrever novamente, mas eu juro de pés juntinhos que sou péssima conselheira sentimental. 
Um abraço,
Diva Latívia






16 de ago. de 2012

SEGUNDO DEGRAU


A cabeça dela rodava. Mil pensamentos na contramão. Há quantos anos eles estavam juntos? Tentou fazer as contas, mas o torpor da segunda garrafa de vinho parecia fazer girar seus pensamentos.  Caiu sentada no segundo degrau da escada. O velho edifício, o mesmo onde nascera. Herança de seus pais, o apartamento enorme que precisava de reforma.  A Avenida Atlântica pareceu brincar de roda. Acendeu um cigarro. Tragou fundo e riu sozinha. Quantos amores? Quantos namorados? Maridos?  Amaldiçoou: que os homens todos fossem pro inferno!
Há meses ela esperava um só elogio, galanteio, um só beijo apaixonado, um breve abraço com segundas intenções. Tudo, tudo, tudo, menos a frieza do Zé Geraldo. Ele parecia apático, indiferente, indecifrável.  Pagava as contas em dia, não deixava faltar nada na geladeira, comparecia aos compromissos familiares. Porém, não mais a beijava na boca, nem mais a abraçava de conchinha ao buscar o sono.  Era o começo do fim do relacionamento. Deu um ponto final, um corte que sangrou.
Bebeu. Bebeu tudo o que conseguiu beber: vinho, champanhe, uísque, cerveja e licor. Enjoou com o café da saideira. Tirou as sandálias de salto alto, enxugou o suor da testa e tentou remover os confetes presos nos cachos de seus cabelos loiros. Entrou em um táxi e seguiu desacompanhada pra casa. Foi assim que se lançou ao segundo degrau da escadaria do edifício Sobre os Mares, o mesmo que assistiu à sua infância, adolescência, ao seu primeiro beijo. Beijo trocado com ele mesmo, o Zé Geraldo. De namorado a marido demorou pouco tempo. Menos tempo durou o enlace, ele se engraçou com uma tal de Alice.
Ela resolveu dar uma virada, mudar tudo na vida. Mudou os móveis da sala, depois mudou de emprego, clareou os cabelos, emagreceu. Mas, aquela dor de corno, aquela que fica no fundo do coração, não passava com nada.
Saiu com um sujeito que conhecera na internet. Saiu, bebeu, entre confetes, por fim largou o cara falando sozinho, entrou naquele táxi e, de tão zonza, tropeçou e caiu no segundo degrau da escada do prédio onde morava. Quedou-se para chorar tanto que chegou a soluçar por tudo, por todos e, por fim, por nada. Tonta, bêbada de dor.
Vida, coisa doida que roda depressa demais pra gente acompanhar.

9 de ago. de 2012

OUTRA VEZ


Tem saudade que é escancarada, pública e parece bem-vinda aos olhos da sociedade. Saudade do tempo de infância, saudade de  um parente que morreu, saudade do filho que viajou, casou e mudou de endereço. Tem saudade que só faz sentido se existir escondidinha, se viajar clandestina nos porões de nossa consciência. Saudade do primeiro beijo, saudade do(a) ex-namorado(a), saudade de quando era solteiro(a), saudade de quando era casado(a). Para evitar problemas, confusões, micos em geral, é melhor deixar a saudade bem guardada, de preferência amarrada e amordaçada no calabouço das lembranças.
A vida costuma fugir do controle, ela não segue um roteiro. A saudade mal-vinda, quando resolve quebrar as correntes e urrar ferozmente, pode causar revoluções e confusões, com resultados imprevisíveis.  Ir ao encontro da ex, ou do ex. Abandonar a atual parceira, ou o atual parceiro. Não voltar pra casa e ir direto pra balada com os saudosos amigos dos tempos de solteirice. Largar tudo e voltar pra cidadezinha de outrora, com uma mão na frente, a outra atrás. Saudade feroz não mede consequências e não contabiliza prejuízos.
Eles dois passaram quase relando no braço um do outro, isso na Avenida Paulista, em pleno horário de almoço. Apressados. Ele subia em direção à Consolação e ela voltava da Rua Augusta. Sofreram o mesmo golpe paralisante quando seus olhares se cruzaram em uma fração de segundo. Ela apressou os passos, ele foi mais ousado e correu na sua direção. -  Beatriz?
Era quarta-feira, véspera de feriado. Eles dois não voltaram pro trabalho, nem voltaram pra casa. Ex, bicho trancado na jaula das lembranças contidas. Duas feras soltas se encontraram casualmente, para viver o que restava de um amor mal resolvido do passado. Reataram.
Saudade inconfessável, não admitida à luz do sol, saudade proibida, complicada, que fere e maltrata. Amor das asinhas quebradas, os dois voaram rumo à felicidade. De ex se tornaram par, outra vez.

Texto em homenagem aos poucos e loucos.

8 de ago. de 2012

DIA DOS PAIS


Dia dos pais, pra mim é complicada a data. Meu pai faleceu, meus avôs também.  Escreverei algo leve e breve, lá vai!

Há bons pais neste mundo, pais que cuidam de seus filhos em todos os sentidos, que não apenas são provedores, mas educadores, protetores, que formam com sua prole laços de doce afeto. Nem todos assim o são,  mas ao que parece o HOMEM mais e mais aprende que seu lugar é sim na cozinha, é sim trocando fraldas, é sim brincando sentado no chão, é sim perdendo a noite de sono ocasionalmente, tudo em prol de criaturinhas miudinhas, frágeis e que transformam completamente a vida de quem as recebe: filhos.
Pai participa do faz-de-conta dos filhos e volta a ser criança, cercado de  brinquedinhos que  representam personagens de desenhos animados e super-heróis. Volta a ser menino, em leituras por mundos encantados onde tudo é colorido e muito mais feliz. Pai, de verdade, pode não ter muito tempo, mas o pouco tempo que tem ao lado dos filhos é pura e simples eternidade, sorvido com gosto e vontade. Mais vale a qualidade do que a quantidade.
Pai que é pai se deixa levar pela magia da infância de seus filhos, pega carona na meninice de seus rebentos e redescobre o garotinho que habita dentro de si. Ser pai é uma verdadeira aventura.
O tempo passa, as crianças crescem, vão pra faculdade, vão viajar, se casam e trazem os netos. Ser avô é melhor do que ser pai. Avô é um pai mais experiente, paciente, que entende de assuntos que nem sempre são compreendidos pelo pai da gente. Avô sabe de tudo um pouco e tem muitas histórias pra contar. Avô é tão bom, que deveria ser eterno!
Que mais e mais homens, a cada dia, descubram a maravilhosa paternidade. Ser pai é uma das mais belas missões nesta vida: a missão de criar seres humanos. Parabéns a você, pai!




4 de ago. de 2012

SINUSITE MODELO 2012


Apanhei uma gripe. Não, nada disso! Acho que ocorreu o oposto: uma gripe me apanhou. Pensando bem, depois de vários rounds e um belo nocaute, beijei a lona e joguei a toalha: uma gripe me derrubou impiedosamente.  Lembro-me do último domingo, ao voltar pra casa no final do dia pedi a Divo que olhasse minha garganta. Abri a boca emitindo um AAAAA. 
– Divo, minha garganta está vermelha?
 – Claro,né? Queria que estivesse de qual cor?
 – Divo, vou perguntar de novo: minha garganta está inflamada?
 – Abra a boca.
– AAAAA. 
– Toma uma com limão que você pegou gripe.
 – Uma?
– É, uma branquinha.
 – Leite?
– Diva, branquinha é cachaça!
– Divo, eu não bebo cachaça!
- Amor, faça um gargarejo com água morna e sal, tome uma aspirina e um banho quente.
Tentei seguir as recomendações de Divo, exceto a branquinha, e fui dormir cedo. Acordei no meio da noite com muita dor de garganta e o corpo tão dolorido que parecia que eu tinha corrido alguma maratona. Procurei o termômetro e depois de vasculhar duas gavetas, acordar Divo e também acordar o cãozinho Bono, encontrei o termômetro na prateleira da cozinha.  A febre me consumia, ou será que me cozinhava? O termômetro marcava 38,5C.
Segunda-feira é dia de reunião, dia de correria, de muito trânsito para temperar o começo da semana. Levantei às 07h00 praticamente me arrastando pela casa. Meu nariz entupido e parecia que todos os meus ossinhos, nervos e músculos tinham sido atropelados por uma jamanta. Olhei pela janela o dia frio, chuvoso e cinzento. Mal conseguia caminhar, tudo o que eu mais queria era voltar pra cama e me cobrir com o edredom.
-Diva, fique em casa hoje.
Pensei um pouco, mas não vi saída, eu precisava trabalhar. Um banho quentinho, isso é sempre revigorante. Escolhi um casaco e uma echarpe para aquecer meu pescoço. Assim que cheguei ao escritório eu me senti no planetário! O mal estar era tamanho que eu jurei ver estrelinhas.
Minha voz estava rouca, meu nariz escorria, os olhos lacrimejavam, eu estava com calafrio e todas as “ites” possíveis me acometiam: otite, laringite, rinite e sinusite. Esqueci em casa a caixinha de lenços de papel, providenciei um rolo de papel higiênico que carreguei feito um troféu pra lá, pra cá.
As pessoas evitavam me cumprimentar: “- Oi, Diva, beijinho de longe!”.  Se eu estivesse com sarampo causaria menor repugnância.  Chegaram a abrir as janelas do escritório naquele frio de rachar.
Era meio-dia quando meu chefe, Dr. Armando, me chamou.  – Dona Diva, a senhora está gripada?  Minha voz estava horrível! – Só um bouquinho, eu tô um bouco congestionada, bor favor não rebare.
- Dona Diva, a senhora está dispensada. Vá pra casa, prepare um chá, tome um remedinho, amanhã nos telefone para dar notícias.
Cheguei em casa, desviei de Bono que fazia festinha, deitei na minha cama de roupa e tudo. Acordei quando Divo chegou em casa no começo da noite. – Diva, vamos ao médico.
Pelo caminho fiz o diagnóstico: - Divo abosto que estou com sinusite.
Sinusite dói. Sinusite faz a gente pensar em nariz quebrado, cabeça prestes a explodir.
Medicada, voltei pra casa. Seis dias depois ainda gripada, nariz entupido, a sinusite controlada, porém fortíssima.
Não tinha ninguém em casa quando tocou o telefone, eu estava enroladinha na mantinha de lã xadrez, curtindo meu nariz entupido.  Atendi sonolenta: - Alô. – Por favor, a senhora Diva está? – Sim, é ela. – Senhora, aqui é do Banco que Pariu, sou Fulano, o seu gerente. 
Tentei imaginar se tinha passado um cheque sem fundos, se tinha estourado o limite do cheque especial, ou do cartão de crédito.
- Bois não, é o Fulano gerente da binha conta?
- Senhora Diva, a senhora é nossa cliente especial master plus. Por esse motivo gostaríamos de lhe oferecer um seguro gold sunshine para o seu automóvel.
Eu não podia acreditar: o mala do Banco que Pariu tinha me acordado, eu com sinusite, e queria me vender um seguro para o meu automóvel. Detalhe: eu não dirijo, portanto eu não tenho carro.
- Fulano, bor favor, desculbe interrombê-lo. Eu estou com sinusite.( E tossi).
- Oh, Senhora Diva, peço desculpas pelo inconveniente.  Posso ligar em outro horário. Qual é o melhor horário para a senhora?
Tentei imaginar em qual horário a sinusite iria me deixar. Resolvi então papear, tem coisa melhor para combater um chato?
- Fulano, eu beguei sinusite. Bedi pro beu barido olhar binha garganta e ele disse que estaba bermelha. Fobos pro hosbital e o bédico disse que era sinusite. Eu tobei antibiótico e não bassou. Beu barido disse pra eu tobar uba branquinha que bassa.
- Pois não, senhora. Nós, do Banco que Pariu estamos à sua disposição, assim que se recuperar telefone para nós. Desejamos a sua pronta recuperação.
- Esbera, Fulano! Quanto custa o seguro?
O sujeito se animou.
- Qual é o modelo e ano do seu carro?
- Quanto custa o seguro de um Bercedes 2012?
- Mercedes?- Qual modelo do Mercedes?
- Não sei, berguntei só bra saber.
Notei a irritação de Fulano.
- Senhora, infelizmente preciso desligar, aguardaremos a sua ligação para fazermos uma cotação para o melhor seguro para o seu Mercedes.
- Esbera, Fulano!
- ...
- Eu não tenho um Bercedes.
- Já imaginava, senhora.
-Beu carro é uba Ferrari.
Fulano desligou confuso,  sem saber se eu estava falando sério, ou não. Nem sempre sou vingativa, mas tenho meus dias de "Carminha". É justo estar com sinusite, cheia de antibiótico, dormindo enrolada em um cobertor e atender ao telefone para ouvir proposta de seguro do gerente do banco?
Dois dias depois chegou um envelope do Banco que Pariu na minha casa. Fulano havia aumentado o meu limite de financiamento, o limite do meu cheque especial e do meu cartão de crédito. Creio, ele acreditou que eu tenho uma Ferrari, ou algo assim.
Ainda com sinusite, termino o texto rindo à beça. Ferrari? Eu tenho o chaveirinho, será que serve?