Recorrer ao dicionário, ou Pai dos Burros, esse foi o meu
recurso. Aurélio, o que seria de mim sem você? Meu olhar paralisou sobre aquela
palavra esquisita, que não pareceu estranha, mas seu significado fugiu ao meu
conhecimento. O que seria escatológico? Ali estava a definição: “nauseabundo,
nojento”. Eca, pensei! Escatológico é
algo repulsivo!
Pois voltei à frase que continha o termo anteriormente por
mim ignorado. Li e reli aquele comentário ao meu último texto, que chegara há
instantes na caixa postal do meu e-mail. Algo mais ou menos assim: “Diva, seus textos são ruins e escatológicos”.
Toda crítica é bem-vinda, até mesmo essas críticas
nauseabundas, inúteis e anônimas. Digo anônima porque chegou ao meu e-mail e
tentei responder, mas voltou a mensagem com aquele “undelivery sei lá do quê”.
Não compreendo como alguém perde o precioso tempo a ler algo
que o desagrada. Pior que isso, a entreter-se, divertir-se com o aborrecimento
alheio ( no caso, o meu aborrecimento).
Escatológico, leitor anônimo,
é o seu ócio. Que me desculpem os demais leitores, mas esta blogueira não tem
lá muita paciência com tamanha falta do que fazer.
Pensei, então, em escrever algo com essa palavra. Um texto
com o termo empregado pelo infeliz comentarista anônimo de meus textos. Algo feito por
mim, no capricho, para combinar com suas ideias, intenções e palavras
escatológicas. Aproveite e obrigada por conduzir-me ao dicionário. Cultura,
ainda que nauseabunda, nunca é demais! Eis o texto!
Sinônimo de escatológico. Palavras cruzadas é um ótimo
passatempo, um entretenimento simples, que ajuda o tempo a passar e lubrifica
as engrenagens do cérebro. Devo ter algum parafuso solto na cabeça, comecei as
palavras cruzadas e esqueci completamente do meu afazer anterior: o feijão na
panela de pressão. Estava lá, mordendo a tampinha da BIC e tentando encontrar a
palavra de sete letras, sinônimo de escatológico. Terminava com a letra O.
Escatológico, não sei porquê, lembrou arqueológico. Pensei em algo ligado a
ossos, caveiras, esqueletos. Meu pensamento viajou longe, lembrei de Indiana
Jones, depois de Harrison Ford. Já estava a recordar a segunda versão do filme
Sabrina quando meu olfato deu o alarme: algo escatológico ocorria ao meu redor,
que cheiro seria aquele? A cozinha enfumaçada e a panela de pressão
surtadíssima sobre o fogo indiferente.
Medo, paralisei. Se me aproximasse, tudo poderia ir pelos ares
justamente naquele instante. Porém, como resolver o problema, sem primeiro
desligar a chama do fogão? Ah, o fogão! Divo adquiriu em três prestações
naquela loja de departamentos e quinquilharias, o tal do fogão cook top,
chiquérrimo. Divo, certamente, me ensinaria o significado de “escatológico”,
assim que descobrisse o mal feito na cozinha, tudo praticamente zero quilômetros. Chama
do fogão apagada, restava a panela de pressão parar de dar “piti”. TXI, TXI,
TXI, TXI, TXI, TXI TXIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII.... Saí correndo,
carregando meu cãozinho Bono Latívio, vestida de pijama de florzinhas e
sandálias Havaiana nos pés. Dei de cara com Samir, aquele personal treiner
bonitão que mora no apartamento 166. Agarrei seus formosos bíceps, pendurei-me em seus tríceps, completamente desesperada: - SOCORRO, minha panela vai explodir!
Tem homem que nasceu pra ser salva-vidas. Samir, entrou no
apartamento e me fez lembrar Superman, Batman, Homem Aranha e Thor. Um
super-herói com barriga tanquinho. Pegou a panela de pressão e a levou para a
área de serviço. A panela tri-enlouquecida, chiava escandalosamente. Depois de
dois minutos, já dentro do tanque, começou a acalmar-se. Por fim, fez um som
mais ou menos assim: PUFFFF. O feijão queimado, totalmente escatológico, grudou
na panela de um jeito irreversível. Ah, a panela de pressão elegantíssima,
italiana, de inox! Divo jamais me desculparia.
Assim que me despedi de Samir, meu herói, voltei pra
cozinha. Fogão sujo, chão sujo, pia suja, panos de prato sujos e área de
serviço em um estado que nem te conto. Fiz o que pude, do jeito que pude. Divo chegou em
casa para almoçar e a situação, apesar de controlada, ainda estava
escatológica. Expliquei o ocorrido, omiti as palavras cruzadas e a visitinha do saradão Samir.
Hoje, dois dias depois, Divo ainda me olha daquele jeito
nauseabundo ( não direi escatológico). Meio de lado, um tanto sisudo. O fogão
restou são e salvo, mas a panela de pressão Made in Italy, já era. Um prejuízo
relativamente pequeno, pois não fosse Samir e seus poderosos bíceps e tríceps,
o cook top também teria ido para o beleléu.
Este texto, por mim escrito, é uma homenagem ao leitor que chamou meu trabalho
neste blog de “escatológico”. Obrigada, caro leitor anônimo, pela inspiração.
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