O e-mail chegou assinado apenas assim: “P. L.”. O destinatário não era anônimo, afinal ali constava seu
endereço eletrônico. E-mail empresarial.
Descuidado, talvez.
P.L. escreveu um longo, comovente e sensível desabafo.
Quatro páginas de papel A4, que imprimi para ler e reler. Chorei, confesso que
chorei ao concluir que já passei pelas mesmas situações, que tenho algumas de
suas dúvidas e angústias. P.L. pediu minha opinião, o meu conselho. Não sou boa
conselheira. Diga-me: quem sou eu para aconselhar alguém, P.L.? Na vida eu já
enfiei o pé na jaca, já entrei em ruas sem saída, já pulei em despenhadeiros.
Sobrevivi!
Meus personagens nascem, vivem, sofrem, amam, morrem.
Ficção, que baseio em fatos hipotéticos. O fim de minhas histórias termina na
última palavra escrita, no ponto final. O que dizer a você, P.L.? Não posso
dizer-lhe que sofrer é normal, afinal sofrer não é normal! Não posso dizer-lhe
que amar é algo sereno, porque não é sereno. Perder-se de um grande amor é
superável, desde que jamais essa perda seja reconhecida à luz de nossas
consciências. Nem sempre estamos preparados para o amor. Perder alguém para
esse despreparo e mais tarde dar-se
conta é desesperador. O que fazer?
Isso pode acontecer um minuto depois de uma discussão. Pode
acontecer no dia seguinte. Uma semana depois. Um mês depois. No seu caso, a “ficha
caiu” anos e anos mais tarde, quando compreendeu que aquela era a mulher de sua
vida. Ela agora comprometida com outra
pessoa e você casado com outra mulher.
Por onde começar? O que fazer? E eu aqui, escrevendo isso
tudo para publicar no meu blog, a seu pedido. Pensei muito, tentei colocar-me
no seu lugar. O que eu faria? Choraria
um rio de lágrimas, certamente. Pela perda, pelo “ah, é?”, pela burrada. Aliás,
chorei mesmo, sua história se parece com a minha e com a de muitas pessoas que
conheço.
A vida apresenta oportunidades raras, algumas são oportunidades
únicas. É uma pena imensa que nem sempre estejamos preparados para essas
ofertas-relâmpago da vida. Um reencontro, uma tentativa de reconciliação
frustrada, um adeus estabanado, às vezes pelo medo de amar, de se ferir, de não
ser feliz. E o que é viver, senão um risco? Que pena só percebermos isso mais
tarde!
Não te aconselhei, mas entendi que você só se deu conta do
amor que tem depois de passar anos e anos longe de sua amada. Só depois de
casar com outra pessoa, depois de descobrir que sua amada também estava casada
com outra pessoa. E doeu. Espero que não seja fogo breve, mas sim chama eterna.
Que você seja fiel a si mesmo, que seja sincero consigo e com sua atual
companheira. E depois? Depois faça o que mandar seu coração. Pode escrever
novamente, mas eu juro de pés juntinhos que sou péssima conselheira
sentimental.
Um abraço,
Diva Latívia
2 comentários:
É Diva, acho que nem vc, nem ninguém é bom conselheiro sentimental, afinal não existem receitas e o ser humano é imprevisivel. Então, sábia decisão, melhor não aconselhar!
Bjs
Pois é, Deborah Spatotto, como diz aquela música: "cada um sabe a dor e a delícia de ser quem é". Situação difícil a do P.L.!
Beijo
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