Tem saudade que é escancarada, pública e parece bem-vinda
aos olhos da sociedade. Saudade do tempo de infância, saudade de um parente que morreu, saudade do filho que
viajou, casou e mudou de endereço. Tem saudade que só faz sentido se existir
escondidinha, se viajar clandestina nos porões de nossa consciência. Saudade do
primeiro beijo, saudade do(a) ex-namorado(a), saudade de quando era solteiro(a),
saudade de quando era casado(a). Para evitar problemas, confusões, micos em geral,
é melhor deixar a saudade bem guardada, de preferência amarrada e amordaçada no
calabouço das lembranças.
A vida costuma fugir do controle, ela não segue um roteiro. A
saudade mal-vinda, quando resolve quebrar as correntes e urrar ferozmente, pode
causar revoluções e confusões, com resultados imprevisíveis. Ir ao encontro da ex, ou do ex. Abandonar a
atual parceira, ou o atual parceiro. Não voltar pra casa e ir direto pra balada
com os saudosos amigos dos tempos de solteirice. Largar tudo e voltar pra
cidadezinha de outrora, com uma mão na frente, a outra atrás. Saudade feroz não
mede consequências e não contabiliza prejuízos.
Eles dois passaram quase relando no braço um do outro, isso
na Avenida Paulista, em pleno horário de almoço. Apressados. Ele subia em direção
à Consolação e ela voltava da Rua Augusta. Sofreram o mesmo golpe paralisante
quando seus olhares se cruzaram em uma fração de segundo. Ela apressou os
passos, ele foi mais ousado e correu na sua direção. - Beatriz?
Era quarta-feira, véspera de feriado. Eles dois não voltaram
pro trabalho, nem voltaram pra casa. Ex, bicho trancado na jaula das lembranças
contidas. Duas feras soltas se encontraram casualmente, para viver o que
restava de um amor mal resolvido do passado. Reataram.
Saudade inconfessável, não admitida à luz do sol, saudade
proibida, complicada, que fere e maltrata. Amor das asinhas quebradas, os dois
voaram rumo à felicidade. De ex se tornaram par, outra vez.
Texto em homenagem aos poucos e loucos.
2 comentários:
Se ainda existe a possibilidade, por que não tentar, né?!
(Sei que não é bonito, mas vou confessar: tô sumido daqui porque o blogger foi bloqueado no computador do trabalho. Pode demorar, mas eu sempre venho dar uma conferida nas suas criações).
Amor é tudo! Na prática não é nada fácil. Tem o orgulho pra atrapalhar.
Ulisses do Céu! Como que o blogger foi bloqueado e, por isso, você não tem dado as caras? Menino, tecnologia já!!!!!!!!!!! Um escritor feito você precisa disso!!!
Já pensou em publicar um livro?
Beijo de sua leitora assídua!
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