Buscar dentro de si o fio da meada e dar-se um nó de lembranças emaranhadas. Passado, coisa que escapa e foge pro meio da rua da vida da gente.
Amanheci pensando na vida. Onde será que errei, ao deixar aquele episódio banal ganhar dimensões dramáticas? Um simples capítulo transformou-se em epílogo, um ponto final.
Todo adeus é estabanado, afinal a Deus. Coisa de fim, término, infinito, nunca mais. Estabanei-me a chorar desesperadamente. Vinguei-me: fui ser feliz.
Fui pra balada sacudir meu esqueleto. A gente passa dos cinquenta anos e começa a ter dor nas juntas. Junta tudo e joga fora! Fui dançar e jogar fora o stress e a tristeza. No dia seguinte, com dor de cabeça, dor nos pés, dor em todos os músculos e ossos, tomei uma decisão: telefonaria pra ele.
Ligo, ou não ligo? O dilema fazia meu estômago dar voltas. Celular em mãos, várias vezes digitei os primeiros números e, rapidamente, desliguei o telefone. Ri, chorei, uma espécie de surto. O dia passou assim, confuso, desajustado, desequilibrado. Pura emoção!
Dois dias depois, umas duzentas ligações tentadas e não concluídas, falei com o Zé.
Ele atendeu assim: - Alô! Quem é?
Quem é? Aquele "quem é" considerei um insulto. Não tem identificador de chamadas? Não reconhece minha voz? Fui removida de sua lista de contatos telefônicos?
Gaguejei. - Sou... Sou...a...a... Di...va!
- Oi, Diva. Desculpe, mas estou ocupado neste momento. Outra hora ligo pra você. Beijinho.
Desligou. E eu, que tinha feito todo aquele ensaio, dois dias de sofrimento e ansiedade, sequer consegui responder oi, ou dizer tchau!
Raiva! Raiva de mim, raiva dele, raiva do celular. Depois da raiva vieram as lágrimas. Chorei por mim, por ele, pelo celular.
Nunca mais tive notícias do Zé. Deletei seu número da minha lista de contatos do celular, eu o removi da minha lista de amigos do Facebook, do Orkut, do MSN, da lista de contatos de e-mail. Mas, não teve jeito. Nunca consegui remover o Zé das minhas lembranças e mágoas. Três anos que passaram sem eu nem ver passar.
Estava saindo do supermercado, carregando duas daquelas ridículas sacolas retornáveis com estampa de frutas coloridas, quando escutei alguém me chamar. - Diva, oi!
Voltei-me na direção do chamado. Gelei. Zé, era o Zé!
Quis dizer "oi", mas minha garganta secou tanto que minha voz desapareceu.
- E aí, Diva? O que está fazendo aqui?
Pensei rápido, respirei fundo e após um esforço gigantesco respondi algo mais ou menos assim: - Zé, agora não dá pra conversar, estou ocupada. Beijinho!
Andei até o estacionamento do supermercado com as pernas bambas, o coração acelerado. Quase um infarto histérico. Sentei-me no carro e ri de modo descontrolado. Fui até minha casa rindo sem parar. Eu ri de mim, ri dele, ri do celular, ri do nosso reencontro e ri porque, finalmente, eu estava livre daquela criatura. Adeus, Zé! Beijinho!
4 comentários:
É, todos tem pelo menos um Zé na vida! Bom é qdo conseguimos nos livrar deles!Rsrs...que dureza!
Bj
Débora,
São uns Zés Manés, bobões que não souberam dar valor a mulheres sensacionais feito nós. ;-)
Beijo!
Aaah..adorei!
Como comentaram acima, todas as nós temos um Zé na vida para nos fazer dar reviravoltas na vida..rs
Beijos.
Lu,
Obrigada pelo comentário. Ah, sim, todas temos, ou já tivemos um Zé na vida. Ainda bem que esses Zés inspiram as histórias de Diva Latívia. Isso prova que tudo o que é ruim pode ter um aspecto positivo! rs
Beijo!
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