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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







22 de fev. de 2013

100 MIL VISITAS AO BLOG. VAMOS CELEBRAR!!!


Para celebrar 100.000 visitas a este blog, escolhi um dos meus textos antigos para ser novamente publicado. Um dos meus textos preferidos, que escrevi em parceria  com o “Quicky”! Aqui está, em homenagem a esta marca que significa muito pra mim e, tenho certeza, significa muito pro Abílio e pra minha Mami, lá no Céu!
Leitora, leitor, muito obrigada por sua ajuda, incentivo, participação. Vamos agora rumo a 200.000 visitas! Vambora!!!

Um beijo,

Diva Latívia ( Cláudia)



SAUDADE NO PRESENTE (Diva Latívia e Quicky , em setembro de 2009).

Desde pequenos aprendemos que saudade é algo que nos remete ao passado. Alguém, algum lugar, alguma coisa, mas descobri outra verdade. Hoje sinto saudade no presente, saudade de um amor que vive dentro do meu coração e perfuma a minha alma. Saudade daquele que me acompanha invisível, ou quase, pouco maior que uma foto 3x4, mas aqui, no meu peito, nas minhas veias, ao meu lado, latente, mas real. Esteve comigo do raiar do dia até o anoitecer. Do dia em que cheguei ao mundo até agora, sempre por perto mesmo não sabendo onde.
A Lua vem e vai e suas fases delimitam um estado de espírito que começo a conhecer. Às vezes ele chega de mansinho pra tocar jazz, blues, uma sinfonia que embriaga meus sentidos.
Dançar, sonhar, cada qual em seu lugar. Meu amor, meu par, meu bem querido é uma saudade presente. Tão perto de mim. Um dia após o outro, passo a passo, se aproxima aos pouquinhos, meu coração diz que sim!
É sutil a afinidade, que se revela na ausência, em silêncio e chega na brisa a esperança de finalmente quebrar a barreira do que nos distancia pra que se torne presente e dancemos felizes sob o luar. Igualdade. É o que há entre nós. Dois corações, duas almas, dois seres que não estão nem longe nem perto, sempre estiveram juntos.
Saudade de um momento do agora, de qualquer momento, de todos eles! Enquanto estou aqui sentada e pensando em você, que pensa em mim e me adora. Eu quero você, agora! Mas fique, não vá embora. Que todos os dias sejam agora. Até o fim, presente, desde o passado até o fim, pra sempre.

21 de fev. de 2013

UMA CARTA DE AMOR, TIPO ASSIM...


-Tanta coisa pra dizer, por que não escreve sobre coisas belas?
-A vida não é bela!
-Claro que é, lembra aquele filme?
-Tá louca? O filme conta uma história triste, sobre a guerra!
-Ué, eu pensei que A Vida é Bela fosse a história daquele cara dos filmes em preto-e-branco, aquele da bengalinha, o Carlitos!
-Charlie Chaplin. Não, A Vida é Bela não tem nada a ver com ele.
-Por que você não escreve uma carta de amor, alguma coisa assim, bem bonita?
-Carta de amor pra quem?
-Ah, pode ser de verdade, ou de mentira, não funciona tipo assim?
-É sim, tipo assim.

E foi assim que resolvi escrever uma carta de amor, tipo assim...

Não há, entre todas as palavras que já escrevi, entre todas as palavras que já li, uma só palavra que possa definir o que sinto. Ganho e perda, preto e branco e colorido, amor e amigo, perto e longe, ontem e hoje, com e  sem, vai e vem.  Amor,  amor no mais bonito e harmonioso sentido. 
Você, que em fração de segundo me tira do trilho, me faz rir sozinha e rodopiar feito bailarina, descalça, sobre o tapete.  Que me faz chorar, feito menina. 
Se é verdade, ou mentira, o que importa é que esta mensagem seja lançada ao mar, para que navegue até você e, então, o faz de conta acabe aqui.

-Gostou?
-Não entendi nada, quem é ele?
-Não era pra inventar, não foi você quem disse que poderia ser de mentira?
-Com tanto sentimento? Mentira nada!
-Nisso que dá te ouvir. Vou imprimir e jogar no mar, tchau.

AS QUATRO MARIAS


Quatro Marias: Maria da Luz, Maria Rosa, Maria das Graças e Maria do Prazer.
Maria da Luz tinha olhos muito verdes, mãos delicadas, dedos longos. Cabelos castanho claros, lisos e bem cuidados. Altiva, esguia, elegante.  Moça bonita, assim era Maria da Luz. O que estragava sua formosura era seu jeito sério, carrancudo, não era muito de prosa a Maria da Luz.
Maria Rosa herdou de sua mãe os olhos castanhos, suas mãos eram rechonchudas, dedos gordinhos, porém harmoniosos. Cabelos loiros e cacheados. Não era tão bonita quanto a Maria da Luz, sua irmã mais velha, mas irradiava beleza e simpatia inexplicável ao sorrir com os olhos. Assim era Maria Rosa.
Maria da Luz depressa se casou, tinha apenas dezessete anos quando seu pai lhe arranjou um pretendente, um doutor formado em medicina na Federal do Rio de Janeiro. Teve um filho, dois e três. Raramente sorria a Maria da Luz, simplesmente vivia, aceitava seu destino sem questionamento.
Maria Rosa ficou pra titia, assim era o que parecia. De fato, tornou-se amante de um político importante daquela época, 1934. Ganhou casa longe da cidade, com empregados, automóvel e móveis de luxo. Vivia coberta de riqueza e de  mimos a Maria Rosa, que apesar de não ser tão formosa ,levava uma vida confortável às custas de seu poderoso “patrocinador”.
Aos trinta e seis anos faleceu Maria da Luz, disse o médico da família que uma mulher não deveria parir velha daquele jeito. Morreu de parto ao dar à luz uma menina, a Maria das Graças. O pai, viúvo inconformado, assistiu o parto impotente, sem nada poder fazer, na qualidade de médico, pai e marido. Assim que pegou a pequena Maria das Graças em seus braços decidiu: a menina era a culpada pela morte de sua amada Maria da Luz, pois que fosse entregue a  algum parente, que fosse criada longe de si e dos demais filhos do casal.
Após o enterro de Maria da Luz, Maria Rosa levou consigo a pequena sobrinha, a órfã miudinha e frágil. A menina tinha sete anos de idade quando o político que se relacionava com Maria da Luz faleceu e deixou em nome de sua tia um quarteirão inteiro com imóveis na região do bairro de Santa Ifigênia.
Maria da Luz matutou, matutou e resolveu: abriria um puteiro de luxo, algo que a tornaria ainda mais rica e levaria adiante aquilo o que ela mais prezava na vida: alegria e prazer. Assim pensando, tornou-se famosa cafetina da cidade. Maria das Graças, na casa que ficava a duzentos metros do estabelecimento, fugia ocasionalmente de casa e, às escondidas, espiava a movimentação do bordel, cheia de curiosidade.
As coisas iam mal durante a segunda guerra mundial, era 1940 quando, prestes a fechar as portas do puteiro, Maria da Luz teve a ideia de alavancar o negócio com uma  grande atração. Maria das Graças foi leiloada, usando o uniforme do colégio de freiras que frequentava. Tinha apenas treze anos de idade e quem a levou foi um homem gordo, bêbado, um dos políticos mais poderosos da época.
Não mais saiu da vida de puta a Maria das Graças. Enriqueceu assim, no meio dos ricos e poderosos. Bonita, tão bonita quanto tinha sido sua mãe, Maria da Luz. Fogosa, tão fogosa quanto tinha sido sua tia, Maria Rosa. Em 1960, rica e embrenhada no meio de ricos, famosos e poderosos,  mudou-se para Brasília, a nova capital.
Sua filha, Maria do Prazer, herdou da mãe uma rede de motéis e prostíbulos na cidade. Seu pai é conhecido, mas a identidade do sujeito foi preservada, por motivos políticos. Maria do Prazer se candidatou a um cargo político. Talento hereditário, coisa de berço. Empresária próspera, não precisou ingressar na carreira de puta, tornou-se mulher da política. O lema de sua campanha eleitoral foi: "a moral familiar em primeiro lugar”. Foi eleita e reeleita, com louvor. Se orgulha de ser a ovelha negra da família, de não ter seguido a profissão de suas antepassadas. Essa é a história das quatro Marias.

16 de fev. de 2013

NOITE ADENTRO (Você!)

Não sei definir com exatidão o que agora sinto. Falta luz, escrevo à luz de velas. A taça de vinho tinto reflete tons luminosos, as chamas tímidas se agitam levemente no ar. Um ballet. Não há silêncio, senão a calada da noite. Meu coração padece inquieto, preciso escrever, ou meu sentimento inexato transbordará de dentro de mim,, se derramará na penumbra da noite.
Tento encontrar em minha arritmia um indício, uma explicação para o meu desassossego. Você! Perco-me em lembranças remotas, mas tão recentes, um paradoxo atemporal. Dor, a dor de sua ausência, a mescla de saudade e impotência. Você! Seu perfume parece ter invadido cada linha, cada letra, todas as palavras. Você!
Tento me agarrar à recordação de instantes nossos, que pareceram imortais. Você! O amor que tranquei no peito, transformei em versos e exorcizei em textos. Minha alma na sua alma. Você!

5 de fev. de 2013

CONFETINHO


Eu era uma folha de papel, essa minha última recordação. Apaguei quando me colocaram sobre uma prensa, ou algo assim. Acordei dolorido e colorido, notei que não estava sozinho. Eram tantos desconhecidos dentro daquele pacote, cada um de uma cor: verde, azul, cor-de-rosa, amarelo. Notei a minha cor, eu era azul. Um tom meio desbotado, esmaecido.  
Havia muito pouco espaço, estávamos todos, praticamente, prensados. Espremidos e colocados dentro de uma sacola. Tive sorte, minha visão era privilegiada, fiquei junto ao plástico transparente da embalagem. De lá fomos pra dentro de uma caixa de papelão, onde havia outras sacolas plásticas iguais à nossa. Ficou tudo escuro, balançamos muito pra lá, pra cá. Ouvi vozes, eram humanos conversando. – Zé, essa caixa de confetes aqui é pra loja da Rua das Flores! Balancei tanto que até fiquei tonto. 
Não sei dizer quantos dias se passaram, até que pegaram a sacola onde eu estava, fui parar em uma prateleira. Eu precisava  ser comprado, essa a minha única esperança de liberdade. Tratei de ajudar a sorte. A cada mão que esbarrava em minha embalagem eu me aprumava e sorria. – Hei, me leve com você! Quase fui escolhido, várias vezes.
Os dias foram passando e passando. As prateleiras mais e mais vazias,  as outras sacolas , quase todas elas, foram embora nos braços de gente desconhecida. Eu já tinha perdido a esperança, quando senti que alguém me tirou da prateleira. Finalmente! 
Novos balanços pra lá, pra cá. Risos, música alta ( ala laô, ô, ô, ô!). Abriram a minha embalagem. Pude, depois de tanto tempo de confinamento, respirar. Meus colegas de saquinho eram, pouco a pouco, libertados. Fui lançado para o alto, bailei no espaço, dei cambalhota, rodopiei feliz.  Eu, livre a dançar no ar, a girar, girar... Livre, finalmente, livre... Renasci!

3 de fev. de 2013

LETRINHAS HOMEOPÁTICAS


Domingo é aquele dia feito sob medida para dormir muito. Minha caminha aconchegante, quentinha, eu totalmente despreocupada, relaxada. Que coisa boa que é a paz, o sossego!
Creio, escutei um som. Talvez, proveniente de algum apartamento vizinho. Um alarme, talvez o telefone. Que gente inconveniente, domingo a essa hora? Que horas seriam? Ah, isso não importava. Virei-me, arrumei o travesseiro de um jeito tão bom que o sono me abraçou novamente.
Despertei. Teria sido o interfone, ou a campainha? Meu cãozinho, Bono, latiu estridente. Sem acreditar no que ocorria, zonza, caminhei sem rumo. Bati aquele ossinho do pé na quina da porta do quarto. Esmurrei a porta de tanta raiva: - porta filha da ....!!! Divo falou qualquer coisa: - Oi? Eu?
Antes que eu chegasse à cozinha, o interfone disparou duas vezes. Atendi e escutei a voz de Lindomar, o porteiro. – Dona Diva, tem uma muié aqui embaixo dizendo que é sua tia, ela pode subir?
Bono latia, o pé latejava, pensei em dizer ao porteiro que inventasse qualquer desculpa, dissesse que não tinha ninguém em casa. Eu estava meio dormindo, meio  morrendo de dor no pé.  Bono decidiu por mim, ao abanar o rabinho todo satisfeito.  - Qual o nome dela, Lindomar?
- Pera aí que vou preguntá.
- É Violeta.
Tudo o que eu não queria naquele domingo começava a acontecer. Olhei pro relógio da cozinha, 08h15 da matina. Domingo. O sono era tanto que, se eu pudesse, dormiria em pé.
-Manda subir!
Nem tive tempo de escovar os dentes, a titia apertou a campainha diversas vezes seguidas. Bono voltou a latir.Saí do banheiro mancando, de camisola, despenteada. – Bom dia, titia, seja bem-vinda!
Sequer respondeu, atirou-se sobre o sofá, com seu guarda-chuva. – Ai, estou muito cansada. O que você tem pra beber?
Busquei água pra titia. Admirada, repreendeu-me. – Menina, a esta hora da manhã você deveria estar vestida. Eu prefiro café, onde está o café?
Tinha começado o inferno do meu domingo. Um domingo ensolarado.Pra quê aquele guarda-chuva?
- Titia, vai chover?
- Está louca, garota? Não vê que está fazendo sol?
- Mas, esse guarda-chuva...
- O que tem? Eu uso o guarda-chuva pra minha proteção!
Achei melhor não fazer mais perguntas. Proteção contra raios solares? Contra ladrões? Talvez, já caduca, ela estivesse vendo inimigos imaginários!
Divo acordou com todo aquele barulho.
Titia, ao vê-lo na sala, não se conteve. – Nossa, você está horrível, meu filho. Precisa emagrecer, ou vai morrer do coração.
Divo olhou-me atravessado.Não tive dúvidas, peguei aquele comprimidinho tranquilizante natural que a minha médica homeopata, Dra. Norma, havia prescrito pra mim. Tomei logo dois. Homeopatia, segundo eu imaginava, era algo leve, inofensivo, quase docinho pra criança. Sentei-me à mesa e observei titia mastigar avidamente pão integral com requeijão. O som que produziu ao beber café com leite fez Bono rosnar.
- Diva, menina, quem vai buscar minha mala na portaria do prédio?
-Sua mala?
-Claro, como acha que vou passar uma temporada na sua casa sem trazer minhas coisas? Mande seu marido ir buscar! 
Mal terminou de falar, tirou a dentadura, sem a menor cerimônia e, com dificuldade, caminhou até a cozinha, escolheu um dos meus copos favoritos e lá colocou a dita cuja. 
Homeopatia é coisa natural. Feito maracujá, erva doce, essas coisas. Tomei mais um comprimidinho de calmante e não lembro muito bem se falei com Divo, ou não. O que sei é que consegui chegar até minha cama.
Sonhei que eu voava, que a montanha-russa tinha asas e que as nuvens eram esverdeadas.
Acordei às 17h23, assim marcava no rádio-relógio. Meu quarto silencioso, tudo muito confortável. Onde estaria Divo?
Cheguei à sala, titia fazia crochê e assistia Silvio Santos. Divo e Bono deixaram um bilhete assim escrito: fomos almoçar na casa da mamãe.
- Diva, sua irresponsável! Uma mulher tem deveres, quer perder seu marido pra outra? Como que você dorme até essa hora?  Por isso que você está assim, gorda! Seu marido ficou sem almoço e eu estou faminta! O que vamos ter para o jantar?
Fugi de volta pro quarto e telefonei pra prima Rosa. – Rosinha, pelo amor de Deus, me ajude!
Titia, para meu alívio, foi exportada pra casa da Rosinha, ela e sua mala. Passei dois dias meio avoada, calma demais. Homeopatia, é? Aquilo é uma bomba-calmante!  Comigo agora é assim: na portaria do prédio deixei ordem de jamais, nem mesmo em caso de incêndio, o interfone tocar antes do meio-dia.
Quinta-feira, dez horas da manhã, chegou o televisor novo, comprado por Divo no sábado. Lindomar, o porteiro, não recebeu e nem me chamou, afinal não era meio-dia. Sacana!
Pensei em tomar outro calmante homeopático, mas concluí que aquilo dava barato, com nuvens esverdeadas e tudo o mais. Melhor enfrentar a realidade à seco. E tudo isso eu devo à tia Violeta, que de casa em casa, de parente em parente, causa confusões familiares incríveis.
Hoje cedo telefonou a prima Rosa. Queria, de todo jeito, me convencer que agora era minha vez de ficar com a tia Violeta. Segundo propôs: uma semana cada uma, um revezamento.Mais do que depressa eu inventei uma desculpa: - Vou operar, não posso!
 – Operar o quê?
 – É... Hã... Não seja indiscreta, Rosinha!
 – Ah, já sei, vai colocar silicone na bunda, né?
O desaforo de Rosinha me fez entender que melhor do que calmante homeopático são exercícios físicos regulares. Escrever, meu esporte preferido, é um bom tranquilizante e não tem efeitos colaterais, mas tem nuvens esverdeadas e me faz voar pra qualquer lugar. Santo calmante!


2 de fev. de 2013

TEXTOS COLHIDOS EM CAMPOS FLORIDOS


Há algumas semanas recebo mensagens diversas de leitores deste blog com a seguinte reclamação: DIVA LATÍVIA, ONDE ESTÃO SEUS NOVOS TEXTOS?
Boa pergunta, queridos leitores.Os meus novos textos estão...Hã... Estão... Não sei onde eles foram parar. Já comecei frases que deletei, já joguei na lixeira do computador ( e na lixeira de papel) textos que reli e não gostei. Às vezes, surge uma ideia nova. Porém, essa ideia nova costuma ser inoportuna, teima em surgir em meio a uma reunião de trabalho, por exemplo. Não anotá-la é o suficiente para que a danada vá embora, sem deixar um só rastro de lembrança em minha cabecinha ocupadíssima com os afazeres diários.E assim, em minha rotina, deixo os textos em algum lugar.
Estava sentada na varanda de casa, em uma noite enluarada. As luzes da cidade de São Paulo apagam as estrelas. Sentei-me na rede e comecei a matutar. Viver em uma grande cidade compromete não apenas os pulmões, mas também a saúde emocional de qualquer ser vivo. A poluição do ar, da água, a poluição visual e sonora. O trânsito, o medo de sair de casa e sofrer alguma espécie de violência. Os alimentos comprados em hipermercados, a falta de qualidade das frutas, legumes e verduras. Quanto agrotóxico!  Mais e mais estou descontente com esse modo de vida que, pra mim, fez sentido enquanto eu era jovem, estudava e trabalhava nesta imensidão de concreto cinza.
Quero o mato. Quero pisar descalça na grama úmida do orvalho da manhã. Quero observar o voo de pássaros e insetos em meu pomar. Quero sentar-me sob uma mangueira e me lambuzar com seus frutos suculentos, sem me importar com o dia da semana, ou o horário.  Quero, preciso com urgência, fugir da cidade de São Paulo, definitivamente.
Meus novos textos residem em alguma cidadezinha pacata, entre montanhas. As letrinhas aguardam ansiosas para serem por mim reunidas em frases, feito um campo de flores a enfeitar o olhar de quem o admira. Textos à beira do fogão à lenha, textos artesanais, sem corantes, conservantes, saudáveis e naturais. Essa a morada de meus textos, ali eles estão. Enquanto esse dia não chega, eu me conformo com o pequeno palmo de céu que consigo visualizar da sacada do meu apartamento.  Segue aqui, para vocês, mais um texto urbano, semente que lanço em direção à serra.