Quatro Marias: Maria da Luz, Maria Rosa, Maria das Graças e
Maria do Prazer.
Maria da Luz tinha olhos muito verdes, mãos delicadas, dedos
longos. Cabelos castanho claros, lisos e bem cuidados. Altiva, esguia,
elegante. Moça bonita, assim era Maria
da Luz. O que estragava sua formosura era seu jeito sério, carrancudo, não era
muito de prosa a Maria da Luz.
Maria Rosa herdou de
sua mãe os olhos castanhos, suas mãos eram rechonchudas, dedos gordinhos, porém
harmoniosos. Cabelos loiros e cacheados. Não era tão bonita quanto a Maria da
Luz, sua irmã mais velha, mas irradiava beleza e simpatia inexplicável ao sorrir com os olhos. Assim
era Maria Rosa.
Maria da Luz depressa se casou, tinha apenas dezessete anos
quando seu pai lhe arranjou um pretendente, um doutor formado em medicina na
Federal do Rio de Janeiro. Teve um filho, dois e três. Raramente sorria a Maria
da Luz, simplesmente vivia, aceitava seu destino sem questionamento.
Maria Rosa ficou pra titia, assim era o que parecia. De
fato, tornou-se amante de um político importante daquela época, 1934. Ganhou
casa longe da cidade, com empregados, automóvel e móveis de luxo. Vivia coberta
de riqueza e de mimos a Maria Rosa, que
apesar de não ser tão formosa ,levava uma vida confortável às custas de seu
poderoso “patrocinador”.
Aos trinta e seis anos faleceu Maria da Luz, disse o médico
da família que uma mulher não deveria parir velha daquele jeito. Morreu de
parto ao dar à luz uma menina, a Maria das Graças. O pai, viúvo inconformado,
assistiu o parto impotente, sem nada poder fazer, na qualidade de médico, pai e
marido. Assim que pegou a pequena Maria das Graças em seus braços decidiu: a
menina era a culpada pela morte de sua amada Maria da Luz, pois que fosse
entregue a algum parente, que fosse
criada longe de si e dos demais filhos do casal.
Após o enterro de Maria da Luz, Maria Rosa levou consigo a
pequena sobrinha, a órfã miudinha e frágil. A menina tinha sete anos de idade quando o político que se relacionava com
Maria da Luz faleceu e deixou em nome de sua tia um quarteirão inteiro com
imóveis na região do bairro de Santa Ifigênia.
Maria da Luz matutou, matutou e resolveu: abriria um puteiro
de luxo, algo que a tornaria ainda mais rica e levaria adiante aquilo o que ela
mais prezava na vida: alegria e prazer. Assim pensando, tornou-se famosa
cafetina da cidade. Maria das Graças, na casa que ficava a duzentos metros do
estabelecimento, fugia ocasionalmente de casa e, às escondidas, espiava a
movimentação do bordel, cheia de curiosidade.
As coisas iam mal durante a segunda guerra mundial, era 1940
quando, prestes a fechar as portas do puteiro, Maria da Luz teve a ideia de
alavancar o negócio com uma grande
atração. Maria das Graças foi leiloada, usando o uniforme do colégio de freiras
que frequentava. Tinha apenas treze anos de idade e quem a levou foi um homem
gordo, bêbado, um dos políticos mais poderosos da época.
Não mais saiu da vida de puta a Maria das Graças. Enriqueceu
assim, no meio dos ricos e poderosos. Bonita, tão bonita quanto tinha sido sua
mãe, Maria da Luz. Fogosa, tão fogosa quanto tinha sido sua tia, Maria Rosa. Em
1960, rica e embrenhada no meio de ricos, famosos e poderosos, mudou-se para Brasília, a nova capital.
Sua filha, Maria do Prazer, herdou da mãe uma rede de motéis e prostíbulos na cidade.
Seu pai é conhecido, mas a identidade do sujeito foi preservada, por motivos
políticos. Maria do Prazer se candidatou a um cargo político. Talento
hereditário, coisa de berço. Empresária próspera,
não precisou ingressar na carreira de puta, tornou-se mulher da política. O
lema de sua campanha eleitoral foi: "a moral familiar em primeiro lugar”. Foi
eleita e reeleita, com louvor. Se orgulha de ser a ovelha negra da família, de não ter seguido a profissão de suas antepassadas. Essa é a história das quatro Marias.
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