Eu era uma folha de papel, essa minha última recordação.
Apaguei quando me colocaram sobre uma prensa, ou algo assim. Acordei dolorido e
colorido, notei que não estava sozinho. Eram tantos desconhecidos dentro
daquele pacote, cada um de uma cor: verde, azul, cor-de-rosa, amarelo. Notei a
minha cor, eu era azul. Um tom meio desbotado, esmaecido.
Havia muito pouco espaço, estávamos todos,
praticamente, prensados. Espremidos e colocados dentro de uma sacola. Tive
sorte, minha visão era privilegiada, fiquei junto ao plástico transparente da
embalagem. De lá fomos pra dentro de uma caixa de papelão, onde havia outras
sacolas plásticas iguais à nossa. Ficou tudo escuro, balançamos muito pra lá,
pra cá. Ouvi vozes, eram humanos conversando. – Zé, essa caixa de confetes aqui
é pra loja da Rua das Flores! Balancei tanto que até fiquei tonto.
Não sei dizer
quantos dias se passaram, até que pegaram a sacola onde eu estava, fui parar em
uma prateleira. Eu precisava ser
comprado, essa a minha única esperança de liberdade. Tratei de ajudar a sorte.
A cada mão que esbarrava em minha embalagem eu me aprumava e sorria. – Hei, me
leve com você! Quase fui escolhido, várias vezes.
Os dias foram passando e passando. As prateleiras mais e mais vazias, as outras sacolas , quase todas elas, foram embora nos braços de gente desconhecida. Eu já tinha perdido a esperança, quando senti que alguém me tirou da prateleira. Finalmente!
Os dias foram passando e passando. As prateleiras mais e mais vazias, as outras sacolas , quase todas elas, foram embora nos braços de gente desconhecida. Eu já tinha perdido a esperança, quando senti que alguém me tirou da prateleira. Finalmente!
Novos balanços pra lá, pra cá. Risos, música alta (
ala laô, ô, ô, ô!). Abriram a minha embalagem. Pude, depois de tanto tempo de
confinamento, respirar. Meus colegas de saquinho eram, pouco a pouco, libertados.
Fui lançado para o alto, bailei no espaço, dei cambalhota, rodopiei feliz. Eu,
livre a dançar no ar, a girar, girar... Livre, finalmente, livre... Renasci!
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