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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







20 de mai. de 2013

CORAÇÃO PARTIDO


A penumbra do ambiente, a luz da luminária antiga. Sua cabeça doía e parecia brincar de roda, um gira-gira de lembranças que iam e vinham e a assombravam. A janela do terraço restava aberta, o vento espantava a cortina de renda, que rodopiava assanhada a derrubar os enfeites de cristal sobre a mesa lateral. Cristal quebrado, admirou impassível os minúsculos pedacinhos coloridos espalhados sobre o tapete. Assim era a sua história, a sua vida, assim estava o seu coração: partido!
Todos os amores deveriam nascer com um certificado de garantia eterna. Amores deveriam ser infinitos e intensos, mais e mais, a cada dia. Suspirou e enxugou outra lágrima. Olhou para o relógio e percebeu que ali estava, praticamente jogada sobre o sofá, desde as cinco horas da tarde. O tempo parecia paralisado, ela não notou o caminhar das horas. Tratou de enxugar as lágrimas, recolher os minúsculos pedacinhos de cristal, fechar a janela. Antes de chegar ao quarto, escutou o som da chave a rodar na porta de entrada. Era ele!
Amores deveriam morrer silenciosamente e à seco. Sem choro, sem lágrimas, sem gritos, sem apelos patéticos. Amores deveriam morrer dignamente. Seu coração acelerou, sua cabeça parecia querer explodir. Perdeu o controle de si. Seus gritos foram escutados em outros apartamentos, em outros andares. Enfurecida, magoada, ensandecida. Havia ainda um sentimento qualquer dentro de si, algo que implorava: “ por favor me ame, não me deixe! “. Amores deveriam ser recíprocos!
A dor do adeus, para vida, ou para a morte, é lancinante. Dizer adeus, nunca mais saber se aquele alguém está feliz, ou triste. Se está resfriado, ou se viajou novamente. Se ainda bebe café com cinco gotas de adoçante, ou se continua escutando as mesmas músicas. Perder alguém, perder-se de alguém para a vida! Adeus...
Ele passou ligeiro pela sala, atravessou o corredor e fechou-se no quarto.  Não mais que meia hora e saiu de lá carregando duas malas e uma sacola. Falou qualquer coisa sobre o advogado, a separação. Teimosas lágrimas, outra e outra a escorrer por seu rosto. Olhos inchados, mãos trêmulas. Quis dizer alguma coisa, balbuciou seu nome. Ele saiu pela porta sem olhar na sua direção. Foi embora sem dó e rapidamente. Pelo terraço do apartamento ela conseguiu vê-lo entrar no carro, lá embaixo, na calçada do lado oposto da rua. Acenou, ele não a viu. Adeus... Todo adeus deveria durar apenas uma fração de segundo e ser sucedido por uma reconciliação calorosa e feliz.
Amor, feito rosa, desabrocha lindamente e, um dia, se esvai. Pra onde irão os amores desfeitos, cujos laços se desmancharam pela vida, ou pela morte? O sol voltou a brilhar no dia em que derramou o olhar sobre um outro alguém. Feito roseira, uma nova flor despontou em botão, um recomeço, o papel do amor a se executar outra vez. O perfume das rosas é eterno, as flores são mortais. Que pena, os amores bailam na vida em um vem e vai, brotam no olhar, na voz, nas palavras todas e morrem no adeus, a esperar uma nova primavera em flor. Adeus...

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