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Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







31 de jul. de 2014

VERSOS AMASSADOS

Ela deixou de lado o livro e embrulhou-se no xale de cor azul. A garrafa de vinho pela metade. 
Ao som de Robert Cray ( Don´t be Afraid of the Dark), escreveu algumas frases, depois rabiscou as palavras, amassou o papel e deixou-o cair a seus pés.
Terminou a taça de vinho e foi até perto da lareira, admirou as labaredas longamente. Voltou ao sofá, deitou-se e sonhou com o destinatário dos versos amassados. 

26 de jul. de 2014

VOVÓ ( Dia dos Avós)

A loja era relativamente ampla. Estreita, comprida e mal iluminada. O pé direito alto. Prateleiras de ponta a ponta acolhiam o que estava anunciado na placa sobre a porta principal: tudo para o seu lar. 
A miudinha soltou a mão da avó. A senhora estava entretida com os modelos coloridos de sacolas de lona, destinadas às idas e vindas à feira livre e supermercado. Quando deu por si, lá estava a pequena, passos ligeiros a caminho da calçada.
Naquela época, o bonde cruzava a avenida ruidosamente. Um calafrio percorreu a espinha curvada e reumática. Segurou firme a mãozinha da rebelde e pagou a compra. O choramingo a fez ceder. 
Comprou argolas de plástico cor-de-rosa feitas sabe-se lá pra quê. As bonecas de porcelana foram presenteadas com auréolas  de anjo: - Toma, são presentes da Vovó pra vocês!

Um episódio verídico, acontecido há tanto tempo! Vovó, minha amada Adelina, aqui está um pedacinho nosso. Que você receba o meu texto embrulhado em nuvens brancas de algodão.

25 de jul. de 2014

SONHO DE PASSARELA

Na ponta dos pés ela se aproximou do espelho do banheiro. Seus olhos brilharam, tocou seu reflexo com a ponta dos dedos. Subiu na cadeira e alcançou o estojo de cor dourada que estava sobre a prateleira, abriu-o e tirou de dentro vários objetos, espalhou tudo na pia.
Um tubo de cor preta foi a sua primeira escolha, passou ao redor dos olhos a tinta escura. Piscou os olhos diversas vezes a se admirar. Um pincel maior que seu nariz espalhou um pó de cor rosada nas maçãs do rosto. Ultrapassou os contornos dos lábios em tom carmim. Nos cabelos prendeu um coque desarrumado.
Passos ligeiros, foi ao quarto e se enfiou em um vestido vermelho, que escondeu seus pés. Calçou um par de sapatos de salto alto maior que seu número. O colar de contas negras alcançava seus joelhos e a echarpe azul de bolinhas amarelas teimava em cair de seus ombros. 
Ao som de Madonna ( Vogue), segurou a barra do vestido, a passadeira do corredor era a sua passarela. Deu uma voltinha desajeitada e seus pés miúdos a conduziram até a plateia sentada na sala de casa: pais, tios e avós. Flashes das câmeras dos celulares, aplausos, risos consanguíneos: sonho de crescer top model.

18 de jul. de 2014

O OLHAR CURIOSO DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

Já passava das duas da tarde quando a fome gritou zangada: - hora de almoçar!
São Paulo aos domingos, restaurantes aos montes. Escolhi o restaurante que meu estômago encontrou primeiro. Lotado! A espera por uma mesa foi um tanto demorada, lembro-me que famílias com crianças pequenas permaneciam sentadas em mesinhas na calçada, entre risos e choramingo dos pequenos. Lá pelas tantas consegui a esperada mesa, um bom lugar próximo ao buffet de saladas.
Certamente, pedi uma cerveja, essa a boa pedida que sempre faço. Como sempre, meu olhar começou a girar 360 graus, a buscar elementos para a minha criação blogueira. Algo involuntário, sou meio "voyeur" ( isso já me causou problemas). Dessas cenas cotidianas, vez ou outra, capturo inspiração para meus textos. Não sei mais o que escolhi no menu, possivelmente massa – sou avessa às carnes em geral. Devo ter dispensado a sobremesa, o sentimento de culpa pós-gulodice costuma atacar nesse doce momento. O café bebi sem açúcar, isso faz parte da culpa.
Meu olhar giratório pousou na mesa ao lado. Ali estava alguém que reconheci imediatamente: o escritor João Ubaldo Ribeiro. Vestido de um jeito despojado, estava desacompanhado. Meu olhar rodopiante encontrou seu olhar curioso. Os mortais ao nosso redor lá estavam a ser duplamente analisados, suas vidas a ser imaginadas. De repente éramos os dois a nos observar.
João depositou seu olhar em mim longamente. Por fim, sorriu discretamente e acenou. E eu, tímida e cheia de reverência, devolvi o sorriso, paguei a conta apressada e fui embora. Senti o olhar do escritor a me seguir. Feitiço virado contra a feiticeira, ser capturada pela curiosidade do ilustre escritor me deixou sem graça.
Esse um episódio que nunca esqueci, gosto de literatura e aprecio os escritos de João Ubaldo. Espero que no Céu exista muito a ser desvendado, assuntos que aticem a imaginação dos recém-chegados. Que não falte lápis, papel e nem personagens interessantes que inspirem novas histórias. Siga em paz, João! Naquele dia não consegui lhe dizer que sou sua fã, mas acho que você me compreendeu.

17 de jul. de 2014

AOS MEUS DESTINATÁRIOS ( Vida e Amor)

Coisa boba e tão comum escrever um desabafo em um pedacinho de papel e depois rasgá-lo, jogá-lo no vaso sanitário, queimá-lo em uma espécie de ritual do fogo, picar o papel tão miudinho que nem mesmo o mais hábil perito técnico possa juntar os pedacinhos.
Ela escrevia poesias, declarações de amor dessas que fingem não ter destinatários. Depois amassava, rasgava e mandava pra dentro da privada.Até que um dia, simplesmente rasgou a poesia em partes graúdas e atirou-a  na lixeira do banheiro de modo descuidado. Pedaços de papel grandes o bastante para que pudessem ser reunidos em partes, tal e qual um quebra-cabeças.
Distraída, sequer reparou nesse detalhe: a palavra “amor” e a palavra “vida” estavam legíveis, íntegras, apesar do recipiente imundo que as acolheu. Quando o lixo foi deixado na calçada, à espera da coleta, um gatinho rasgou o saco plástico à caça de restos de comida. Os pedaços do papel da poesia voaram pela calçada, deslizaram na sarjeta e dobraram a esquina.
No ponto do ônibus estava a Manuela, desiludida e pensando bobagem, quem sabe atirar-se debaixo de um carro, ou tomar veneno? O vento soprou na sua direção e aquele pedacinho de papel escrito “vida” caiu a seus pés. Papel cor-de-rosa, caneta esferográfica azul. Manuela abaixou-se e recolheu o papel. Em seu trajeto até o escritório leu e releu a palavra "vida", enquanto refletia sobre a importância de viver e a tolice que estava prestes a cometer.
E de pensar que uma poesia picotada teria o dom de salvar a vida de alguém? É por isso que tudo o que é escrito com a alma, ainda que não seja publicado, ainda que seja deletado, ou rasgado, tem a missão de despertar sentimentos. Toda poesia tem destinatário certo, ainda que esse destinatário seja um desconhecido.

13 de jul. de 2014

A EXPERIÊNCIA DE TER UM BLOG

Se existe algo que, pra valer, gosto muito e faço sempre, esse negócio é ler. Leio livros, revistas, jornais, blogs, receitas culinárias, bulas de medicamentos, panfletos de propaganda. Leio qualquer coisa.
Assim que comecei a escrever em blogs aprendi que há vida inteligente na internet. Para quem é curioso, basta clicar no alto da página do blog e há um recurso chamado “próximo blog”. Foi desse jeito que encontrei outros seres capazes de escrever poesias encantadoras, cronistas divertidos, pensadores cibernéticos.
Aqui, no Diva Latívia, procuro não abandonar o barco. Há dias de correria, dias nublados e dias nada inspirados. Em contrapartida, há dias de temporal de ideias, dias em que escrevo tanto que o risco é publicar avidamente vários textos novos, todos ao mesmo tempo. Ano após ano, com o direito a quase ter perdido tudo quando um maldito hacker invadiu "minha casa". Sim, isso aqui dá um certo trabalho.
Creio que seja importante manter o blog atualizado. Um tanto decepcionante encontrar um novo blog, bem escrito, mas a última postagem ser tão antiga que resta a dúvida: cadê o autor do blog?
Todo esse trabalho criativo, que deixo aqui aberto à visitação, é um tanto trabalhoso. Cuidar de um blog exige carinho, dedicação, muita responsabilidade também. A divulgação não é fácil, há dias em que os leitores parecem sumir, outros dias em que parecem voltar todos juntos e dispostos a ler publicações de 2010. Inexplicável, recebo muitos elogios, mas poucos comentários são deixados e quase ninguém me segue publicamente.
Quando alguém admira o conteúdo de Diva Latívia e, de modo positivo, critica tudo o que escrevo, costumo manter os pés no chão e afiar ainda mais a minha certeza de que sou mera aprendiz de escritora. O que mudou nos seis anos em que escrevo em blogs foi a qualidade dos textos que navegam no espaço cibernético. Gente que escreve bem, mas nem sempre tem livros publicados. Se eu já tenho um livro? Está a caminho.
Termino o papo com o leitor com a sugestão, quiçá demais generosa: clique no alto da página do meu blog em “próximo blog”. Talvez encontre algo interessante e, se encontrar, divida comigo esse achado. A delícia de nadar neste espaço da internet é descobrir assuntos novos, abraçar igualdades e ampliar os conhecimentos.
Que você sempre volte ao Diva Latívia, um blog que não é um diário,um blog que faz parte da minha vida e que toca o coração de muitos que passam por aqui.  Um blog para quem gosta de ler!

10 de jul. de 2014

AMOR E ROSAS

Calor, amor e flor. Quando o vi ali sentado imaginei um roseiral. Seu olhar sorriu iluminado, meu coração disparou. Passou as mãos pelos cabelos, ajeitou-se na cadeira. Pude tocá-lo e sentir o seu perfume.
Ao redor tudo desapareceu e deu lugar à tarde azul. Rosas cor-de-rosa, brancas e amarelas. Meu vestido mais bonito, laço de fita nos cabelos, flor e sol.
Beijei seu olhar e abracei o seu sorriso. Um sonho florido de múltiplas cores, essência rosada, perfume de nós. Pétalas vermelhas em um lindo jardim. Amor delicado de almas afins.

1 de jul. de 2014

A TRISTEZA É CHICLETE GRUDADO EM MIM

Seu consolo era a leitura, de que outra forma poderia superar o amargo sabor do adeus? Zé, ai o Zé! Todo homem deveria ter um selo de garantia, todo amor deveria ter prazo de validade. Como sobreviver ao fim do namoro? Mergulhou na leitura, os livros eram companheiros certos que nada pediam, senão os seus melhores sentidos. Debruçou o olhar sobre essas palavras: “Tristeza é chiclete grudado no coração da gente, pega e não solta, doce que perde o gosto, coisa que não larga e parece não ter mais fim”.
As palavras encontradas no livro a fizeram cuspir a goma de mascar insípida e descolorida que há horas mastigava. Tristeza sem fim? Pois sim! Quem escreveu aquilo sequer poderia imaginar quem era o Zé Alfredo e o mal que aquela criatura carregava dentro de si.
O Zé era seu vizinho de muro. Cresceram juntos, estudaram na mesma escola, trocaram o primeiro beijo, inventaram as primeiras juras de amor e foram eles dois que protagonizaram o primeiro fora, o primeiro pé na bunda, o primeiro adeus. O Zé e seu olhar esverdeado, seus cabelos desalinhados, sua barba por fazer. Como esquecê-lo?
Desde o dia da despedida, quando terminaram o namoro em meio a desaforos e gritaria, a tristeza invadiu sua vida: desdita colada ao seu cotidiano, um grude que impedia seus passos livremente.
Assim foi até que ele apareceu sorrateiro, na maior cara de pau. Como se nada tivesse causado aproximou-se de repente, deu-lhe mais um beijo redentor. Feito chiclete de bola, ela se encheu toda. Sim, o maior mulherão da estratosfera, com mil metros de altura e dez centímetros de cintura, foi desse jeito que ela se sentiu: explodiu no ar de incontida felicidade.  Pegou o caderninho de anotações e escreveu assim: “Ai, a vida, a vida é bala de goma com sabor de abacaxi”.
Cuspiu o chiclete de bola e fim!
Plóc!

FORA DE SI, SIMPLESMENTE ( SOBRE A TAL FELICIDADE)

A felicidade escapa entre letras, enquanto a inspiração rabisca versos. Encanta-se nas páginas de um romance açucarado. É saboreada entre golinhos de café e no calor do abraço que entrega afeto. É caminho reto que pulsa quente, latente. Fora de si, simplesmente.
Ser feliz equivale a uma prece, se realiza entre milagres breves, entre beijos sob o cintilar das últimas estrelas. Ser feliz é admirar o amanhecer e nele guardar a mais doce esperança, repousar nos acordes da canção que nina as lembranças. É prosa correspondida, às vezes palavras sem resposta e lançadas ao vento.
A felicidade é um laço de fita que enfeita o coração da gente. Sentimento embalado em sonhos e desembrulhado em contentamento.