Já passava das duas da tarde quando a fome gritou zangada: -
hora de almoçar!
São Paulo aos domingos, restaurantes aos montes. Escolhi o
restaurante que meu estômago encontrou primeiro. Lotado! A espera por uma mesa
foi um tanto demorada, lembro-me que famílias com crianças pequenas permaneciam
sentadas em mesinhas na calçada, entre risos e choramingo dos pequenos. Lá
pelas tantas consegui a esperada mesa, um bom lugar próximo ao buffet de
saladas.
Certamente, pedi uma cerveja, essa a boa pedida que sempre faço.
Como sempre, meu olhar começou a girar 360 graus, a buscar elementos para a
minha criação blogueira. Algo involuntário, sou meio "voyeur" ( isso já me causou problemas). Dessas cenas
cotidianas, vez ou outra, capturo inspiração para meus textos. Não sei mais o
que escolhi no menu, possivelmente massa – sou avessa às carnes em geral. Devo
ter dispensado a sobremesa, o sentimento de culpa pós-gulodice costuma atacar
nesse doce momento. O café bebi sem açúcar, isso faz parte da culpa.
Meu olhar giratório pousou na mesa ao lado. Ali estava
alguém que reconheci imediatamente: o escritor João Ubaldo Ribeiro. Vestido de
um jeito despojado, estava desacompanhado. Meu olhar rodopiante encontrou seu
olhar curioso. Os mortais ao nosso redor lá estavam a ser duplamente analisados,
suas vidas a ser imaginadas. De repente éramos os dois a nos observar.
João depositou seu olhar em mim longamente. Por fim, sorriu
discretamente e acenou. E eu, tímida e cheia de reverência, devolvi o sorriso,
paguei a conta apressada e fui embora. Senti o olhar do escritor a me seguir. Feitiço
virado contra a feiticeira, ser capturada pela curiosidade do ilustre escritor me deixou
sem graça.
Esse um episódio que nunca esqueci, gosto de literatura e
aprecio os escritos de João Ubaldo. Espero que no Céu exista muito a ser
desvendado, assuntos que aticem a imaginação dos recém-chegados. Que não falte
lápis, papel e nem personagens interessantes que inspirem novas histórias. Siga
em paz, João! Naquele dia não consegui lhe dizer que sou sua fã, mas acho que você me compreendeu.
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