Seu consolo era a leitura, de que outra forma poderia
superar o amargo sabor do adeus? Zé, ai o Zé! Todo homem deveria ter um selo de
garantia, todo amor deveria ter prazo de validade. Como sobreviver ao fim do
namoro? Mergulhou na leitura, os livros eram companheiros certos que nada
pediam, senão os seus melhores sentidos. Debruçou o olhar sobre essas palavras:
“Tristeza é chiclete grudado no coração da gente, pega e não solta, doce que
perde o gosto, coisa que não larga e parece não ter mais fim”.
As palavras encontradas no livro a fizeram cuspir a goma de
mascar insípida e descolorida que há horas mastigava. Tristeza sem fim? Pois
sim! Quem escreveu aquilo sequer poderia imaginar quem era o Zé Alfredo e o mal
que aquela criatura carregava dentro de si.
O Zé era seu vizinho de muro. Cresceram juntos, estudaram na
mesma escola, trocaram o primeiro beijo, inventaram as primeiras juras de amor
e foram eles dois que protagonizaram o primeiro fora, o primeiro pé na bunda, o
primeiro adeus. O Zé e seu olhar esverdeado, seus cabelos desalinhados, sua
barba por fazer. Como esquecê-lo?
Desde o dia da despedida, quando terminaram o namoro em meio
a desaforos e gritaria, a tristeza invadiu sua vida: desdita colada ao seu
cotidiano, um grude que impedia seus passos livremente.
Assim foi até que ele apareceu sorrateiro, na maior cara de
pau. Como se nada tivesse causado aproximou-se de repente, deu-lhe mais um
beijo redentor. Feito chiclete de bola, ela se encheu toda. Sim, o maior
mulherão da estratosfera, com mil metros de altura e dez centímetros de
cintura, foi desse jeito que ela se sentiu: explodiu no ar de incontida
felicidade. Pegou o caderninho de
anotações e escreveu assim: “Ai, a vida, a vida é bala de goma com sabor de
abacaxi”.
Cuspiu o chiclete de bola e fim!
Plóc!
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