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No dia em que ele ficou com ares de quem estava hipnotizado, defronte ao notebook, fiquei furiosa. Não, ele não estava paquerando outra, nem estava vendo mulher pelada em algum site de gosto duvidoso. Divo Latívio estava buscando um novo carro naquele tal mercado, aquele que vende de tudo e onde se vende de tudo. Um Jeep, tinha que ser esse o modelo de seu novo “possante”. A ideia pareceu inocente a princípio. Um Jeep, para passear no bosque em finais de semana, assim imaginei. A minha imaginação parece tomar fermento!Seria um convescote daqueles com direito a toalhinha xadrez de vermelho e branco, cestinha de vime contendo sanduíches de atum e guaraná zero. Doce ilusão diet! Divo não pretendia levar-me a um picnic. Uniu-se aos irmãos e, em sociedade, escolheram pela foto na “net" um modelo de cor laranja, ano 64. Achei esquisito, mas ele é teimoso e, parece, essa característica faz parte do DNA de seus parceiros de compra.
Voto vencido, resignada, fui convidada para ir buscar o carro na concessionária. Lá estava ele, ao lado de uma BMW que deve ser o sonho de 99% da população mundial. Ali , gorduchinho, bem ao lado de tamanha formosura, jazia o Jeep. Laranja, realmente ele era bem laranja! Em sua lataria tantos adesivos que havia até mesmo propaganda de uma oficina mecânica e outra da Perdigão, bem em cima do capô. Parece que o vendedor mandou lavar a coisa, mas a sujeira era tanta, que nem mesmo deixando o bicho de molho em solvente aquele grude dos decalques conseguiria ser eliminado. Sujo, tudo muito sujo!
Assustada, preferi deixar Divo sozinho conduzir o carro até o estacionamento. Percorri todo o trajeto no carro de um dos cunhados, para onde corri bem depressa. À frente ia Divo e seu Jeep laranja, espantando os demais motoristas que pareciam querer esquivar-se de sua companhia, era um tal de carro desviando que só mesmo se houvesse um vídeo eu poderia mostrar a situação a vocês. Eis que reparei em um detalhe: o Jeep soltava óleo. Um fio grosso e contínuo deixado no asfalto. Quando parou no posto de gasolina, para abastecer, deixou seu rastro. Pude notar os frentistas apressados, jogando água para limpar a sujeira. Precisou ser conduzido à oficina mecânica e lá permanece, para revisão total. Foi por mim batizado: o Poçante Beethoven. Cada curva uma poça, cada parada um conserto.
Estava tão empolgadinha, foi então que descobri que Divo não pretende levar-me a um picnic, o que ele deseja realmente é fazer trilha, enfrentar ribanceiras, lamaçais e pirambeiras. Ah, Serra do Tereré, você um recanto tão romântico. Posso imaginar a situação: Diva coberta de lama e espantando mosquitos! Faminta, sedenta, desidratada! Talvez, devido à inexperiência de Divo, a gente se perca na selva! Entre onças e jararacas, sequer sinal de celular haverá! Precisaremos de resgate aéreo e apareceremos naquele telejornal: - Atenção comandante Wilton, o que está acontecendo aí na tela? – É um Jeep laranja atolado na lama, Patena! E tem uma loira acenando pra gente!
Que vexame! Tudo o que eu queria era sentar sob uma árvore, usando chapéu de aba larga, vestidinho floral e esvoaçante. Divo, com sua bermuda branca e boné azul marinho, galante e sorridente, provando quitutes deliciosos em nosso convescote. Agora, tudo atolado na lama dos meus planos. Resta saber o que vai realmente acontecer quando o Jeep voltar da oficina. Espero que essa tal de trilha seja algo leve, sem muitos solavancos e sem grandes surpresas. De preferência em estradas asfaltadas, bem sinalizadas e sem curvas sinuosas. Quem sabe ele decida colocar ar condicionado no Poçante? Um GPS?
Creio, não nasci pra sofrer. Ainda penso na BMW, com aquela sim, eu faria trilha sem reclamar. Fazer o quê? Cada princesa tem a carruagem que merece! E “vambora” de Jeep!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
26 de jun. de 2011
O "POÇANTE" BEETHOVEN
No dia em que ele ficou com ares de quem estava hipnotizado, defronte ao notebook, fiquei furiosa. Não, ele não estava paquerando outra, nem estava vendo mulher pelada em algum site de gosto duvidoso. Divo Latívio estava buscando um novo carro naquele tal mercado, aquele que vende de tudo e onde se vende de tudo. Um Jeep, tinha que ser esse o modelo de seu novo “possante”. A ideia pareceu inocente a princípio. Um Jeep, para passear no bosque em finais de semana, assim imaginei. A minha imaginação parece tomar fermento!Seria um convescote daqueles com direito a toalhinha xadrez de vermelho e branco, cestinha de vime contendo sanduíches de atum e guaraná zero. Doce ilusão diet! Divo não pretendia levar-me a um picnic. Uniu-se aos irmãos e, em sociedade, escolheram pela foto na “net" um modelo de cor laranja, ano 64. Achei esquisito, mas ele é teimoso e, parece, essa característica faz parte do DNA de seus parceiros de compra.
Voto vencido, resignada, fui convidada para ir buscar o carro na concessionária. Lá estava ele, ao lado de uma BMW que deve ser o sonho de 99% da população mundial. Ali , gorduchinho, bem ao lado de tamanha formosura, jazia o Jeep. Laranja, realmente ele era bem laranja! Em sua lataria tantos adesivos que havia até mesmo propaganda de uma oficina mecânica e outra da Perdigão, bem em cima do capô. Parece que o vendedor mandou lavar a coisa, mas a sujeira era tanta, que nem mesmo deixando o bicho de molho em solvente aquele grude dos decalques conseguiria ser eliminado. Sujo, tudo muito sujo!
Assustada, preferi deixar Divo sozinho conduzir o carro até o estacionamento. Percorri todo o trajeto no carro de um dos cunhados, para onde corri bem depressa. À frente ia Divo e seu Jeep laranja, espantando os demais motoristas que pareciam querer esquivar-se de sua companhia, era um tal de carro desviando que só mesmo se houvesse um vídeo eu poderia mostrar a situação a vocês. Eis que reparei em um detalhe: o Jeep soltava óleo. Um fio grosso e contínuo deixado no asfalto. Quando parou no posto de gasolina, para abastecer, deixou seu rastro. Pude notar os frentistas apressados, jogando água para limpar a sujeira. Precisou ser conduzido à oficina mecânica e lá permanece, para revisão total. Foi por mim batizado: o Poçante Beethoven. Cada curva uma poça, cada parada um conserto.
Estava tão empolgadinha, foi então que descobri que Divo não pretende levar-me a um picnic, o que ele deseja realmente é fazer trilha, enfrentar ribanceiras, lamaçais e pirambeiras. Ah, Serra do Tereré, você um recanto tão romântico. Posso imaginar a situação: Diva coberta de lama e espantando mosquitos! Faminta, sedenta, desidratada! Talvez, devido à inexperiência de Divo, a gente se perca na selva! Entre onças e jararacas, sequer sinal de celular haverá! Precisaremos de resgate aéreo e apareceremos naquele telejornal: - Atenção comandante Wilton, o que está acontecendo aí na tela? – É um Jeep laranja atolado na lama, Patena! E tem uma loira acenando pra gente!
Que vexame! Tudo o que eu queria era sentar sob uma árvore, usando chapéu de aba larga, vestidinho floral e esvoaçante. Divo, com sua bermuda branca e boné azul marinho, galante e sorridente, provando quitutes deliciosos em nosso convescote. Agora, tudo atolado na lama dos meus planos. Resta saber o que vai realmente acontecer quando o Jeep voltar da oficina. Espero que essa tal de trilha seja algo leve, sem muitos solavancos e sem grandes surpresas. De preferência em estradas asfaltadas, bem sinalizadas e sem curvas sinuosas. Quem sabe ele decida colocar ar condicionado no Poçante? Um GPS?
Creio, não nasci pra sofrer. Ainda penso na BMW, com aquela sim, eu faria trilha sem reclamar. Fazer o quê? Cada princesa tem a carruagem que merece! E “vambora” de Jeep!
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